Na semana da poesia, pesquisando grandes poetas, forças da natureza e quiçá do palavreado pobre musical, consegui canalizar o maior poeta contemporâneo, um misto de agilidade mental com doses cavalares de “violência” que, se não verbal, manual. O campeão dos pesos-pesados do UFC Anderson Silva, mais conhecido como “Aranha”. Ou “Spider”, para o resto do mundo. A poesia de Aranha se dá no que eu, particularmente, não considero um esporte, a luta livre. Ele consegue bater no seu oponente com a leveza de uma rima e a velocidade de uma prosa. Faz com que seus socos e chutes transformem a poesia “No Meio do Caminho”, de Carlos Drummond, um caminho liso, sem pedras. Até hoje não entendi essa poesia. Aranha explica melhor. A luta livre tem uma história no Rio de Janeiro, fincada pela família de Royce Grace. As características primárias do UFC, já formalizada por Rorion Grace, tem na sua base de filosofia a ideia de que “entravam dois na jaula e só saía um”. A luta não teria nem regra e tempo para limitar a possível sorte de um dos adversários. É tamanha a crescente de fãs e adeptos ao estilo, que acredito que como as outras épocas aconteceram, a pancadaria do UFC passará. Porém, com um abre parêntese gigantesco: a porrada é antiga no mundo e o gene é mais forte do que seguir regras, até a chegada da organização da luta. No tempo de Guga, o maior tenista da história do Brasil, no auge do tênis, esporte visto como elitizado no país, todos queriam ser tenistas e o poeta do tempo era Kuerten. Nas décadas e décadas seguidas do boxe, todos queriam ser o boxeador do momento. Eu ainda prefiro ser Rocky Balboa. E isso determina dizer mais ainda que não gosto deste tipo de incitação a violência. Mas, ao mesmo tempo que acredito ser uma incitação a violência, vejo que a crescente do UFC pode ajudar a tirar crianças e jovens das ruas, das drogas. Mesmo que não veja como esporte machucar seriamente as pessoas.
Anderson Silva é o Muhammad Ali do UFC. Considerado por muitos o melhor lutador de todos os tempos, assim como Ali, cada um na sua especialidade, Silva está invicto há quinze combates. Saindo do octógono, é um homem tranquilo, de fala fina e mansa. Não se vê no seu olhar ou nos punhos a rigidez, a raiva concentrada que o domina no momento do combate. É um poeta. Dentro e fora do sangue. Compõe as melhores lutas, está no topo e na concepção contextual dos grandes combates, e declama através de singelos golpes mortais o seu nome na história do UFC.
Aprecio mais o boxe, mas se você me perguntar quem é o campeão do mundo da categoria, eu não sei dizer nem o primeiro nome do cidadão. Não acompanho UFC, mas as notícias estão sempre a minha frente. Parece um Big Brother. Quanto mais evito, mas me persegue. Em Imperatriz, o evento começa a aparecer fortemente. Já realizado o primeiro UFI, o sucesso permite a realização do segundo, para os próximos meses, e talvez com a presença de um grande lutador brasileiro. Apoio incondicionalmente, até pelo fato de que lutar contra o calendário de shows de Imperatriz é ser nocauteado no primeiro round. Forró versus Phelippe Duarte. Apanho que nem sei o rumo de casa.
Mas Silva é o novo herói da juventude brasileira. Não é bad boy, como a maioria dos fortões já foi ou ainda insiste em ter a imagem de mau. Aranha, por ser brasileiro, nos deixa felizes em vê-lo brilhar pelo mundo. Lembrando outros brasileiros de renome, como Júnior Cigano e José Aldo. Na última luta, José Aldo, após nocautear seu oponente, o que lhe rendeu a continuação de campeão de peso-pena, correu no meio da torcida brasileira, sendo carregado pelos braços, assim como Ayrton Senna foi, em 1993, em sua vitória no Brasil. Então, você entendeu o amor do povo pelo UFC. Eu só ainda não entendo o amor do povo pelo sangue derramado no chão. Mas como todo poeta é contraditório, o que se dirá do gosto dos seus leitores? O homem do UFC não é maldoso, mas gosta de sê-lo, para viver de glórias. Na semana da poesia, Anderson Silva é o meu poeta predileto. Mas não escreve a minha poesia preferida.
Phelippe Duarte
Cronista e poeta
Comentários