A bola defendida por Danilo aos 49 do segundo tempo, na semifinal contra o San Lorenzo, selou o destino do time da Chapecoense para sempre. “Vamos dar a vida por este título”, disse o goleiro Danilo, logo após o apito final. E assim foi feito.
O avião que transportava os jogadores, comissão técnica e jornalistas de rádios e tvs do Brasil caiu a 13 km do aeroporto na Colômbia, seis pessoas sobreviveram, 71 morreram. Danilo, o milagreiro, quase foi o dono de outro milagre, o de sobreviver. Foi resgatado, mas não resistiu aos ferimentos da queda.
O mundo parou para homenagear os jogadores da Chapecoense. Jogadores e técnicos mundiais, os maiores clubes do planeta, pararam em oração e silêncio. Até os maiores times de basquete da NBA fizeram a sua homenagem. E conhecemos um país amoroso, carinhoso e prestativo, mesmo que pelos olhos da dor, a Colômbia virou sinônimo de Brasil. A queda dos jogadores não foi a primeira. Em 1949 a base da seleção italiana, representada pelo time do Torino, caiu na Itália, matando o time inteiro. No ano de 1958, o Manchester United perdeu oito jogadores, tendo sobrevivido Bob Charlton, que logo depois, tornou-se a lenda mundial que é. O clube se reconstruiu e virou uma potência no futebol. Já em 1993, a seleção da Zâmbia teve a mesma fatalidade, voltando de um jogo para as eliminatórias da Copa do Mundo de 1994. É doído, e o mundo do futebol em cada tragédia como esta, mostrou que vai além do esporte e da bola rolando. Assim foi com a Chapecoense.
"Que escutem, em todo o continente, sempre recordaremos, a campeã Chapecoense". Este foi o canto entoado pela torcida do Atlético Nacional, após pedirem que a Chapecoense fosse declarada campeã da Copa Sul-Americana. Não há recordação mínima, diante de uma fatalidade sem igual, de demonstrações de amor, respeito e carinho de uma torcida para com a outra. Aqui no Brasil, a maioria dos clubes, liderados por Palmeiras e Flamengo, tem propostas para reerguer o clube de Chapecó. Mas o grande desafio será reerguer o espírito de Condá. Esse caiu. Mas caiu, amigos, olhando para o céu. Caiu de pé. Muitos já falaram tanta coisa bonita. Eu sou palmeirense, campeão no domingo passado, jogando contra Chapecoense. A euforia de ser campeão deu lugar a uma comoção rara, daquelas que mostram que o mundo, as pessoas, ainda são boas. Mesmo num mar de guerras, violência, fome, desespero, desunião e assassinatos diários, ações como as benéficas em prol da Chape demonstram os motivos que me fazem ter esperança de um mundo melhor para nossos filhos. O problema é que isto ocorre em situações somente de desespero com o outro. Enquanto está tudo bem, é cada um por si. Que os clubes se unam para outras situações, corriqueiras, e não alarmantes, como esta, pois demonstrar união e amor é mais fácil do que esperar um avião cair para tal sentimento fluir. Eu amo o futebol, não porque jogo bola quase todos os dias. Não porque tem cerveja, churrasco e resenha. Eu amo o futebol, porque ele não é somente um esporte. Está acima do nosso entendimento, as coisas que o futebol proporciona. Grandes amigos que tenho hoje vieram do futebol. E às vezes, mesmo não querendo jogar, mesmo machucado ou sentindo dor, eu vou jogar, porém somente com o intuito de vê-los mais uma vez. A queda do avião será investigada, mesmo os apontamentos indicando várias falhas do piloto e do plano de voo. O entendimento e a incompreensão dessa queda em nossos corações não têm investigação que nos dê razões. Não há como entender, porque tantos pais de família se foram, deixando crianças pequenas. Não há como entender porque tantas famílias ficaram órfãs. Há de se compreender. Mas isto será num futuro bem distante. As homenagens são válidas. Se meu coração e meu sangue já eram verdes por conta do meu Palmeiras, eu também sou mais um a querer ser um Chapecoense. Não pela tragédia. Mas pelo amor que vi do mundo inteiro, voltado para um escudo verde cheio de pó e sujeira, no meio de um matagal. Caíram olhando para o céu. Caíram, sem sentir o gosto do chão. Deus abençoe as famílias de todos os mortos. E guie a cabeça e o entendimento dos sobreviventes, que ainda com o peito batendo, escutarão para sempre, que são verdadeiros campeões do mundo, assim como todo o time de Chapecó. Força espírito de Condá. Força e fé, muita fé.
Danilo defendeu a bola aos 49 minutos do 2º tempo da semifinal. Foi a defesa rumo à eternidade dos campeões.
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