Quando você começa a falar e incomodar demais, especificamente no Brasil, a morte vem rápido. A impunidade consequente dá ao bandido a certeza de que poderá cometer um crime e se esconder como um rato. O resto, a justiça que se vire, pois o problema está resolvido. No país do mimi, do não me toque, dos valores morais esquecidos e dos imorais venerados, a bala ainda come solta, independente do momento atual da nossa sociedade hipócrita. Não somente a vereadora assassinada, que eu conheci somente por ter sido assassinada. Mas pelos professores que quando pedem seus direitos, levam bala, murros, chutes e pontapés. Dos juízes mobilizando-se por privilégios, uma greve recebido com aplausos. Quem vai bater, esmurrar e chutar juiz? Vamos bater em professor e matar vereadora, gente que ensina as pessoas e gente que luta pelos outros! Esse é o nosso país. Uma inversão completa do que já foi ou, na verdade, pensa que já foi. Político safado não morre, se safa ou faz um esqueminha. No país do assassinato impune, fala-se apenas na cirurgia do Neymar e se a Bruna Marquezine está de folga da novela pra cuidar dele. No país do professor que ensina o juiz, fala-se apenas na música estourada do Pablo Vitar, o cantor do ano. Cantora, sei lá. No país sem saúde, sem escolas públicas decentes, fala-se apenas no Big Bosta Brasil. Nos assuntos mais comentados do site Uol, batem recordes os assuntos mais imbecis possíveis. O Brasil não está preocupado com a sua situação. O Brasil se preocupa com o momento de uma situação, e depois esquece.

Alguns idiotas diziam que a vereadora morta defendia bandido. O ruim da rede social é conviver com os idiotas, que julgam-se intelectuais, mas são apenas bitolados sociais. A vereadora defendia o que achava ser justo, e morreu porque acabou fazendo o que muitos da sua ala não fazem, por medo justamente de morrer. Nós hoje somos um país democrático, saímos da ditadura há mais de 35 anos. Mas nestes acontecimentos, mostramos ser um país democrático apenas nas urnas políticas. Ainda nos assola a ditadura, só que não a vemos. Professores apanhando como cachorros, não condiz com um país democrático. Ou você vem me dizer que o Bolsonaro, com uma arma na cintura e dando arma para a população, vai resolver? Ele fala o que nós queremos escutar. Na prática, se eleito, não será bem assim.

Chico Buarque, um músico e compositor mágico, poderia sair do armário em que se trancou e gritar novamente como nos anos 60/70. Gil, Caetano... temos que recorrer aos artistas antigos, que mudaram e ajudaram o Brasil no passado. Alguém com o poder da comunicação deve falar, agir. Não sou muito fã do programa do Faustão, mas gosto quando ele se propõe a ir de encontro com tudo ao seu redor, até mesmo da máquina que lhe paga 4 milhões de reais por mês. Fausto disse que não irá cantar mais a música de final de ano na Globo, que diz “Hoje é um novo dia, de um novo tempo, que começou”. Ele afirma que a música é uma mentira, pois o país sempre vive na mesma. E disse isso ao vivo.

Que novos tempos nos aguardam? Que novos dias nos esperam? A vereadora morreu em vão? Os professores apanharam em vão? Os juízes... bem, esses devem conseguir o que querem, o auxílio que tanto ajuda a pagarem as contas. Enquanto as eleições se aproximam, vamos enfrentando os dias que se seguem para um futuro incerto da nossa vida social. Cuidem das suas casas, da educação dos seus filhos. Por que o Brasil caminha para um esterco profundo e inevitável, em dias nebulosos como estes.