E por fim, para dar início, chegamos ao último texto dos 04 que contam um pedaço da história de 08 décadas da minha avó Linda. Ao contrário, 80 anos. Juntando os títulos dos textos, você encontra o ano de nascimento de Linda, 1936. Estão, agora, completos. Leiam! E se não quiserem, acreditem, é bom ler.
Nos anos 80, Linda teve uma grande surpresa: Ganhou o seu primeiro neto, Hygor Duarte, da sua filha Dulce. Deus mandou alegria para uma casa que há pouco tempo tinha passado pela perda irreparável de Sebastião Curt. Logo no ano seguinte, 1984, a filha mais velha, Alda Olívia, casa com Cleonir Ferreira Santos, e as más línguas dizem que Alda já casou grávida. As línguas estavam certas. Até as que trabalharam para que isso acontecesse. (Pula essa parte, é minha mãe, pô!) Em seguida, vieram os irmãos de Phelippe, o Caio, 1986, e em 1990, Pedro. Depois Layssa, também de Dulce. Netos pela casa, vida tranquila, anos 80 e seus dias de glória ficando para trás... Boates como Fly Back, em Imperatriz, eram a sensação da noite na cidade. Ainda em 1990, Linda casa a segunda filha, Concita, com U-Everton Braçale, músico, radialista e nas horas vagas, piadista.
Olívia, mãe de minha avó Linda, era uma mulher forte, sensível, disciplinadora e sagaz. Tudo mudou, quando dias antes do nascimento de seu 4º neto, Pedro, em 19 de março, Olívia perdeu seu filho mais velho, Jonas. Depois deste dia, ela se calou, os olhos encheram-se de tristeza. Lembro do último aniversário dela, eu então com 08 anos de idade, todos ao redor felizes na chácara do Tio Augusto, irmão da minha avó, e ela sempre com o semblante olhando para o nada. Em 1993, no mês de janeiro, Olívia, minha bisavó, chamada carinhosamente de vovó, faleceu. Parecia mais um ponto final na história de Linda. Sua mãe, guerreira, viúva de Simplício Moreira, partia para o encontro de Deus. Ela não suportaria o que estava por vir. Podemos dizer que Deus foi grandioso. No ano de 1993, Linda, assim como toda a família, tem um baque. O seu irmão Renato Moreira, então prefeito de Imperatriz, é assassinado brutalmente no mercadinho Bom Jesus, logo na esquina de sua casa, às 06:30 horas. Lá se vão quase 23 anos de um assassinato sem escrúpulos. Vovó Olívia não suportaria. Assim como toda a família não suporta esta lembrança mortal até hoje. Linda entrou em desespero junto a todos. Lembro que minha mãe, Alda, corria chorando sem rumo dentro de casa. Foi uma época não para ser esquecida, mas para lembrarmos de como funcionam as coisas em nossa cidade, se você não concorda com certas coisas no seu meio político. Se não é na bala, é no tiro. Ou uma covardia menos fatídica, mas não com menos barbárie. Este capítulo é uma mancha vermelha na família Cortez Moreira. Passando o tempo, Linda ganhou mais netos. Vieram Olivinha, filha de Concita, Lívia, de Dulce e Quésia e Hércules, do casamento de Bastico e Gilmara, e Curt Neto. Curt Neto é um caso à parte nos netos de Linda. Ainda recém-nascido, o filho de Paulo Sérgio e Elis nos deixou. Curt Neto é o primo que carregou por alguns meses o nome do nosso avô. Ele nos visitou pra dizer que valia a pena continuar acreditando no amor e que, mesmo que tivesse que ir embora, saberíamos que ele sempre renasceria em nossos corações. Paulo Sérgio e toda a família choraram junto. E também choraram de alegria quando Deus enviou Sérgio, seu segundo filho. Os dois moraram muitos anos nos Estados Unidos. Voltaram em 2013, dando uma alegria imensa na vida de Linda. Ao longo dos anos, Linda foi vendo seus irmãos partirem. Jonas, Renato, Moreirinha e Augusto, todos antes ou no início da idade dos 60 anos. Francisco e Antônio são os seus únicos irmãos hoje.
Suas irmãs, que tanto estiveram ao seu lado, Graça, Fátima, Alzira, Dulce, Isabel, Raimundinha e Terezinha, a tia Teca, estão todas firmes, fortes e saudáveis. Zeca, a mais velha, faleceu em dezembro de 2015, após uma longa luta pela vida. Para Linda, além das outras irmãs, ela e Teca têm uma forte relação. Teca também lhe ajudou muito quando Linda ficara viúva, assim como Linda quando Teca perdeu Tio Roberto, seu marido. Linda sempre esteve ao seu lado nos momentos mais difíceis. Em 2009, o seu primeiro genro, Cleonir, falece em outubro, dois dias antes de completar 53 anos, após lutar 01 ano e 8 meses contra um câncer de pulmão. Os anos 2000 foram duros. Hoje, linda tem 03 bisnetos. A mais velha, Isis, veio sem a gente perceber e chegou de mansinho. Isis é filha de Caio, segundo filho de Alda, e tem 08 anos. O segundo bisneto é o meu filho Benício, com 02 anos e 04 meses, e a pequena Nicole, filha de sua neta Quezia Olívia. As tristezas cicatrizaram o coração da minha avó e o amor dela pela família fortificou a sua vida como uma fera ferida em busca do saboroso alimento: o amor.
No dia 09 de fevereiro, Linda faz 80 anos com os mesmos primeiros passinhos curtos que deu em 1936. Saudável, forte como uma leoa, vive dizendo que sua hora está próxima, que não verá mais ninguém crescer. A sua hora realmente chegou, minha vó. Chegou a hora de celebrar tua vida, tua história, teu momento. São 80 anos bem vividos, com traços de perdas e retratos de felicidade. Eu não estarei aqui no dia dos seus 80 anos. Tinha uma viagem programada há um ano. Displicência de um neto que às vezes vacila muito, mas que tem você sempre por perto, te carregando nos olhos e no coração. Quero te pedir desculpas por me ausentar neste dia. Mas, quando chegar, quero tomar aquela cervejinha na porta da sua casa e comer aquele macarrão que só a senhora sabe fazer pra mim. A vida não é fácil, vó. Mas seria muito mais complicada esta vida se não existisse você. Parabéns! Você chega aos 80 com corpinho de 40, a mente sã, o peito viril e o amor da família cada vez maior. E com certeza, meu avô, seus irmãos, seus pais e tia Zeca estão cantando um “Glória Aleluia” nos céus em sua homenagem! Eu te amo! Abaixo, trecho de uma música que a senhora adora e eu lembro somente da senhora, Fascinação:
“Os sonhos mais lindos sonhei
De quimeras mil um castelo ergui
E no teu olhar, tonto de emoção
Com sofreguidão mil venturas previ
O teu corpo é luz, sedução
Poema divino cheio de esplendor
Teu sorriso prende, inebria e entontece
És fascinação, amor...”
Linda, fascina, és amor, minha vó. Tu és amor.
80 vezes amor.
Edição Nº 15527
- 6 - O amor sempre vence
Phelippe Duarte
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