Meus pêsames a Lula. Não poderia deixar de ser diferente o início deste texto. Sua esposa, fiel companheira, a primeira pessoa a costurar a bandeira do PT, que iniciou ao lado do marido, o processo de luta das classes trabalhadoras do interior de São Paulo. Quando Lula foi preso (sim, ele já foi), Marisa dedicou-se a fazer passeatas com outras mulheres, esposas dos outros sindicalistas, pela libertação dos mesmos. Centenas de mulheres e crianças nas ruas, pedindo que os seus guerreiros fossem soltos. E, de fato, foram, para mudar a vida política do Brasil.
Lula teve em sua esposa um esteio para respirar e sobreviver na vida pública. O torneiro mecânico sabia que, com ela do lado, poderia dedicar-se ao meio que via como uma forma de mudar a vida das pessoas, inclusive e principalmente, a sua. Marisa cuidando dos filhos e Lula nas ruas, se candidatando à Presidência da República por quatro vezes, até ser eleito em 2002, quando Marisa, enfim, com os filhos adultos, pôde estar ao lado do marido nas eleições.
É sempre reflexivo quando perdemos uma pessoa que amamos e que sempre nos acompanhou a vida inteira. Começamos a pensar o porquê de perdermos essa pessoa, e os motivos ou situações que pudessem contribuir com um final às vezes prematuro, por vezes, porque foi chegada a hora. Lula, na sua luta diária em provar uma inocência aos olhos do país, contra os cinco processos que responde, deu uma declaração no mínimo curiosa sobre a morte cerebral da esposa: “A pressão e a tensão fazem as pessoas chegarem ao ponto que Marisa chegou”. Outro diretor do Instituto Lula chegou a dizer que “as perseguições da Lava Jato têm culpa na morte de Marisa”. Para lembrar, ela também sai na lista de denúncias da Operação, em março do ano passado.
Acredito fielmente que o momento é de pesar. E que Lula, se deu a entender que faria disso uma bandeira contra os seus possíveis e notórios crimes, demonstra ser um canalha acima de qualquer derivado advindo da palavra bandido. Se ele falou no sentido da preocupação da mulher, em relação aos seus problemas políticos e pessoais, não teria tanto peso quanto a declaração dúbia que deu. Mas os seus seguidores não. Estes, sim, confundem mar e rio. Tentarão daqui uns dias, ou meses, enraizar esta ideia na cabeça dos últimos petistas existentes no país. Talvez, nas eleições de 2018, Lula, se realmente tiver a coragem de se candidatar à presidência, ultrapassando até a cara de pau de Maluf, o PT possa articular um jeito de usar isto como arma. Eu espero estar totalmente e redondamente enganado. Só não duvido nada.
Um fato que sensibilizou no meio da notícia triste da morte da ex-primeira-dama parece que serviu para estagnar um pouco o ódio político que vive o Brasil. Fernando Henrique Cardoso apareceu no hospital em que a família Lula da Silva estava e levou suas condolências através de um abraço demorado no desafeto político, que, quando da morte de Ruth Cardoso, em 2008, ainda presidente, afagou a dor de FHC quando este precisou. Mostraram que, acima da politicagem, existe ainda um mínimo de bom senso, pelo menos um com o outro. Já dos seus partidos, não há fato recente de troca de beijos e abraços. A realidade é que muita gente morre de AVC no mundo inteiro, e uma dessas vítimas foi Marisa Letícia. Mãe, esposa, cúmplice da vida do marido. Vida esta que a história irá julgar. Mas em que nenhum momento irá comemorar a dor de uma partida.
Edição Nº 15815
A força de Lula morreu
Phelippe Duarte
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