10 de outubro de 2013, 14h06m.
Phellippe
Benício Duarte Parreira Santos chega ao mundo com um choro nem tão alto, nem tão estridente. Jorrando e soletrando amor com maestria, o seu grito veio para avisar que o mundo agora será diferente. Mas não compreendi isto de imediato.
Após o parto, comecei a decifrar o grande mistério e milagre da vida: gerar a vida. Deus é perfeito em sua criação maior. Poeta ou nenhum escritor até hoje conseguiu explicar ou expressar em palavras a dádiva de ter um filho. Podem até criar textos mirabolantes, frases emocionantes, mensagens edificantes... mas nada se compara ao ver, sentir e tocar o pedaço de amor que você coloca no mundo. E não quer dá-lo ao mundo. Por mim, Benício ficaria do jeito que está, debaixo da asa do pai e quentinho no colo da mãe. Mas a vida não permite. Por isso, é perfeita.
Quinta-feira, parto marcado para 8h. Tudo combinado, acertado e pronto. Médico, enfermeiros, todos paramentados. 9h30m. O anestesista não compareceu na cirurgia. Médico foi embora. Não pretendo revelar as palavras que designei sem pensar para todos à minha volta. Para a clínica que agenda os anestesistas. Para o hospital que o plano autoriza. Não compensa eu repetir frase por frase o que não significaria nada para ninguém e não resolveria nada para mim e minha família. O que paira no ar é a sensação de impotência diante de um sistema de saúde tão falho quanto este plano de saúde, que se diz o maior e o que possibilita mais médicos cadastrados. E diante de uma clínica com funcionários fracos, que em sua idade adulta, não conseguiram fazer um serviço que Benício poderia fazer agora mesmo.
Parto marcado para as 10h. Anestesista comparece, médico não. Mas desta vez compreendi, afinal ele tem outras obrigações e procedimentos a cumprir. Enquanto isso, Danila estava no quarto, em jejum, ofegante e preocupada. Diante de um sistema de saúde que é ofegante e falho. Parto remarcado para 13h30m. Desta vez, tudo ocorre bem. O melhor anestesista estava à disposição junto ao melhor médico. Toda a equipe do hospital reunida para o parto do meu filho. Parecia coisa de Deus. Parece que tudo deu errado para dar mais certo ainda no final. 14h06m. Minha vida se modifica para sempre.
Meu filho, pesando 2kg e 940g e com 0,50 cm de altura, veio ao mundo calando todas as palavras que eu já disse em toda a minha vida e revelando um novo jeito de amar dentro de mim. O Eu te amo faz mais sentido. O amor é mais abrigo. Não consigo parar de chorar. Todo o caminho percorrido até aqui agora tem um desvio de rota. Abre-se uma porta nova, um atalho novo. Poderia ter a página EXTRA inteira para falar da sensação de ouvir meu filho chorando a primeira vez que, ainda assim, pediria o resto do jornal para compor o texto.
Tudo o que eu sei é que vou mostrar tudo para Benício. Eu e Danila, minha metade, agora unimos realmente o que antes achávamos que já tínhamos. Nosso amor agora está completo. Nossa família começa no instante em que aquele choro molhou nossas vidas de esperança e magia. Meu Deus, tudo faz sentido. Agora eu entendo porque mamãe é cuidadosa. Entendo porque meu pai me ensinava. Isto não se prescreve. Não há receita. Não tem bula nem conceitos. É o percurso natural da vida. Proteger e amar. Chega, não tem mais o que escrever. Encontrar palavras para o que eu sinto...praticamente impossível. Eu sabia que alguém um dia me deixaria sem palavras.
Benício, este é o início do texto. Não há fim para o meu amor e de sua mãe por você...
PHELIPPE DUARTE
CRONISTA E POETA
Edição Nº 14834
Benício Duarte Parreira Santos
Phelippe Duarte
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