Eu não conheci Elvis Presley. No final dos anos 50 e nos anos seguintes, 60 e final dos 70, quando da sua morte, eu não aparecia grudado nem em página de revista playboy ainda. Não tinha noção, mesmo após os anos 90, de quem foi, o que era, de forma quase mitológica, o homem americano que criou interpretações fenomenais para suas músicas e foi um dos fundadores do rock n'roll, tendo maior destaque sempre. A primeira música que escutei de Elvis foi, inclusive, a primeira romântica que ele gravou, em 1956. Love me tender é uma música de Presley que é tão linda que me convidou a conhecer mais a obra do cara. Vasta, não conheço todas, mas foi o suficiente para ter um grande amor pela obra e vida do cantor mais popular de todos os tempos. O homem que vendeu 1 bilhão de cópias no mundo inteiro, até hoje. Há 35 anos, Elvis morria sentado na privada da sua casa, lendo um livro. Às vezes, quando estou na mesma situação, lembro deste fim trágico. Procuro ser bem rápido e deixo pra ler depois. Superstição boba.
Eu não conheci Sebastião Curt. Nunca escutei sua voz nem tenho nada gravado, como imagem ou fotografias do meu lado. Tudo o que eu sei sobre ele é o que minha avó conta ou minha mãe lembra. Não sei o que acontece nestes casos, mas o sangue, a genética se entrelaçam um pouco com um contato que nunca existiu. Como existe amor por alguém que você nunca viu, nunca ouviu e nunca sentiu?Como existe respeito por uma lembrança que não é sua? Como as pessoas conseguem transmitir serenidade e felicidade através dos olhos e fazer com que você sinta o mesmo? Incrível. Sebastião Curt morreu há 35 anos, aos 39 anos de idade. Sofreu um ataque cardíaco fulminante, alguns dias antes da morte de Elvis. Não conheci nenhum dos dois. E se os dois estivessem vivos, eu só conheceria Curt. E pelo que minha avó diz, ele seria um avô sensacional, daqueles que ensinam a fazer várias coisas. Inteligente para mecânica, tinha uma oficina, onde fazia o que queria com as peças de um carro. Uma pena ter ido embora tão cedo, sem conhecer os 10 netos que Deus lhe daria nos anos seguintes. Após sua morte, minha avó criou os cinco filhos, ainda crianças, sozinha, com a força materna, que até hoje nós sentimos cada vez mais viva. Quando Elvis Presley morreu, o mundo inteiro parou. As pessoas ficaram catatônicas, os fãs mais adoradores surtaram um certo tempo. Alguns malucos plantaram a ideia de que o rei do rock não tinha morrido, imortalizando a frase emblemática "Elvis não morreu". "Elvis mora na Argentina". "Elvis mora numa ilha". As pessoas morrem. Os mitos surgem. Lendas perambulam pelo mar da solidão que nos abraça e destroça todos os nossos sentidos, como uma lâmina de fino corte. Posso afirmar que a única forma de sentir saudade do que eu nunca vi é não por fotos, mas quando minha avó fala ou minha mãe comenta algo. Nunca escutei muita coisa, mas quando falam, os olhos ficam diferentes. Há 35 anos, meu avô morria, deixando cinco filhos e esposa. Mas ele não sabe o que deixou de maior importância: o sobrenome dele e o sangue, que carrego com todo amor e carinho.
Pra você Curt:
"Love me tender, Love me sweet.
Never, let me go
You have made my life complete
And I love you so".
Eu Curt Elvis. Mesmo sem conhecê-los.
Phelippe Duarte Cronista e poeta
Edição Nº 14483
Eu Curt Elvis
Phelippe Duarte
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