Essa estória tem um endereço certo: Mercadinho. Como lá se encontra forma por fusão das imagens individuais, que genericamente o comentário é ouvido e exposto.
Num domingo bem recente, fui à feira a procura de congêneres e objetivando, também, assuntar o vai e vem de prosas e conversas comparativas de acordo com a cultura dos feirantes.
Nisso, aproveitei para tomar um cafezinho com leite numa das bancas espalhadas naquele entorno. Servido do café, chega um feirante supostamente com mais de 60 anos de idade.
Momentaneamente e sem demora, pede à senhora dona da banca que sirva um café preto e em seguida pediu também um “vereador” para o deleite do primeiro almoço da manhã.
Aquele gesto me chamou atenção. Um vereador?! A senhora já sabia do que se tratava, abriu um recipiente de plástico e tirou um bolo de tapioca frito – aquele bolo típico nosso, com as duas ‘pernas’ enroladas. Não me contive em perguntar para aquela figura simbólica por que ele chamava o bolo de vereador?
Não titubeou e respondeu: “Porque todos os vereadores são enrolados!”. Quá, quá, quá! Continuou falando: “É do tipo de produto genérico, a gente escolhe desconfiado de que não é bom”.
Esses defeitos assoprados instantaneamente me chamam a atenção pela verbalização comparativa de seus sentimentos.
Cocei a cabeça e me atrevi em perguntar ao prosador: “E o prefeito, qual o tipo de bolo feito de tapioca e como se chama?”
Também não pestanejou. O bolo chamado de prefeito tem mais fermento, é mais branco, feito de mandioca puba e as pernas enroladas são grossas, degustado com café e Nescau. Ah! É por isso que o Mercado Velho é bem visitado por estas personagens!
Em contrapartida, é um genérico de melhor qualidade, embora seus efeitos sejam mais acentuados e indigestos quando a massa não é bem preparada.
Após ouvir atentamente o vocabulário caboclo, de suposição, de fingimento, se contextualiza tudo, fazendo estórias hilariantes que o eixo do Mercadinho produz.
Sempre comento que no dia em que a feira do Mercadinho deixar de existir, pode dizer assim:
“Como é bom contemplar o céu, interrogar uma estrela e pensar que ao longe, bem longe, outra feira livre premia esse mesmo céu, essa mesma estrela, e dizer em voz baixinha: ‘Saudade!”.
Para um domingo de reflexão... “Só uma coisa torna o sonho impossível: o medo de fracassar”.
Edição Nº 15094
Vereador é simulado como genérico
Nelson Bandeira
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