Não sei bem quando ela nasceu. Dizem alguns fervorosos que quando Caim matou Abel, isto sendo colocado como o primeiro assassinato do mundo, ela já rondava no seu destino de sangue. Mas não falaremos de tempo, e sim de casos específicos. Aqui em Imperatriz, quando fez 15 anos, a impunidade comemorou como uma criança. Sorria pelas paredes, e não entre as 04 paredes. Viu o Sol redondo e nunca quadrado. Ela, esquivando-se sempre, articula-se na política e no apontar de um gatilho, sem consciência, sem temer consequências. Quando fez 15 anos, ninguém tinha sido preso. Foi o melhor presente para ela.
Impunidade.
Depois de completar 18 anos no dia 06 de outubro de 2011 pelo assassinato de Renato Cortez Moreira, a impunidade comemora mais um presentão. Saldo do assassinato: Salvador Rodrigues, visto como um dos mandantes do crime e que assumiu o cargo com a morte de Renato, foi julgado e condenado pelo júri popular a 18 anos e 9 meses de reclusão, mas na época do julgamento, ganhou o direito de recorrer da sentença em liberdade. Outro que comemorou junto à impunidade foi Geraldo Hipólito, onde a punibilidade, que fora posteriormente extinta pela prescrição, pois o acusado já possuía mais de 80 anos de idade quando de sua pronúncia, acabou sendo esquecido totalmente deste caso. Ainda no processo, a 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Maranhão (TJMA) acolheu recursos de embargos de declaração de Ronaldo Machado Arantes e Damião Benício dos Santos, outros dois acusados da morte do eterno prefeito, em outubro de 1993. A votação unânime determinou o retorno dos autos à Justiça de 1º grau, para que o juiz de primeira instância reinicie a instrução do processo. A impunidade até que sentiu os penetras na sua festa de aniversário, mas de nada adiantou. Livre, assim como os acusados que respondem ao processo em liberdade, a impunidade descansa em um túmulo da família Moreira. Passados 18 anos, nada aconteceu que possamos chamar de justiça. O mármore destacado no centro do Mercado Municipal Bom Jesus, onde Renato foi brutalmente assassinado, tem escrito: “neste local,tombou ao defender seu povo, às 06:30, vítima da violência do crime organizado vil e covarde, o prefeito de Imperatriz renato cortez moreira”. Isso nós chamamos de homenagem póstuma, e não justiça. Não sei se acho correto ou se um dia acharei esta placa correta. Quando, e se, os mandantes forem presos, estaria escrito no local da prisão “aqui foi preso o fulano de tal, que mandou matar Renato Cortez Moreira por interesses políticos e sujos?”. Bom... minha família entra no mercado e vê a placa. É um túmulo de lembranças sombrias. Um jazigo de 18 anos impune. “É tão estranho, os bons morrem jovens, assim parece ser quando me lembro de você”. Renato Moreira é uma bandeira que se estenderá para sempre como um mártir de não-corrupção e não-aceitação de grupos políticos dominadores. Acredito que Imperatriz teria tomado rumos diferentes, sonhos teriam sido melhor idealizados. Pois como veio do povo e tombou no meio do povo, Renato conhecia seus anseios.
E hoje, ao batermos palmas para a impunidade, o silêncio que nos revolta é simplesmente o de não poder gritar contra a justiça, que tarda e é falha. Prescreve a morte, mas nunca nosso sentimento de que nada mudará. Parabéns impunidade, pelos seus 18 anos de sucesso. Renato Moreira descansa em paz, mesmo com o som de música alta da sua festinha.
Phelippe Duarte
Cronista e poeta
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