Soa o gongo paternal.
No meio da luta diária, ficamos envolvidos com o cotidiano que nos prende a situações que nos agradam. O dia a dia nos agrada, nos glorifica. Domingo retrasado, envolto com o Dia das Mães, não quis ser duro o suficiente comigo e dizer o velho clichê: todo dia é Dia das Mães. Não, às vezes não. Toda mãe passa pelo primeiro dia dos muitos que virão pela frente. E me dediquei somente a este momento, escrevendo sobre esse país maluco em que vivemos. Mas esperei com um motivo e somente um que me faria aguardar e não danificar mais ainda essa página do jornal: eu queria saber o gênero. Ou qual vogal seria a definitiva ao final de uma palavra (a) (o). Marque a questão (o). Serei pai de um menino. Benício Duarte Parreira Santos. Seja bem-vindo, meu filho!
Nos rounds que a vida trava e nos faz suar, nos socos e nocautes que a vida tenta nos aplicar, nada é tão duro quanto a má vontade de alguns. A situação médica que envolve planos de saúde, e estes mesmos que pagam mal seus médicos, refletem-se diariamente em nós, míseros pedantes deste cartãozinho verde, amarelo, cinza, ou seja qual for a cor.
No mês passado, o médico me diz: "Olha, a ultrassom em maio já veremos o sexo". Tudo bem. Passado o mês, foi feita a consulta. E da boca do grande doutor, a seguinte frase: "Não vou fazer ultrassom, fica pra daqui três semanas, quando faremos a morfológica de seis meses. Se quiserem fazer por fora, é particular. E fica a critério, aqui ou em outra clínica". Ora, se eu pago o plano de saúde e tenho o direito de usá-lo e só estou na bendita clínica por isso e somente por isso, por que meu critério escolheria outra clínica? E por que eu pagaria por fora se o plano cobre todos os exames, ultrassom e parto? "E também cobro a morfológica de seis meses, R$ 700,00". O que eu faço, então, com o plano de saúde? Limpo a bunda? Melhor: troco de médico. E isso não vai me gerar nenhuma situação pior ou constrangedora no futuro.
Claro que a minha revolta é a revolta com a agenda superlotada ou o plano que paga mal ao médico. Mas convenhamos: a área de saúde que você atua merece uma certa delicadeza. Você trabalha com mulheres grávidas. Não com mulheres cheias de gases.
Fim do round, iniciamos outro e mesmo sem o convênio para a ultrassom do sexo, eu pagaria de novo, só pela emoção que senti. Algo é claro, que não tem a ver com preço, mas sim como a notícia é gerada para você.
Todos nós temos e oferecemos problemas ao longo dos dias. Trabalhamos complicações que, para tornarem-se resolvidas, precisam antes de tudo de paciência, disciplina e boa vontade. A velha e boa vontade de sempre. Mas agora observo tudo com mais calma e com uma menor pitada de ansiedade. Não devemos deixar a resistência ou a desistência de outrem, bulir com a nossa paixão em como ver as coisas, as situações. Nem todos são iguais, nem todos, serão como você é.
Benício Duarte Parreira Santos está com 21 cm e 217 gramas. Um saco grande, que deu para notar até mesmo com as perninhas cruzadas. Chupando o dedo, fazendo pose para os pais que ali conseguem entender como o amor de abstrato passa a ser concreto. Passam a entender como a magia e o milagre da vida se resumem a 145 batidas cardíacas sem parar. Se fosse no médico antigo, sendo meu filho, o dedo estaria de outra forma. Seja bem-vindo, meu filho! Os rounds da vida agora têm mais sentido com você do nosso lado. Feliz dia das mães dos primeiros de todos os dias que virão, Danila Parreira.
A nossa luta será a mais fácil: amar sempre.
Phelippe Duarte - Cronista e poeta.
Edição Nº 14713
Coração já pode gritar: é menino homem!
Phelippe Duarte
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