Phellippe

Pensando em uma linha do tempo, comecei a lembrar de manifestações que deram resultado e que foram nuances de reviravolta no Brasil. Não exatamente recoloquei os anos 70, aonde toda manifestação ou repreensão à política da época era resolvida democraticamente, ou seja: vários animais juntos da ditadura, batendo ou torturando. Manifestação já foi revolução. A desordem organizada dos jovens já ocasionou severas mudanças. Mas o povo quando sai às ruas não sai tarde demais? Não é nas urnas que o poder é escolhido? O mundo necessita da política. Mas a política está ao contrário, as pessoas não exatamente querem o fim. Isto seria estupidez, burrice. O fim que se pede e dos rumos que a política vem tomando. Após as manifestações no Planalto e nas capitais brasileiras, os políticos brasileiros tomaram medidas que pareciam ser duradouras. E mostraram como podem com uma simples ordem mudar os acontecimentos do país. No período de junho e julho, o Congresso tradicionalmente fica esvaziado devido às festas juninas no Norte e Nordeste do país que atraem os parlamentares da região e ao recesso parlamentar de julho. Neste ano, além de a produtividade ter sido um pouco superior à dos anos anteriores, a diferença foi no teor dos projetos. Mais do que nos anos anteriores, deputados e senadores aprovaram mais propostas. Criaram vergonha. Escutaram o grito do povo. O Senado transformou a corrupção em crime hediondo, além de instituir multa às empresas que participem do projeto. E o que eu consideraria mais seria o fato de a multa ser do tamanho do rombo participativo da empresa. Talvez Lulinha da GameCorp sofreria um pouco.  De repente, o Congresso negou crédito para eventos esportivos, internacionais. Mas apenas como um jeitinho brasileiro de atender aos protestos. Qual a relevância deste ato? Nenhum. Os estádios já estão praticamente prontos e já receberam um torneio internacional. O dinheiro do povo foi gasto.
De repente votaram a PEC 37. Os políticos começaram a trabalhar logo no período de recesso parlamentar de junho e julho. Votam o que dá vontade. Votam o que lhes convém. E se o que convém são os jovens descerem do Planalto, é melhor começar a trabalhar. Mas as manifestações pararam um pouco. A voz dos jovens ficou rouca. E aos poucos, pelo que se noticia, os políticos voltaram à mesma rotina de sempre. A de sempre fazer nada até a época das eleições.
Em Imperatriz, o movimento fora Viação Branca do Leste surtiu efeito. O prefeito Madeira quebrou o contrato. Mas ao mesmo tempo que o povo pedia o fim do contrato, esqueceu de antes pedir ao prefeito que solucionasse outra linha de ônibus para trabalhar na cidade. Com isso, a VBL continua através de liminar a funcionar, porém com ônibus apreendidos. Essa guerra vai longe.
Houve um tempo em que manifestação era revolução, desordem organizada, caos comedido ao grito, única arma bélica dos jovens. Para reivindicar algo, os jovens não precisam sacudir os políticos agora. Ano que vem é época de eleições. E só o que teremos é deputado corrupto pedindo voto, político cassado sendo eleito, caixa 2 em campanhas... A arma bélica que sai da garganta precisa agir nessa época. Mas em silêncio, deixando toda a parte suja do trabalho para o maior destruidor de políticos que conhecemos: o nosso dedo. A nossa mente. A nossa coragem. Alguns partidos políticos já fazem propaganda com descrições dos jovens tiradas das redes sociais, com o tema: “Nós estamos te ouvindo”. O voto nas costas das manifestações, a dissimulação para filiação em partido, começaram cedo. Dá-me nojo. “Nós estamos te ouvindo, jovem”.
É meu companheiro engravatado da TV com pose de honestidade. “Nós estamos te monitorando”. E, mesmo assim, ainda dá nojo.

Phelippe Duarte
Cronista e poeta