Capa de jornal, você sempre há de se convencer que a notícia esperada nunca é uma surpresa. A informação passa do ponto quando não é esperada. Informar é progredir. O jornalismo televisivo parece regredir por nossas bandas. Certas emissoras deveriam importar qualidade, exportar qualidade. Importam despreparo, exportam notícias através do despreparo. O mercado é sujo em negociatas, em contratos. Raros os que têm qualidade, poucos os que têm preparo. Imperatriz ainda se arrasta na profissão jornalística e na publicidade. Mas as melhorias são notadas. Mesmo que o público alvo seja cego.
O jornalista assassinado na Zona Oeste do Rio de Janeiro por traficantes de uma favela era um ótimo profissional. 20 anos de serviços prestados, não temia o perigo do que já fazia há tempos. Gelson Domingos foi alvejado e a bala do fuzil atravessou o seu colete à prova de balas de crianças e o matou a caminho do hospital. A busca da informação não tem limites. O desespero das emissoras sensacionalistas e a doentia saga de que os anunciantes comprem a morte culminam com a venda certeira da morte ao vivo. Serão no máximo dois dias de lembrança, a emissora deve pagar algo para a família do cinegrafista, e pronto. Amanhã, o substituto dele vai entrar em outra favela, com outros policiais, ou os mesmos, e vai tentar filmar um close de um merdinha daqueles vendendo drogas ou uma criança inocente com uma arma na mão e voltará para casa com a sorte de não ter morrido ao vivo e virado notícia para render grana dos anunciantes. Assim foi com Gelson. Chamado de herói pela família, tem, sim, um aspecto interessante de herói: o de sobreviver às custas de uma profissão que não há limites para riscos. Milhões de brasileiros trabalham com o perigo todos os dias. E todos os dias são alvejados pelas problemas que o país costuma lidar: 720 bilhões de corrupção em uma década. Dentro dessa década, oito anos de governo Lula. E mais quatro anos para os ministros de Dilma se divertirem.
Sobreviver dentro dessa palhaçada faz com que homens como Gelson não temam o medo de subir no meio de um tiroteio. Ele sabe que em casa, a cada bala que não o acertou até então, suas filhas, neto e esposa teriam o que comer. Ao sistema televisivo, ele vira mais uma notícia das quais são dadas todos os dias. “Traficante mata fulano”, “Fulano é morto por bala perdida”, “Gelson Domingos é assassinado por traficantes no exercício da profissão”.
Em Imperatriz, nós somos alvejados pela má qualificação da área. Somos Gelsons Domingos assistindo, incógnitos, à nossa morte lenta. Mudar de canal? Não é o controle que temos sobre a TV. A informação, em o controle sobre nós. O apresentador que gagueja, mas não é gago, a repórter que não tem concordância verbal, mas sabe ler, o câmera que treme em uma cena parada e não tem Parkison... Eles dão a notícia. Escravos da informação que somos, é fácil furar o colete de balas que envolve nosso cérebro.
Uma pena cobrirmos apenas a desgraça. Jornalistas nacionais afirmaram ser um tiro na liberdade de imprensa, a morte do cinegrafista. Mas o que é mesmo procurar liberdade dentro de uma favela? O que seria mesmo liberdade de informar? Ter asas globalizadas?
Estou informando a cidade de Imperatriz, por meio do Jornal O Progresso, que o nosso jornalismo televisivo em certas emissoras é intragável. Será que coloco o colete à prova de balas? A culpa é nossa. Alguns têm fome de despreparo, da inteligência retroativa ao cérebro. Merecemos mais e podemos mais.
Se não houver o “mais”, prefiro morrer de fome e desinformado.
Phelippe Duarte
Cronista e poeta
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