Esqueçamos um pouco Lula, Dilma, Michel Temer, Eduardo Cunha, Waldir Cardoso... deu até medo de ser preso agora. Bem, esqueçamos estes ícones da corrupção ativa e passiva, quiçá reflexiva. O dia é de tentar compreender o velho passado negro de Imperatriz que volta a aparecer em plena luz do dia, não é a pistolagem, mas tem uns tirinhos pelo caminho. Assalto à mão armada, tentativa de sequestro, reação indevida da vítima... Imperatriz e seu buraco negro. Seu unicórnio, o seu famoso pé de Aquiles.
Você está saindo de casa, para trabalhar ou levar os filhos para a escola. De repente, é assaltado, baleado. HUMILHADO. Sim, é uma humilhação quando alguém aponta uma arma pra você, pois a covardia de quem o faz é a sensação de impotência que nos dá. Por isso, a vontade de reagir, num único momento em que não se pensa que reagir é quase dizer adeus a tudo o que temos sem chance de nos despedir. A rua Urbano Santos é indecorosa. Moramos por estas bandas há 30 anos, uma vez ou outra ela nos surpreende. Há algum tempo, a casa de um empresário e farmacêutico bioquímico fora invadida mais de cinco vezes num curto espaço de tempo. Um caso relevante de se lembrar, afinal cinco vezes é só a seleção brasileira. Pois bem.
31 de maio, terça-feira. Lucas Ezir é baleado depois de reagir a um assalto. A bala milagrosamente não matou o garoto. O pai dele, Ezir, há alguns anos, foi assassinado. Mas não é uma sina familiar. É bandidagem, é gente doentia, podre, mesquinha. O assalto, em plena luz do dia, sem medo, faz bandidagem bater o ponto como um funcionário normal. Saem de manhã cedo, tomam um café e devem dialogar:
- Então meu camarada, o serviço de hoje é qual? Matar ou morrer, assaltar ou não?
Dia 01 de junho, quarta-feira. Giovanni Guerra, saindo de casa, percebeu que estava sendo assaltado e jogou o carro para cima da moto dos bandidos. Sem perceber, o outro bandido saiu de dentro da sua casa, já atirando. Mesmo baleado, Giovanni correu para dentro de casa. Milagrosamente, as balas que o atingiram não o levaram a um caso sério de risco de vida. Nestes dois casos, a intervenção divina é evidente. Dificilmente quem reage somente por reagir escapa vivo de uma armadilha dessas. Os bandidos parecem empregados de sua própria barbárie. Liquidam e se sujeitam a um daqueles trabalhos burocráticos, a diferença é que o cliente não é bem atendido, é bem assaltado ou baleado. Quando da votação do armamento ao brasileiro, de andarmos armados até os dentes, eu sempre fui contra. Acredito que violência não se resolva com a violência. Mas depois que Deus me deu a graça de ser pai, eu não saberia qual seria a minha reação se presenciasse uma cena em que meu filho estivesse correndo perigo. Talvez mesmo sem arma, minha maior atitude bélica seria ir mesmo para cima. Se tiver uma arma, bala pra todo lado. É nestas situações que me deparo com um grande dilema moral versus um dilema sentimental. As reações são de acordo com as ações. Mas entre a reação e a ação, existe o tempo hábil de pensar, que é o mesmo que te faz ir em frente. Hoje, depois destes casos e de alguns passados, fica a impressão de que uma época bisonha está voltando. Existe o medo, a insegurança. Não é como atravessar uma rua e olhar para os dois lados, sentir-se seguro, e ir adiante. Não. É temer o que há por vir mesmo olhando para os lados e não vendo nada, pois a bandidagem está camuflada em cada canto dessa cidade. Parece que para termos paz, é preciso realmente ter guerra. Matar ou morrer. Às vezes, seria bem melhor continuar falando de Lula, Dilma, Michel Temer, Eduardo Cunha, Waldir Cardoso... é um tiro pela culatra. Nos resta somente dizer o que Giovanni Guerra falou emocionado: “Um beijo enorme a todos e fiquem com Deus e que Ele e Nossa Senhora continuem a nos proteger”.
Edição Nº 15624
Ação e reação indevida
Phelippe Duarte
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