Aécio Neves, no dia seguinte a mais uma atrapalhada sem nexo dos políticos do rabo preso, estava viajando tranquilamente pelas estradas de Minas Gerais, quando se perdeu. Não sabia onde estava, completamente sem noção de onde poderia estar o caminho correto. Tentou GPS e nada. Estava sem sinal. Olhou no banco do passageiro, limpou uma poeira branca em cima do banco, achou um mapa. Mas estava manchado de café. Decidiu seguir em frente, sem nem mesmo saber onde daria o seu desfecho. Algo bem parecido com a sua vida política, uma grande e tremenda interrogação. O estranho é que sabe-se que o ex-quase-ex-agora-de-novo-senador conhece as estradas de Minas como ninguém.
Ao longo da estrada, ele encontrou um gordinho caipira. Boné caído, barriga saliente por cima do botão da calça, palha no canto da boca. Humildemente, naquele seu jeito enfático, gaguejador e olhos ligados 24h, perguntou:
- Oh amigo, você sabe onde posso encontrar um destino pra minha estrada? O caipira gordinho levantou a cabeça, olhou para ele com os olhos fumegantes e disse:
- Pergunta lá no Senado, para os 19 dos 28 senadores alvos de inquéritos ou ações penais no Supremo, na Operação Lava-jato, que asfaltaram sua estrada composta de propina do Joesley Batista, e te deram caminho livre pra continuar sua carreira. Pergunta pra eles por que te absolveram e me jogaram num mato sem cachorro! Assustado, Aécio Neves olhou bem para debaixo do boné. Era Delcídio Amaral. Bufando, respiração ofegante. Marca de algemas nos punhos, que seguravam uma cesta com caroço de feijão. 
- Delcídio, tenha calma. Só fiz uma pergunta. Inclusive, onde consigo apoio para continuar na presidência do PMDB? Sabe como é, não posso perder a pose, nem desanimar os 44 senadores que estão do meu lado. Tenho que ter a carreira garantida.
Delcídio cozinhou um feijão com os dedos nessa hora.
- Olha seu mineirinho de uma figa, pergunta lá pro Michel Temer, aquele vampiro desgraçado, ele empenhou-se pessoalmente pra ajudar você. Esse salafrário de uma figa, um lulinha disfarçado, só que com uma gramática bem melhor. E todos esses senadores que votaram a favor de sua permanência, 65% foram contra a minha. E agora, você tem resposta para minha salvação?
Aécio Neves, escrevendo seu texto de provação de inocência, disse:
- Delcídio, esqueça isso. Só me responda se você sabe o que Lula disse sobre mim e onde encontro esse guru da anticorrupção. Só ele para me dar dicas de como não ser preso e continuar livre.
Delcídio, já tendo feito uma feijoada só com a quentura das mãos, disse:
- Ele falou que dão tiro nele de canhão todos os dias, e ele está vivo. Que a Polícia Federal e o Ministério Público Federal mentem sobre ele. E quanto a você, deram um tirinho de garrucha e está mortinho. Talvez, ele nem te receba. Você está no fundo do poço.
Aécio Neves saiu do carro. Pegou o boné, pediu um pouco de palha. Colocou o canto da boca, pediu um banco e sentou do lado de Delcídio. Olhou para ele e disse:
- Delcídio, eu estou perdido. Vou ficar é por aqui mesmo. Me passa essa cesta de feijão!
Ao longe, vinha um ônibus, com bandeiras vermelhas e uma estrela no centro. E algumas pessoas, correndo atrás, com os pés descalços no chão. Na frente do ônibus estava escrito: CARAVANA LULA PELO BRASIL.
O motorista viu aqueles dois sentados, baixou o vidro e perguntou:
- Oh companheiro, vocês aí hein? Quiseram me derrubar. E agora, eu tô aqui, fingindo que estou fazendo palestra, mas estou metendo é campanha no povo. E agora, sabem qual é a minha próxima cidade?
Delcídio riu. Aécio, devolveu o riso.
- Para Curitiba. Pode ir para lá, que a Caravana está sendo aguardada!
Foi então que, com dois tiros de garrucha, Aécio furou os pneus do ônibus, e os três comeram feijão sem colher, já se preparando para um futuro muito próximo.