São não menos vergonhosas, pra não dizer infames, as notícias que do Maranhão são pertinentes, comuns, reais e assustadoras. Nem é o caso de falar sobre família dominadora, monarquia, ditadura, essas baboseiras de apelidos que rondam os Sarney há décadas. Especificamente, fomos atacados injustamente pelo Fantástico novamente. O que tem de errado um deputado estadual ganhar 18 salários mínimos se somos nós que votamos nos caras? A revolta é após a descoberta do assalto organizado. Eu votei em político lá dentro. Também sou um idiota, vítima do sufrágio necessário.
Os coitados não sobrevivem com essa verba. Esses dias passei pela Assembleia Legislativa, em São Luís, e deixei uma nota de dez reais no bolso de um político, todo sujo, pedindo esmola. Ele reclamou, me chamou de sovina. Não vou dizer o nome dele, mas me parecia o político mais necessitado daquela casa política. Se não me engano, ele deu entrevista no Fantástico. Com 18 salários mínimos, você faz muita coisa. Fora os 100 mil reais que estão à disposição para aluguel de carro, viagens, compras de paletós, etc. Ser político é muito fácil. Difícil é ser um pós-eleito. Como um cidadão larga a sua família, o seu emprego, a sua casa, para viver com míseros 20 mil reais mensais? É menos idiota que nós? Ah sim. Trabalhar para o povo, esse é o lema. Entendi. Novamente, sou um grande idiota. Essa grana toda é pra custear gastos que o deputado não pode arcar com seu salário de merda. Explicaremos passo a passo. Auxílio-moradia: Como sabemos, um político mora embaixo da ponte. Precisa deste auxílio para manter-se. Logo, um maranhense que mora num município mais pobre do que o nome pobre já é tem o auxílio... “vote em mim, a sua vida continuará pior”. Os políticos não podem viver sem teto. Precisam da teta do governo.
Ressarcimento de despesas de gabinete: Gente, um deputado estadual precisa comprar canetas, papel timbrado da Assembleia, apontador, lápis, borracha, notebook... não, é caro. Melhor o caderno com 12 matérias. Vejamos... agenda anual, carimbos, pastas, grampeador...ops! Nada de grampo.
Plano de Saúde: Isto, não discuto. Político sem plano de saúde é o mesmo que pobre na fila esperando ser atendido por algum médico, observando o parente morrendo numa maca no meio do corredor de hospital. E, claro, nenhum deputado poderia passar por uma CPI sem plano de saúde.
19 assessores por deputado: Sim, eu não nego, já prestei alguns serviços. Mas não conheci nenhum dos outros colegas de trabalho. Devem ter férias permanentes, trabalhar para um político não é fácil. Sempre tem uma emenda nova. Ou para aumentar as ajudas de custo, ou para financiar alguma viagem pessoal. É toma lá dá cá. Não há $ que escape. Justificativa para os gastos: “Despesas de transporte e outras imprescindíveis para o comparecimento à sessão legislativa ordinária.” ESTADO DE (SEM) VERGONHA! Ordinários. Ordenham-nos como vacas velhas. Impossível completar um tanque do carro ou pagar uma passagem área com o medíocre salário de 20 mil reais e os auxílios-malandragens que chegam a 361 mil reais por deputado estadual ,para chegar a São Luís. Tirem a imagem da cara de pau de um político assumir que não dá para viver com esse dinheiro. Ele só foi a maçã podre que assumiu uma verdade no meio político: Trabalhar e receber o equivalente a quase 548 salários mínimos é inadmissível. Em cima da esperteza, existe a tolice imediata que sofrem os assalariados, estes que choram em campanhas políticas pelos poppolíticosstars: os fãs teriam que trabalhar 42 anos e 02 meses, considerando também o décimo terceiro, para receber o que um deputado estadual maranhense rouba. Quer dizer, ganha. Em 2014, tem mais. Até lá, tentaremos ajudar os pobres coitados com algum sopão ou quem sabe um bingo, num dia ensolarado de sábado.

Phelippe Duarte
Cronista e poeta