Phellippe

Na Província de Pontevedra, nos arredores de um vilarejo chamado Covelo, na Espanha, muito se admirasse um homem vindo de lá cair justamente pelas terras de Imperatriz. Conto de fadas? Destino? Ousadia? Dúvidas frequentes de grandes histórias das quais homens escreveram seu próprio destino, seguindo suas leis de coragem e virtude, respeitando as do próximo como se também fossem suas. Lá de Covelo, Nordeste da Espanha. Um pueblo. Do outro lado vindo pro lado de cá, Imperatriz-Maranhão, Nordeste do Brasil. Jaime Cal Gil. Um homem que escreveu sua história sem imaginar a proporção que sua grandeza traria. Imigrante, veio da Espanha aos 17 anos, veio para tentar a sorte. Não, sorte não. Sorte é para aqueles que esperam as coisas acontecer. Que acordam, esperando que batam à sua porta. Jaime, obstante do medo, armado de coragem, trabalhou. Arregaçou as mangas. Fixou moradia. Coisa de homem. Não de quem tem sorte.
Casou-se com Maria Elena. Tiveram três filhos, André, Ana e Adriano, estes últimos gêmeos, mas com a diferença de que somente na hora do parto é que Maria Elena soube que carregara por nove meses o casalzinho. Para ela e Jaime, carinhosamente chamado por ela de Kinho, a vida não poderia ter dado surpresa maior e melhor. Em Imperatriz e ao longo da vida, Jaime fez muitos amigos. Do mais humilde ao mais rico. Do mais feio ao mais bonito. A sua educação e humanidade não distinguiam cores ou extratos bancários. E passou este mesmo sentimento de valores e virtudes para seus filhos, sem nenhum esforço. Exemplos íntegros são fáceis de seguir. Quando você olhava para Jaime Cal Gil, percebia o quão reservado este homem era. Distinto, palavras rápidas pelo portunhol incisivo e direto. Um dos empreendedores que mais contribuiu com o desenvolvimento econômico empresarial de Imperatriz, mas poucos sabem disso. Viu a nossa cidade crescer aos poucos, fomentando emprego e renda para muita gente. Mas, mesmo assim, poucos sabem disso. Pois o império que Jaime construiu não se denomina na palavra negócios. Define-se como família: o maior império que um homem pode ter. E ele teve. Eu conheci Jaime Cal Gil através dos seus filhos, que considero irmãos pra mim. Posso descrever como um homem muito simples, mas à altura de qualquer outro nome ou personalidade. Pois apresentava o diferencial da educação, do cordial, do simples cumprimento de um bom dia. Recebia pessoas na sua casa junto a Maria Elena como se fossem seus próprios filhos. Um tratamento totalmente diferenciado, que o fazia mais admirável do que poderia ser. Algumas pessoas se assustam quando veem alguém diferenciado. Eu procurava aprender observando suas atitudes quando fui hóspede de Jaime durante dez dias em Salvador. Pra falar a verdade, não me senti hóspede. Senti-me de casa. Jaime Cal Gil deixa esposa, Maria Elena, seus filhos, André, Ana e Adriano, a nora Thais Cruz Muiños e o genro Marcelo Corbacho. Deixa duas netas lindas de viver, Alicia Cruz Muiños e Isabela Cruz Muiños, e o pequeno e ainda no ventre da mamãe Ana, Rafael.
E você me pergunta como Jaime Cal Gil nos deixou? Eu respondo: do jeito que quis. Caminhando em sua cidade natal, andando sem pretensão de chegar a lugar algum. Andou tanto na vida. Conheceu tantos lugares. E descansou. Foi achado caído com a mão no peito, ao lado da Capela em que costumava ir. Caído. Mas caído sem nunca ter sentido em toda a sua vida, nem em seu último suspiro, o sabor do chão.
Jaime foi do jeito que Deus quis. E deixou o maior ensinamento para sua família e amigos: nós podemos ser tudo sem sermos nada.
Que Deus abençoe a família de Jaime Cal Gil, que agora viverá no amor que os une.
Amém.

Phelippe Duarte
Cronista e poeta