Em toda a minha vida, quando fiquei sem ideia ou inspiração para escrever, os motivos eram não por me importar muito, pois mesmo em dias que nada me importava, eu escrevia como um escritor sério ou que parecia ser. Os motivos foram mais por não ter motivos reais. Para tentar escrever algo, em dias de luz, um texto sai rápido, sem pensar, às vezes, e nem no “às vezes” eu penso. Mas me preparando para escrever para o último domingo, eu fiquei sem motivos para escrever com motivos de sobra para este domingo. O susto do milagre da vida deu lugar ao sorriso do milagre da vida.
Escrever lágrimas é complicado. Escrever sobre elas torna-se mais simples. No dia seis de fevereiro de 2013, meu irmão Caio foi presenteado com um presente que já tinha sido embrulhado há cinco anos, mas estava ainda sem o endereço da entrega. Depois de uma pequena vida distante, meu irmão do meio se viu rodeado pelo amor de uma criança que, ao mesmo tempo que o olhava tentando compreender a novidade, dizia: oi papai.
Crianças. Não preciso mais do Dia das Crianças para falar sobre elas. De longe, em um texto, você imagina milhares delas. Sorrisos cativantes, choros sem razão, pedidos sem sentido em que as pessoas se desdobram para realizar. Sonhos que você tenta realizar. Pois ali, na sua frente, está um sonho, uma dádiva. A pequena Isis tem no rosto todo o semblante do meu irmão quando menino, um calanguinho de tão magro. Isis tem o olhar carinhoso, o sorriso sapeca, as maçãs do rosto parecendo nuvens carregadas com o cheiro da manhã e a vontade de brincar que parece ser eterna. Desenhada a dedo por Deus, ela definitivamente entrou em nossas vidas para devolver, principalmente, a alegria de um dia, que antes fora comemorado intensamente, todos os anos. A menina nasceu exatamente no mesmo dia do avô dela, Cleonir Ferreira Santos. Com tantos requisitos de nossa família, um exame de DNA era apenas um obstáculo medíocre, mesmo que necessário, diante das circunstâncias.
Após o carnaval, Isis já voando de um lado para o outro dentro de casa e a família inteira curtindo esse novo momento, as emoções e o controle das mesmas começaram a pedir mais novidades. E vieram, com a força de um amor que o tempo nunca destruiu e hoje consolidou. Minha noiva, Danila, preocupada com atrasos mensais (e não foi o salário), resolveu fazer um teste de gravidez, aqueles de farmácia. Na manhã do dia 22 de fevereiro, ela me entra no carro, chorando. Positivo. Pensei: vamos no laboratório, o exame de sangue é mais confiável. Às 11 horas, mais nervoso do que a palavra me sugeria parecer, as mãos suadas, trêmulas, fatalmente pensando que estas mesmas mãos estavam prestes a segurar um papel que mudaria totalmente minha vida...
“Phelippe, o exame da Danila está aqui”. Lendo o lado direito do exame, tinha escrito negativo. “Exame de farmácia fuleiro”, eu pensei. – Não Phelippe, leia do lado esquerdo. Estava assim, em negrito: POSITIVO.
Meio atordoado sem a noção do que exatamente aquilo tudo significava, além do inevitável e instantâneo amor de pai, andei pelas ruas de Imperatriz um instante. Aumentei o som do carro. Eu nem lembrava mais o que estava tocando. E também nem escutava mais. Só fui dirigindo, tendo na frente uma grande e nova estrada no meu caminho, com a única certeza de que agora eu não vivo mais por mim. Eu viverei pelo meu filho. Mesmo que ainda no ventre, uma criança modifica o nosso jeito de olhar cada manhã que respiramos. Seja a pequena Isis que chegou com cinco anos ou a linda barriga de Danila. É neste exato momento, como disse um grande amigo, que um homem consegue alcançar a verdadeira conquista na vida.
Deixa eu ir trabalhar, pois daqui uns meses, adeus seção de cerveja e churrasco do supermercado. Bem-vindo às fraldas, Phelippe.
Phelippe Duarte
Edição Nº 14643
Da Isis ao ventre
Phelippe Duarte
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