Phelippe Duarte
Como já diz a frase, Malandro não para, malandro dá um tempo. Demorou, mas ele voltou. Lula, depois de um tempo de viagens, cuidando da saúde e outras preocupações de total utilidade para um ex-sempre-político-em-atividade, voltou de forma triunfante para as primeiras páginas de jornal. E não foi pelo apreço popular inestimável. O bico de Marcos Valério começa a soltar de leve o que nós já sabíamos.
Álvaro Dias, líder do PSDB no Senado, pronunciou uma frase quase heroica a um dos homens mais sujos em corrupção do país, e olha que nem político Valério é. Diz a frase: "Ouvir Marcos Valério é propor transparência, é colocar todo o fato à luz para que a sociedade possa dele tomar conhecimento". Por outro lado, os petistas continuam com a mesma defesa abstrata, pobre e vergonhosa, que parece humilhar-nos a cada ano que passa, desde que o escândalo veio a público, em 2006. "Lamentável que denúncias sem nenhuma base na realidade sejam tratadas com seriedade". Ora, o presidente do PT nacional, Rui Falcão, aprendeu direitinho como falar, falar e não dizer nada. Presidente, estas denúncias são tão reais quanto a doença de Lula. E se não fossem tão sérias, o senhor está totalmente desrespeitando o STF. Lá, Joaquim Barbosa não condena ladrão de galinhas, cheirador de cola ou assaltante de picolé. Lá a coisa é séria. O processo que chega já é condecorado mais sujo que a ficha desses políticos que se dizem inocentes.
Mas, quando os depoimentos envolvem Lula, as contradições começam. Surgem boatos, conversas paralelas, encontros às escuras em gabinetes e outros chavões peculiares que marcam a história do ex-companheiro na República. Até mesmo os ministros Joaquim Barbosa e Marco Aurélio se esquivam, afirmando que não tomaram nota oficial do novo depoimento que Marcos Valério poderia ter dado ao Ministério Público Federal.
Chamadas pela direção nacional do PT de "mentiras envelhecidas", as declarações dadas por Valério há de se ver que esquecem que "mentiras envelhecidas" são o que houve de mais comum nos anos em que Lula passou pelo Planalto. "Mentiras envelhecidas" são as promessas, as metáforas, o palavreado convicto, as particularidades indevidas que vão ao público e o olhar que diz "eu faço tudo por você", usado pela politicagem que nos governa, que faz de toda a recente história política do país uma tremenda palhaçada.
José Dirceu, condenado a mais de dez anos de prisão, foi o gerente da safadeza que só fora divulgada por Roberto Jefferson após anos e anos de omissão de partidos da minoria, que ficaram de fora do grande esquema. Isso ocorre no Brasil e em qualquer lugar há vários anos: eu te pago e você me protege, ou eu te pago e você me apoia. O que vimos no mensalão fora algo mais organizado, um coronelismo moderno. Comprar votos é requinte antigo, produto de mercearia que não acaba nunca. Mas, ao menos, o coronelismo usava o dinheiro próprio e não o do peão que trabalhava todos os dias.
Lula se vê assim. Intocável, protegido. Barack Obama disse que ele era o cara. Roberto Carlos diz o contrário e, como sempre, é a nossa voz popular em coro alto. Lula terá por mais alguns anos o poder e o prestígio que construiu com muito trabalho, a partir de sua aposentadoria quando ainda era torneiro mecânico. Uma política que o sustenta e o fez rico. Que fez ricos muitos outros políticos, de outros tantos partidos. E nós vivemos da política. A política é a nossa labuta personificada nos eleitos, são eles que decidem os rumos mais interessantes para o país. Vivemos de política. Mas não somos sustentados por ela. O que já é uma vergonha nacional e mundial para os nomes dos petistas e empresários, que ficaram sujos e marcados eternamente na estrela vermelha que tanto brilhou um dia em prol do Brasil.
Phelippe Duarte, cronista e poeta
Edição Nº 14581
A estrela que um dia brilhou
Phelippe Duarte
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