Domingo passado, eu falei sobre Nelson Mandela. Não imaginaria que alguns dias depois um dos maiores seres humanos do planeta nos deixaria e partiria em paz, mesma paz esta que lutou a vida inteira para que o mundo tivesse a coragem de multiplicá-la. Madiba deixa a terra com a missão cumprida. Dizia que a educação e o ensino eram a arma mais poderosa para mudar o mundo. Eu vou além. Nelson Mandela era a nossa arma mais potente para tornar o mundo um lugar mais igual. Procurar palavras para descrever um líder humano deixa-me emocionado. A pureza com a qual dizia palavras objetivas, diplomáticas, defensivas e ousadas faziam-se geniais no contexto do sentido pelos quais direcionava-se tais pensamentos. Falava em violência com a mesma força que fala igualdade, paz e harmonia. Ensinamentos de um homem que calou o mundo sem dizer uma só palavra ao mesmo, enquanto esteve preso por 27 anos. O seu gesto silenciou até o mais aguerrido fã do apartheid. Calado na prisão, Mandela já poderia ser visto atrás das grades como um presidente. Não como o primeiro presidente negro da África do Sul, que viria a ser. Mas como presidente de todas as nações. De todos os países, que lutaram apenas por poder, política e questões territoriais, durante séculos. Ele lutou por uma causa acima de todas. Por isso ele é o presidente de todas as nações, todas as raças, cores e idiomas. Não se via maldade em seu olhar. Suas têmporas passavam ternura, humildade e entendimento de situações.
Há 03 anos, após ver o filme Invictus, que conta a história de Nelson Mandela já como presidente da África do Sul e seu envolvimento com o esporte, eu escrevi uma crônica sobre Mandela. E repasso aqui um trecho do qual meus olhos não conseguiram passar imunes à emoção:
“... Madiba em seus dias de inglória na prisão, disse que nos dias em que queria deitar,lia o poema Invictus, e que quando caía, lia-o e levantava como a força que nunca antes teve (...) Trecho de Invictus, de William Ernest Henley”:
...Nas garras do destino e seus estragos,
Sob os golpes que o acaso atira e acerta,
Nunca me lamentei - e ainda trago
Minha cabeça - embora em sangue - ereta...
... Por ser estreita a senda - eu não declino,
Nem por pesada a mão que o mundo espalma;
Eu sou dono e senhor de meu destino;
Eu sou o comandante de minha alma.
Pacientemente por 27 anos, Madiba leu e releu este trecho e nele tirava forças para o amanhã, mesmo temeroso, de que o amanhã pudesse não haver um Sol igual para todos. Em 1993 recebeu o prêmio Nobel da Paz por toda a história de luta contra regimes separatistas e segregações impuras. Sem perceber, pois nunca fora do seu feitio, Nelson Mandela construiu uma trajetória invejável sem que ninguém sentisse inveja de seus atos ou atitudes. Nossa maior vontade é simplesmente de aplaudir, aplaudir e aplaudir um dos seres humanos mais espetaculares que vimos por aqui. E graças a Deus, fomos contemporâneos. Tocamos a história ao vivo. Daqui 100 anos falarão de Mandela como um marco na história do mundo. Sem percebemos, o homem já vestia a roupa de mito, sendo maior que a sua própria lenda. Não digo “vá em paz Nelson”. Provavelmente, ele deve ter ido, deixando a paz com todos nós.
Phelippe Duarte – Cronista e poeta
Edição Nº 14875
Madiba 2
Phelippe Duarte
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