A bandeira que podemos levantar é a da sujeira nas entrelinhas da informação. O melhor adjetivo para ilustrar a situação é “chocante”. Chocante, não no conceito habitual da concepção, mas no entendimento cru: querem chocar a informação da sociedade, a tiros de .40.
Acostumei-me com o horror em Imperatriz. Sabendo que, disfarçando claro, a inocência de que “morte por encomenda no Maranhão é só em nossa cidade”, a brutalidade cometida contra Décio Sá apavora. O gostoso eco que faz o mar da Avenida Litorânea teve um acesso estampido por seis sons mortais. O cheiro do vento teve sabores de sangue. E graças a Deus, nas redes sociais, nenhum imbecil publicou foto de corpo. Até porque iriam mostrar Décio Sá, a informação “viva”, em seu estado de fim. Pulverizaram a beleza da Litorânea na última segunda-feira. CALARAM um dos blogs mais lidos do Maranhão. SILENCIARAM palavras que falavam. Mas o assassinato brutal que incomoda e trava eternamente mente e dedos inteligentes não é o suficiente para apagar o legado. Se Décio Sá foi morto, e isto eu apenas suponho, por informar o que deveria ser informado à sociedade, não é porque o mataram que as denúncias se afundam no mar. As investigações aumentarão. Os passos que o jornalista e blogueiro fazia serão perseguidos e continuados. É dever e obrigação das autoridades, da imprensa, da política maranhense, buscar resultados e elucidação para o caso. Não podemos permitir que a morte de Sá seja uma bandeira para as eleições. Que a sua morte não vire moeda de troca por votos na boca de político aproveitador, pois independente do grupo político que defendia, Sá era respeitado por suas informações rápidas e opiniões sensatas.
Nossa imprensa deve aprender que são casos como estes que servem para as palavras gritarem mais alto. Porque o estrago que faz uma denúncia jornalística em situações como esta é maior do que o som de tiros. Acreditem. Este assassinato é para ter repercussão igual a morte de Tim Lopes, da Rede Globo.
Recuso-me a pretender entender que algum jornalista investigativo ou que trabalha em denunciar maracutaias, safadezas e canalhices políticas deva temer passear pela Litorânea. Andem. Vão de sunga de letrinhas. Eu nadarei com vocês no mar de coragem. De acordo com o secretário de Segurança Pública, Aluísio Mendes, o assassinato de Décio Sá foi por encomenda. Mas a definição que ele dá aos assassinos e ao tipo de “trabalho” dos executores me instiga. “Não tenho nenhuma dúvida que foi crime de encomenda. A maneira como ele foi executado, a frieza e o profissionalismo. O assassino não se preocupou em esconder o rosto, em executar o crime num local de grande fluxo de pessoas”. Tudo bem. Concordo com a frieza de não esconder o rosto, de mostrar a cara ao executado e ao público. O que me incomoda é chamar isso de profissionalismo. Matar não é e nunca foi uma profissão. É VAGABUNDAGEM, COVARDIA. Homens que vestem-se de homens e que ganham o nome de homem apenas pela arma que seguram. Que chamassem Décio para uma briga de blogueiros, com textos trocando ofensas entre si. Mas como ainda não cai dinheiro do céu, ainda veremos os profissionais da vagabundagem agindo por aí.
Décio Sá morreu em uma segunda-feira, o dia em que consideramos o mais lento da semana, porém o mais interessante para acompanharmos as notícias do fim de semana. Levou consigo a coragem de escrever, a ousadia de publicar. Ousadia esta que aparece em cores neste texto, que também mostra que tem sangue e amor nas palavras. O canto desta página é preta pelo luto, mas tem sangue por dentro.
Décio cala-se fisicamente, mas ficará guardado na memória do Maranhão, como o cidadão de Sá Luís. Aquele que publicou e denunciou em vida e que continuará denunciando, mesmo após sua partida.

Phelippe Duarte
Cronista e poeta