Garçom aqui, nesta mesa de bar, vou lhe contar algumas coisas:
O ano de 2013 começou em chamas e não pelos fogos da virada. A fatalidade na boate Kiss foi uma das piores tragédias que já aconteceram no Brasil. Diversos jovens presos dentro de uma boate morreram sufocados. Foram 242 mortos. Um início complicado para todos nós. Os donos da boate respondem a processo, assim como o vocalista da banda que tocava naquela noite, que incitou o incêndio, mesmo que de forma culposa, de acordo com as normas jurídicas criminais.
Logo após um começo de ano dificílimo, outra fatalidade: Rena Calheiros voltou à presidência do Senado, derrotando seu candidato com mais de 40 votos. Deveria ser aberto ao voto público alguns casos de votação entre os políticos. Ou, ao menos, transparência nas urnas. Calheiros elegeu-se por meio de voto secreto. Ainda falando sobre fatalidades, em fevereiro uma médica-chefe de Curitiba inventou o que ela mesma chama de "desentulhar UTI". Devido à superlotação da UTI, a doente mental aplicava a eutanásia em pacientes internados, sem supervisão ou consentimento de parentes. A médica, Virginia Helena Soares Sousa, aguarda o julgamento em liberdade. O fato dela estar em liberdade já demonstra uma eutanásia ao bom senso humano.
Em março, a Comissão dos Direitos Humanos e Minorias elege o deputado Marco Feliciano como seu presidente. O homem é um dos maiores homofóbicos e racistas do últimos tempos e vira presidente da CDH. Meio bizarro, no mínimo. Mais bizarro ainda, e um caso que é mais comum do que fogos de artifício em final de ano, é o do rapaz Alex Siwek, 22 anos. Após sair de uma boate embriagado, ele atropelou e arrancou o braço de um ciclista na avenida Paulista. A justiça concedeu um habeas-corpus e o animal foi liberado. Como sempre, nestes casos, a lei não faz justiça, apenas obedece ao protocolo. Rico? Está solto. Enquanto o ciclista teve do corpus, o braço arrancado. Cada habeas com seu cidadão. O ciclista, de 21 anos, levou a pior.
E o Brasil continuou tratando bem os seus turistas, principalmente os americanos e franceses: O lixo Carlos Armando Costa acabou preso como sendo o último dos três suspeitos de agredir, estuprar e sequestrar um casal dentro de uma van. Ele e seus comparsas pegaram 49 anos de prisão cada. Pouco para o que realmente mereciam.
Mas o Brasil não tem só tragédia não, seu garçom! Tem político ocioso (sempre) também! Durante sessão de votação, o deputado Darcisio Perondi tirou uma soneca especial no plenário da Câmara. Em outros momentos, alguns deputados foram vistos comendo uma galinhada e assistindo ao jogo do Corinthians. Time este que começou o ano campeão mundial e abriu 2013 com sua torcida presa na Bolívia por envolvimento na morte de um rapaz por sinalizador, dentro do estádio. Na ocasião, os chamados torcedores ficaram alguns dias na cadeia de lá. Foram libertados meses depois. E se envolveram em brigas novamente logo depois. Uma verdadeira palhaçada.
E após a morte de Hugo Chávez, dono da maior ditadura duradoura da América Latina, o Brasil acordou para a vagabundagem orçamentária dos seus políticos e a demora na votação da PEC 37. No meio da Copa das Confederações, que ocorreu no país em julho, os jovens brasileiros invadiram as capitais de suas cidades e fizeram manifestações emocionantes. A PEC foi votada, mas alguns dias depois, os políticos voltaram ao costume da ociosidade. E meu amigo de bar, sei que você já cansou de escutar, mas essa é de lascar: Dilma estava sendo espionada pelo presidente Obama. Sua agência de segurança nacional afirmou querer entender melhor a comunicação da presidente com sua equipe. Se fosse no tempo do mensalão...
Falando em mensalão, "Viva o PT", gritou José Genoíno ao entrar na Superintendência da Polícia Federal em São Paulo. Ele foi o primeiro a se entregar de todos os condenados do mensalão, inclusive José Dirceu. "Viva a Justiça, que dessa vez fez justiça".
Pra lembrar mais um caso de corrupção, 500 milhões é a cifra tirada dos cofres públicas pelos auditores da prefeitura de São Paulo, que recebia propina para diminuir imposto para as construtoras. O delator é réu. Luis Alexandre Magalhães confessou que usava sua propina de forma bem idiota: comprava carros de luxo e gastava mais de dez mil reais em baladas. Um tremendo idiota.
Mas o Brasil é maior do que isso. É melhor do que isso. Sempre há de se melhorar, o que vemos todos os dias. Em 2014 é esperar mais esquemas caírem, mais políticos presos e mais marginais encarcerados. De nós, brasileiros de sangue bom, resta-nos fazer o bem que nos sobra. Que é a nossa parte. Fazer o bem, pois de notícia ruim estamos cheios. 2014 é ano de Copa do Mundo aqui no Brasil. Um legado de obras espetaculares e esquemas de superfaturamento idem. E depois que Nelson Mandela partiu (ele não merecia morrer no mesmo ano de Hugo Chávez), ficamos carentes de líderes mundiais. Então vamos votar melhor e com sabedoria neste ano que se inicia! Meu voto é pensar no futuro do meu filho, meu grande presente em 2013, assim como da minha família que a cada dia se renova mais no amor e no entendimento cotidiano como um todo. Reginaldo Rossi é a última personalidade que morreu em 2013. Uma pena. De tantos outros casos que esqueci, meu amigo garçom, só me resta deitar aqui, no chão, de joelhos, e rezar para que 2014 seja o início de novos tempos para todos nós.
PS: Se fosse escrever todos os acontecimentos de 2013, meu espaço não permitiria. Mas já contratei o advogado do Fluminense para resolver isso. Até a próxima!
Phelippe Duarte
Cronista e poeta
Edição Nº 14897
Adeus 2013
Phelippe Duarte
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