Imagina você acordando às duas horas da manhã. Você levanta geralmente pra dar aquela chacoalhada na criança, dar uma esvaziada na bexiga, assaltar a geladeira... e volta pra dormir. Imagina, agora, você acordando às duas horas da manhã. Você coloca a roupa da escola no seu filho, faz uma merenda pra ele, abre a porta e diz: Meu filho, vai com cuidado, a mula está logo ali na porteira (calma, não é a Dilma, eu não disse nada).
O seu filho monta na mula e sai em plena madrugada para chegar à escola. Na mochila, leva seus sonhos ainda presos na escuridão do tempo e da covardia do transporte e das vias públicas. No decorrer do trajeto, existem muitos buracos, alguns rios e córregos. Você sabe que a mula não tem farol, lanterna ou lampião no pescoço. A mula não tem buzina, nem air bag. A mula não tem cadeira ou muito menos ar condicionado. Após quase duas horas, seu filho chega na cidade e deixa a mula em um beco, seguindo a pé por mais dois quilômetros em direção ao local aonde estará o ônibus, e somente então, ele finaliza o trajeto de chegar na sala de aula.
Você imaginou o seu filho nessa vida? Não imaginou. No país que se diz governar para todos, esta é a vida do mineiro Alex José, morador da cidade de Presidente Olegário, zona rural, localizada a 27 km da cidade. Ele enfrenta o desconhecido para ser alguém na vida. Após ficar dois anos sem estudar, esperando condições melhores na estrada, ele não suportou o tempo que estava perdendo e decidiu agir por conta própria. Ele senta na mula e vai em busca de conhecimento. Carinhosamente apelidada de Dilma por mim, a mula leva o rapaz para o futuro, sem medo do presente. O pai do menino, Valderi, disse que fica com o coração na mão em ver o filho saindo numa situação dessas. “Ele acorda muito cedo, sai de madrugada... E ainda tem a questão da distância que tem que percorrer para estudar. É perigoso, pois pode ser que apareça uma onça ou até mesmo a Dilma tropece e ele caia”. O pai comprou o sonho do garoto e não o proibiu, pois sabe que isso fará diferença na vida de Alex. 
Na escola, o menino tenta aproveitar ao máximo o tempo que dispõe na sala de aula. Ele cursa a sexta série do Ensino Fundamental na Escola Municipal Carmem Celina Nogueira. Visando todo o esforço, ele se ampara na força do desejo de alcançar o objetivo traçado. “Eu gosto, quero aprender, formar e ser alguém na vida”. Alex tem quase 15 anos numa sala de meninos e meninas de 09 e 10. A professora o elogia, dizendo que é esforçado e o coloca para sentar na frente, para que sugue o conhecimento perdido e aproveite tudo o que os professores possam ensinar a ele. A prefeitura e seus órgãos responsáveis dizem que para realizar a obra na estrada requer tempo. Eu acredito que durante os dois anos que Alex José ficou esperando a melhora na estrada, o prefeito e seus secretários ainda estavam analisando o que fazer. Alex não tem tempo pra perder. Talvez, se fosse em época de eleição, Alex teria até helicóptero para lhe deixar na sala de aula. Coitado. Sobrou apenas a Dilma.
A educação do Brasil é um reflexo nas costas de Alex e sua pequena mula Dilma. Na madrugada, na estrada com caminho incerto, Alex traça os passos em um pocotó lento, doído e quiçá milagroso. Deixando para trás o medo e o transtorno da pobreza que assola não somente ele, mas o país dentro do nosso país, ele coloca na mochila seus sonhos, que combatem seus pesadelos reais, na esperança de dias melhores. Mas enquanto Alex José estuda, você lembra que ele deixa a mula no beco? Meu Deus, quem será quem que dá água e comida para a mula? Será que rima com Lula?
Seu futuro, Alex, é feito por você. Se depender da política, você será mais uma criança semianalfabeta, dentre tantas por aí. É que o governo atual ensinou que qualquer mula ou jumento pode ser presidente tendo apenas até a 5ª série e até mesmo nem ter exercido nenhum cargo político. Alguns chamam de democracia. Eu chamo de burrice aceitável no país do “tudo se dá um jeito”. Vamos, pica a Dilma, garoto!
Além do horizonte, existe um lugar bonito e tranquilo pra você voar.