Baseado em histórias não documentadas da minha cabeça, o início deste texto já aconteceu comigo quando criança, porém eu ia para a escola, e ainda era domingo. Modifiquei um pouco a história.
Dias atrás, aconteceu algo estranho. Acordei e ainda estava escuro. Uma dor de cabeça danada, parecia que uma banda tocava na minha cabeça. Pensei que estava de ressaca, mas não tinha bebido na noite anterior. Fiquei meio encafifado com aquilo, mas como não estava mais com sono, resolvi me arrumar para o trabalho. E ainda estava escuro.
Continuei pensando que estava sozinho, quase um Will Smith no filme “Eu Sou a Lenda”. Mas passando pelas avenidas, logo a minha frente um leve movimento de carro. Então, só eu estava meio perdido, nos meus pensamentos solitários. E ainda estava escuro.
Chegando ao trabalho, não vi ninguém. Abri a porta e comecei a pôr em dia a minha agenda. O que estava claro, e não era o dia, é que parecia que só eu estava acordado nesse dia! Mesmo assim, continuei a ver meus e-mails. De repente, fiz algo que deveria ter feito desde quando acordei: dar uma olhadinha no relógio. Era exatamente 1h30m da manhã!!!!! Meu Deus!!!! Como é que eu fiz isso tudo, achando que o dia já tinha começado? É muita lerdeza. Mas comecei a pensar novamente: Por que acordei no meio da noite do nada, com um barulho infernal na minha cabeça e agoniado para ir trabalhar? Matei a charada: acordei com o barulho infernal das casas de show de Imperatriz que não deixam a paz do silêncio manter um sono com o mínimo de qualidade decente.
Lembro que vi nas ruas da 15 de Novembro, pela madrugada, carros estacionados em frente a garagens. Perto da casa da minha avó, muros manchados de urinas. Parece que não havia segurança para os moradores nem proteção para os seus direitos civis. Direitos civis estes que não é por que é madrugada, que dormem. Os direitos do descanso prevalecem enquanto o direito de quem trabalha na noite acontece.
O que fazer, então, quando os direitos se debatem, como uma luta sangrenta de UFC?
As casas de shows funcionam até as 2h da manhã e, ao que parece, estenderão até as 4h o funcionamento. Não precisava, pois alguns locais já chegavam em funcionamento até as 4h. Agora, poderão ir até às 6h. Se uma casa de show quer funcionar até mais tarde, que se estabeleça de acordo com as regras e isole-se acusticamente. A briga de direitos fica entre quem trabalha à noite e quem trabalha de dia. São pessoas boas que trabalham na noite. São pessoas boas que trabalham pela manhã. Duas horas a menos fazem diferença no sono de quem acorda cedo. Duas horas a menos fazem diferença no lucro do estabelecimento da noite. Então, o que fazer? Que continue encerrando às duas horas da manhã e que se aumente o rigor sobre o funcionamento das casas de shows e a segurança contra jovens bêbados e irresponsáveis que colocam em risco a segurança dos moradores da 15 de Novembro e de outras localidades. A questão é pública, mas deve ser respeitado o privado. Quanto aos cantores, artistas e frequentadores da noite, comecem cedo a tocar. Tem cantor que entra 4h da manhã em palco. Tem público? Tem! Então, se continuar até as duas horas ou ir até as 4h, algo será respeitado? Não! Sempre tem o jeitinho brasileiro. Já fui frequentador dessa noite. E entendo a classe artística. Mas são poucos os artistas com talento, e esses poderiam estender o horário um pouquinho mais. O resto é tudo ladrão do ouvido alheio aqui em Imperatriz. Quando morei perto da AABB, parecia que vivia num terremoto nas madrugadas de sexta. E cheguei à conclusão que um pen drive bem selecionado é melhor do que muita gente por aí.
“Ah, mas eu quero me divertir até as 6h da manhã”.
“Eu tenho que acordar às 6h da manhã para trabalhar”.
Onde se encontra o erro gramatical? NO DESENCONTRO DOS SUJEITOS! Ora, se um acorda cedo e o outro chega cedo em casa da farra, eles não se encontrarão! O predicado fica prejudicado e o bom senso nunca será sequer questionado!
Como cidadão imperatrizense que sou, defendo mais ainda o descanso depois que me tornei pai de família. Porém somos responsáveis por não deixar essa discussão terminar com qualquer lei imposta. Pois quem trabalha à noite também é pai de família! O direito de trabalho é para todos, e não me importo com o divertimento das pessoas. Até duas horas, todos se divertem o bastante. E se decidirem que deve ser até mais tarde a noitada, que as casas de show se adaptem às leis. A questão principal é o trabalho, as pessoas que vivem da noite contra as pessoas que vivem do dia. Eu compreendo os dois lados. Mas sou a favor do bom senso nessa discussão. Este, sim, é quem tem que se divertir até a hora que quiser e, no mínimo, ao som de uma música de qualidade.
Edição Nº 15389
Deixem o bom senso se divertir!
Phelippe Duarte
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