A maior homenagem que eu poderia prestar a Adalberto Franklin seria não escrever neste domingo. Um texto sem palavras, pois até as palavras encontram-se de luto. Um pesar que envolve não somente as letras, mas incontáveis livros em estantes, que tinham no seu maior parceiro o olhar do cuidado, do querer bem. Adalberto deixa sua família, sua cidade e seus livros. E me comove. Entristece-me. Dizem que um imortal não morre, ele renasce para a vida eterna. A Academia Imperatrizense de Letras perde um imortal que, antes de ser, já era. Tenho a honra de ter lançado meu segundo livro de poesias pela Ética Editora, no ano de 2009, com supervisão de Adalberto. Para engrandecer mais ainda a obra, ele escreveu o seguinte, na contracapa:
“Diário de um coração é um registro poético-sentimental em que o autor extravasa e expõe as dores e as bonanças das paixões juvenis intensamente vividas, como forma de libertação das cadeias emocionais. Nas páginas de seu Diário, Phelippe Duarte Santos revela as cicatrizes de amores desfeitos, registra o encantamento do pulsar exasperado de uma nova paixão e vibra com a magia do momento do doce estar.
Phelippe cultiva uma poesia cheia de lirismo e sonhos, mas sem ingenuidade; revela um pulsar de coração de quem já atravessou as avalanches do sopé da montanha e toma fôlego para buscar o cume da maturidade literária.
Diário de um coração revela os sentimentos íntimos e muitas vezes secretos de quem se encanta com a vida e com o amor, questão comum a todos nós”.
Adalberto Franklin, editor, membro da AIL
Nós viramos amigos. E, apesar dos contatos não serem mais frequentes, eu lia os seus livros e continuava a admiração pela calma com que falava, a inteligência da qual pensava e o conhecimento estrondoso do qual disponha. Trabalhamos juntos no meu livro alguns meses, e ganhei de presente o título de sua autoria, “Apontamentos e fontes para a história econômica de Imperatriz”, que devorei com a curiosidade de um imperatrizense e o orgulho de estar próximo de grandes nomes da literatura de Imperatriz, como Adalberto.
Na noite de quinta-feira, levei meu filho ao hospital da Unimed para tomar soro, febre de 38° que não sumia. Aplicado o soro no meu filho, vi uma movimentação de várias pessoas saindo da porta central do corredor de atendimento do pronto socorro. Reconheci seus filhos e cumprimentei. Perguntei: Como está seu pai? Ele me respondeu com olhos marejados e um silêncio que me perturbou. Logo mais tarde, várias pessoas já estavam na porta do hospital, então deduzi que o pior tinha acontecido. Eram exatamente 22 horas e 40 minutos. Adalberto lutou muito. Foi um bravo, um forte. Antes de ter sofrido um AVC, eu estava pronto a procurá-lo para editar o livro de 10 anos de crônicas no Jornal O PROGRESSO, que completo agora em maio. Infelizmente, não houve tempo, e agora um vazio me deixa sem ideias de como seguir. Creio que esta será uma das crônicas publicadas no livro. Mesmo que eu tenha faltado com respeito a Adalberto, usando palavras que deviam estar em silêncio absoluto, como luto de um dos seus mais fiéis intelectuais. Palavras que no seu mais absurdo silêncio aplaudem um dos seus maiores mestres. Obrigado, Adalberto Franklin. A sua imortalidade, enfim, ganhou asas.
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