Não, e de forma alguma, eu quero um pretexto para condenar os corneteiros das pérolas: “cadê as inovações de Imperatriz?”. “Mas, de uma certa forma, tenho o lado corneteiro de atacar reclamações que tinham tudo para ser atitudes e nem chegam perto de se tornar algo como um simples, digamos, artefato de museu. Sim, o novo cinema em Imperatriz já está instalado. Cadeiras aconchegantes, pipoca, refrigerante, salas confortáveis e...ninguém. O índice de cinéfilos é ridículo. Tanto se pede por mais lazer, entretenimento e o descaso a uma cultura tão bela chega até a ser desumano. Mendigávamos salas de cinema de alto padrão. Investiram. Agora as salas mendigam público. Uma situação lastimável para uma cidade que, acredito eu, é bem mais inteligente do que parece ser.
A pirataria deixou um buraco sem fundo. O costume de se pagar hoje R$ 16 em uma entrada inteira para ver um lançamento é de se ver na compra de 10 filmes piratas, se não na esquina de algum posto, em qualquer lugar. E o cinema aceita carteirinha de estudante, o vendedor de filme pirata não aceita nota de dois reais rasgada. “É só hoje, lançamento especial na Avenida Getúlio Vargas, Missão Impossível 4, com Tony Cruzes!”, “Opa, opa, opa, aqui no calçadão o filme tá muito barato! Leve 05 por R$ 6,00! E se tiver arranhado, volta que a gente troca!”. Esses jargões são bem conhecidos pelas ruas. O melhor é o consumidor da pirataria revoltado quando compra o famoso filme que só ele terá, porque sai direto das gravações e nem no cinema ainda foi visto, e na cena em que o ator está voando aparecem os cabos e as câmeras da equipe de produção do filme. Detalhe sobre isso: até em cinema mesmo já foram vistas cenas como esta. A pirataria não escolhe o comércio nem o consumidor; adapta-se a ele. Em Recife, recentemente, dentro de dois grandes laboratórios de fabricação de DVD e CD pirata, houve apreensão pela Polícia Civil. Entre os produtos, estavam 10 computadores, 98 gravadores e 12 impressoras. É um meio fácil de ganhar dinheiro. James Cameron, diretor de cinema, premiadíssimo, pode ser considerado empregado dos pirateiros, assim como os atores dos filmes pirateados. São empregados bem remunerados que não veem a cor do dinheiro ganho em cima do seu trabalho. Isto vale mais ainda para a música, a maior fonte de renda da pirataria mundial. O menino do calçadão em Imperatriz nem imagina que tira comida da boca dos filhos de “Tony Cruzes” para colocar comida em casa. Que pecado. Aparece a questão da sobrevivência e de como ganhar a vida para tê-la com um pouco mais de dignidade. E você imagina: dignidade em piratear? Melhor um emprego decente. Limpo. E limpa-se a dignidade.
As ações da polícia, em Recife, surtiram um certo efeito. Ano passado, a prefeitura de São Paulo fechou os shoppings Pamplona e Monti Mare, na Avenida Paulista, e os shoppings 25 de Março (famoso centro de pirataria de São Paulo) e Mundo Oriental, em operação de combate à pirataria. Fecha-se portas, abre-se mais esquinas. Os caolhos tomam conta do mercado com uma força brutal. E quem leva na cara são as novas salas de cinema que, de tanto pedidas, acabam esquecidas.
Cinema é uma arte fundamental na vida. Tem o poder de educar, doutrinar, mudar opiniões. Está além de entreter e aquém de empobrecer nossa cultura de panelada que, em todo caso, sou apreciador. Da original, claro.
Enquanto isso, na nova sala de cinema de Imperatriz, a plateia muda assiste ao filme que comanda a nossa cultura cinéfila: “PIRATAS DO TOCANTINS” - O Segredo do DVD arranhado. Estreia aplaudidíssima por...ninguém.

Phelippe Duarte
Cronista e poeta