Se prestarmos bastante atenção ao nosso redor em um dia complicado, nós vamos observar que tudo está completamente igual como antigamente. O céu, as árvores, o dia, a noite. O que muda são as pessoas, os carros, as casas, os prédios, os bairros, as ruas, avenidas... A cidade muda. Tudo de belo ao nosso redor, não. O clima em cada mês que identifica o mesmo, o Sol característico de maio, as chuvas do final do ano. O cheiro de Natal que se aproxima. E nós vamos em frente, seguindo a linha reta traçada por nós. Mas a época romântica de Imperatriz acabou? Na década de 80 e até final dos anos 90, existia uma magia na noite da cidade, na turma de antigamente. Quando meus pais saíam para o Fly Back, parecia que o mundo girava em torno daquela mística boate. O envolvimento das pessoas era diferente. Eram mais amigas, mais parceiras. O interesse comercial adivinha da amizade, e não ao contrário, como se vê mais nos dias de hoje. Pelo menos, é o que eu sinto.
Não vou comentar das músicas de antigamente, porque seria uma covardia com as coisas que chamam de música hoje em dia. Os dances tinham letras, ritmos, ficavam eternizados, como são. Hoje é bunda e perna rimando com chão chão chão. Ou aqueles bate estacas, como dizia meu pai. Tunts, tunts, tunts. Um horror. Se puxar, então, aqui música x música, a geração romântica de Imperatriz ganha com sobras. Os barzinhos pareciam decorados com um charme único. À noite, escutava-se clássicos da MPB, ou músicos de destaque da região, como Erasmo Dibell ou Lenna Garcia. Pra dançar, era a boate. Pra sentar e conversar, os bares. A noite conseguia envolver-se num romantismo, que só quem viveu a época sente uma saudade insana. Os clubes viviam sem auge, em especial o Juçara Clube, que marcou muitas gerações de várias famílias. Chegavam pela manhã no Juçara, iam em casa apenas para colocar a roupa da boate, voltando para o clube, e divertindo-se até altas horas. Minha casa vivia cheia de amigos dos meus pais, fazendo aquele conhecido esquenta para shows ou saídas noturnas. Grandes momentos foram registrados no Juçara. Bailes de carnavais, réveillons, campeonatos esportivos de todas as modalidades... muitos sonhos nasceram ali. Muitos sonhos nasceram nessa década.
Hoje o que vemos é uma noite que talvez não seja menos romântica, mas que não tem mais o colírio especial nos olhos. A noite resume-se a pouco. Mudamos muito como cidade, como estrutura política e econômica. Mas lembrem-se que não saímos do lugar. Ainda estamos em Imperatriz. Aquela cidade do lado do Rio Tocantins, hoje castigado, seco, de tantas lágrimas derramadas. Carregando no alto, acima das fronteiras, o pôr do sol que encantou todas as gerações passadas e ainda faz alguma magia na nova geração. Cada década tem sua história, suas conquistas, seus romances. As pessoas mudam de acordo como o mundo gira, como a globalização e o comércio engrenam a parte social de toda essa estrutura. Não podemos comparar passado com o presente. Mas podemos aprender com as coisas boas do passado para termos um futuro decente. Não é saudosismo, nem falta de assunto hoje. É a realidade de quem sabe que podemos ser mais como cidade, porque somos parte do que nossos pais fizeram ontem, e que agora, queremos deixar para nossos filhos. A nossa Imperatriz não mudou. As pessoas mudaram e a moldaram de acordo com as necessidades que o tempo e a nova geração pediam. Olho para o céu e vejo o mesmo azul. Sinto o mesmo vento, o mesmo cheiro ao meu redor. E, ao mesmo tempo, sinto que o tempo passou deixando saudade e a certeza de que podemos ser melhores hoje para amanhã também sentirmos falta de uma época boa. Vivam o hoje! É a base de um futuro bom.
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