Phellippe
Independência. No dicionário, se você procurar e mesmo se não tiver coragem de ler ou olhar em toda casa aonde está o precioso pai conceitual de todos nós, aproveite aquela rápida passagem de fax. Já que você leva qualquer coisa pra ler nesta hora, até bula de remédio, pegue um dicionário e procure pela palavra Independência. Mas continue lendo esta coluna faltosa há três domingos. Lá, no dicionário que alguns acham que tem em casa, estará assim: Independência; vem do nome feminino e significa qualidade de ser livre, de não depender de ninguém; qualidade do que tem autonomia política.
E é tudo que o brasileiro não tem. Comemoramos o dia 07 de setembro, aquele dia memorável onde Dom Pedro I bradou firmemente: “Independência ou morte!”. Se Dom Pedro I soubesse a safadeza que viraria o Brasil, teria pensando algumas vezes. Não falo hoje de mensalão nem das impurezas da corrupção ativa, passiva e reflexiva que estão na pauta do dia de muitos políticos brasileiros. Falo da maior vergonha nacional que eu já vi desde o mensalão: o deputado Natan Donadon. Parece até nome de mafioso em filme de Holywood. Dom Corleone é menino perto desse rapaz.
Das cagadas que este cidadão fez, a maior de todas foi receber o benefício de continuar deputado mesmo tendo sido condenado. De dia Dom Donadon irá frequentar as sessões da Câmara. Andará pelos corredores como se nada tivesse acontecido. Colocará seu paletó, sua gravata, fechará os botões da blusa e desfilará imune, pisando a cada passo dado na cara de cada brasileiro. Pisando inevitavelmente na democracia brasileira. À noite, ele irá para sua nova casa, o presídio. Ficará no meio de bandidos, comendo a mesma comida deles, deitando na mesma cama. Ou seja, estará ainda na Câmara dos Deputados. Poderíamos considerar um avanço democrático se Dom Donadon tivesse o mandato cassado e fosse preso. De certa forma, podemos imaginar analogicamente que, se um qualquer cidadão que cometa um crime neste sentido de manhã poderá ir ao escritório, trabalhar normalmente. E à noite dormir com os anjinhos da cadeia. É mais um retrocesso no país. Uma situação tão vergonhosa que nem em filme poderíamos ver algo assim. Claro, nós vemos. Quem despacha da cadeia é o bandido mais comum ou um chefão do alto escalão que manda e desmanda do presídio. Deplorável o favorecimento de continuação de cargo enquanto presidiário. Estão sendo observados os casos de mais alguns deputados condenados. Além de Dom Donadon, José Genuíno condenado a seis anos e onze meses; João Paulo Cunha, condenado a nove anos e quatro meses de prisão; Valdemar Costa Neto, condenado a sete anos e dez meses de prisão; Pedro Henry, condenado a sete anos e dois meses de prisão, e Ivo Cassol, condenado a quatro anos e oito meses, estão para acompanhar o cotidiano do colega de Câmara. Se a promoção a presidiário à noite vale para um, então os demais condenados que se julguem capazes de continuar a exercer o mandato.
Fico me perguntando se um político como Natan Dom Donadon tem ainda algum tipo de moral para andar de cabeça erguida. Ele não humilha os brasileiros nem a democracia somente. Ele humilha a si mesmo. Ao cargo que não era mais para ser dele. Ele envergonha a sua família. Dom Donadon é apenas um deputado federal condenado como todos os outros que são investigados. Condenado a não ter mais o direito de ser respeitado. Ao entrar na Câmara vestido de paletó e por baixo com roupa de preso, Dom Donadon não deverá nem sequer sentir vergonha na cara. Pois os mesmos políticos que o mantiveram no cargo são bandidos. E bandido anda livre, no meio de bandido.
Nossa independência política é exercida por quem tem poder. Somos um povo preso, numa cela gigantesca, chamada Brasil. Se continuar desse jeito, do que adianta ter esperança em um país mais justo? O deputado vai preso e continua deputado dentro da cadeia.
Cagaram na nossa cabeça. E foi diarreia, de uma vez.
Phelippe Duarte
Cronista e poeta
Edição Nº 14806
Dom Donadon
Phelippe Duarte
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