Meu filho cresce de uma maneira tão espetacular que eu às vezes me emociono com as situações mais simples de um convívio puro com uma criança. São frases meio bobas que, ao mesmo tempo em que nós as escutamos, viramos crianças e falamos e nos comunicamos como elas. O sentimento de proteção de um pai é proporcional ao sentimento de proteção que a mãe oferece quando o filho está na barriga. Eu protejo meu filho até de mim. É que dá vontade de apertar tanto... mas a gente se segura.
Quando saio pro trabalho e vejo aquele rosto lindo dormindo, é nele que foco para o meu dia ser o melhor possível ou que, pelo menos, eu seja merecedor de fazer o melhor para que o meu filho tenha o melhor em amor e atitudes dignas. Sinto que deixo um anjo em casa. Mas como sou o anjo da realidade dele, tenho que sair para formar o futuro dele, sem mesmo que ele saiba ainda a noção total do que acontece a sua volta.
Chego para o almoço e a alegria dele é constante. Pula, grita, me chama pra dançar, joga em mim várias bolas coloridas e sempre quer brincar de luta com os bonecos do Hulk, Homem Aranha, Batman e o Homem de Ferro, que ainda não comprei, mas já ensinei pra ele como falar: “Feo”, ele diz. O Hulk, nas palavras dele, fica fraco. Vira o Huch. O Homem Aranha, coitado, vira o Mamanha, nem teia deve ter, de tanto tapa que leva. Mas o Batman vira, realmente, o Batman! Só que, como eu gosto de ensinar algumas coisas meio doidas pra ele, no final ele canta a trilha daquele seriado dos anos 60: “Batman, tanãnãnã”. Bom, a melodia fica a cargo da sua imaginação, mas sei que é lindo demais ele cantando.
Depois dessa confusão toda, o almoço fica pronto. Lá vem Benício gritando: “Papai, almoxar, almoxar”. A dádiva do almoço na mesa é sagrada, e torna-se um bem mais precioso quando meu filho me convida para isso. É apaixonante o modo como ele fala, como anda, como brinca, como age. Uma criança abençoada por Deus de tal maneira que eu não poderia ter recebido melhor presente como pai na minha vida. Ele até veio parecido demais comigo, mas foi só o jeito carinhoso como ele foi feito, não tenho culpa. E, claro, a culpa é dela, da minha esposa, somente ela poderia me dar um filho daquele jeito: Parecido comigo e louco por ela. Igual o papai! Quando vê a mãe... nem quer saber de mim. Quando vê a avó.... esquece que eu existo. Na hora das loucuras, daquela fixação em pular, querer voar sem asas, ele me chama. E eu vou, pois sou o cara que em cada fase da vida dele irá ensinar as melhores loucuras de cada época e as responsabilidades que a vida nos dá e que temos que agarrar para virarmos homens íntegros. Não há sensação melhor do que a de ser pai. Eu sou um pai feliz, pois tenho um filho. Simplesmente, porque tenho um filho, privilégio de Deus. Também nunca houve sensação melhor do que a de ser filho do meu pai. Fui um filho feliz, simplesmente, porque fui filho dele. Se ele estivesse por aqui fisicamente e não espiritualmente, diria que seria um avô raro, daqueles que acabaria olhando para trás e que gostaria de recuperar com o neto o tempo que, às vezes, não passou com o filho, brincando, jogando bola... e claro, assim como minha mãe, meu pai esqueceria de mim, por ele. Por que um neto, uma criança, toma o nosso lugar, em todos os sentidos.
O filho é que sai de casa cedo pra trabalhar. Ele que faz as compras de casa. É o meu filho que toma pancada na rua, mas levanta a cabeça, sabendo que tudo dará certo no final. Ele suporta o peso da vida, para me dar o oxigênio necessário para respirar. Assim como eu fiz por meu pai, o meu filho faz por mim.
Por que tudo o que vivemos e somos, é por nosso filho. Meu pai fazia tudo por um filho. Eu faço tudo pelo meu filho. Todas as nossas ações passam a ser por eles. Pois o filho é o pai, através do amor que o pai tem por ele, na busca de lhe dar o melhor sempre. Isso nos move. Nos ressuscita, mesmo em vida. Envaidece, purifica.
Que saudade do meu pai. Que amor tamanho eu sinto pelo meu filho. Agora eu compreendo muitas coisas. Agora eu compreendo o verdadeiro amor.
Edição Nº 15377
Filho e pai
Phelippe Duarte
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