Este texto é o primeiro de mais três que virão, com o intuito de entender 80 anos em quatro domingos. Se possível ou não, eu não sei. Mas tentarei expressar todo amor que tenho e eu precisaria de mais alguns domingos, para descrever como minha avó Linda merece homenagens e mais homenagens. Vamos ver se tudo sairá a sua altura, mesmo que ela não tenha lá seus 1,80, mas tem seus 2,00 metros de fé, amor força e coragem em 80 anos de vida.
O ano era 1936, bissexto, com 366 dias do calendário gregoriano. Teve 53 semanas, iniciando-se numa quarta-feira e terminando numa quinta-feira. No Brasil uma década importante, populista. Getúlio Vargas comandava o país pela 1ª vez e começava ali uma caminhada para a eternidade. Nesta década Imperatriz era uma cidade pequena, sem calçamento, sem belas casas ou ostentação. O jornal da época era A Luz, composto por quatro páginas. O jornal, A Luz, poderia ter dado total destaque para a luz que surgia no dia 09 de fevereiro de 1936. Nascia neste dia, Lindioneza de Jesus Cortez Moreira, filha de Simplício Alves Moreira e Olívia Moreira. Quando nasceu, sua irmã mais velha Zequinha Moreira, a tia Zeca, na época com 09 anos, pensou que um gato estava miando. Não, não era um gato. Era um brado forte, de uma criança que viria a se tornar uma mulher única. Após seu nascimento, fora levada para ser batizada em casa, depois levada à igreja para receber os Santos Olhos, pois segundo tia Zeca, estaria com impaludismo. O seu pai, Simplício Alves Moreira, era político e comerciante, um dos prefeitos mais populares da história de Imperatriz. Sua mãe, Olívia Moreira, uma mulher amorosa, carinhosa, rígida e que amava a todos de uma forma inigualável. Os estudos de Linda começaram na Escola Santa Teresinha até a 5ª série quando depois foi para Belém ficando por lá 07 anos, após passar no exame de admissão. Cursou Contabilidade, formando-se, voltando para Imperatriz pouco tempo depois. Não tinha tempo para passar as férias com a família, dedicando-se somente aos estudos. Aqui mesmo em Imperatriz, ainda obteve aulas práticas de Contabilidade com o Sr. Rubens Lima.
Na década de 40, o jornal que circulava na cidade era O Astro, de direção do seu pai Simplício, na época filiado ao Partido Social Trabalhista. No 1º exemplar do jornal documentado, os redatores chamavam a população para o reconhecimento nacional de Imperatriz, a despertarem de um sono, de uma inércia, ante uma década de guerras e destruição mundial. “Imperatrizense, tu que queres ver o progresso da tua terra, tu que almeija vê-la destacando-se no cenário brasileiro como fonte industrial, agrícola e intelectual, coopera com o Partido Social Trabalhista para a grandeza e felicidade de toda tua querida Imperatriz.” Outro artigo este já publicitário, dizia: “A casa Águia de Ouro de Ribeiro e irmão, comunicam destinta freguezia que acaba de receber recentemente um sortimento de sapatos para homens, senhoras, meninos, rapazes e crianças desde os primeiros dias de nascido, assim como chinelos solados de borracha e a ponto.” Os costumes, a política, os jornais, em 1936 o ano, a década, tudo parecia ter um charme irreal devido às circunstâncias ditatoriais e populistas da época. Eram conceitos nobres, não tão distante de uma pobreza hoje ainda atual, mas uma nobreza que não se vê mais, seja na gramática ou na vida. Na cabeça da menina Linda, a nocividade poderia ser passageira, pois mesmo ela sem saber, a sua vida estaria prestes a tomar outros rumos. Domingo que vem, tem mais Linda para deleite de nossos olhos.
#linda80.
Edição Nº 15509
1 - O COMEÇO DE TUDO -
Phelippe Duarte
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