Nelson Bandeira

Hoje em nossa cidade tem muitos pontos que vendem galinha caipira ao molho pardo, sem molho, bem cozido ao gosto do freguês. Muitos degustadores procuram locais como estes para fazer suas refeições.
Com certeza, essas preferências não têm nenhuma conotação religiosa ou filosófica – é desejo mesmo por esse tipo de ave.
Esse tipo de prato vem sempre acompanhado de arroz branco, como complemento uma porção de farinha da região, dando um ‘tchan’ para uma boa degustação.
Por questão de preferência, a maioria escolhe certo ambiente arejado, de frente para ruas ou avenidas, com mesas expostas, e se inteiram do que está acontecendo com os transeuntes que passam próximo ao local gastronômico.
Os proprietários desses lugares sempre dispõem de pequenos quintais para criar e engordar essas aves, e depois abater para o consumo de seus clientes.
A cidade também tem muitos ‘especialistas’ em rapinar essas criações. Um desses malandros roubou do quintal de uma senhora um galo de raça, de grande estima, conhecido como “Taradão do Buraco Fundo”.
Galo é o macho da galinha, apesar de ela não gostar que diga isso, mas é assim mesmo. O galo é o cara. O proprietário comprou o Taradão do Buraco Fundo das mãos de um lunfa, com os ovos galados para fazer as galinhas felizes antes de irem para a faca e depois a panela.
Numa bela manhã, já no horário de almoço, a dona de seu reprodutor - que alegrava muito o seu quintal com o seu “cucuritar” ao amanhecer e anoitecer - procurou o bicho.
Passando momentaneamente, ouviu o cantar em extrema solidão de seu amado galo. Parou, observou, sentiu que aquele “cocoricar” era do Taradão do Buraco Fundo. Exprimindo naquela hora muita saudade.
Dirigiu-se ao dono do ambiente, pediu-lhe que mostrasse o galo que catava no seu terreiro. O dono, com a cara de bom amigo, com aquele bigode-de-gato, mandou à senhora adentrar o quintal.
Para surpresa do comprador do galo roubado, a dona chamou o bonitão pelo nome e este, num gesto exibicionista, tipicamente machista, cerrou os punhos e fez sinal: “Me leva daqui que estou com saudade do meu terreiro. Meu destino nessa casa é panela de pressão”.
O inquieto dono do ambiente gastronômico de galinhas, galos, patos, capotes, perus, não se conteve com o pedido de piedade e lamúria da dona do tarado. Devolveu o desvalido animal cognominado de Taradão do Buraco Fundo.
Com isso, o quintal recebeu de volta o galo angustiado por ter sido roubado; só assim, o sol nasce pela força do seu canto. Pertence orgulhosamente à linhagem dos levantadores do sol.
Parabéns pela gesticulação de sensibilidade do Bigode-de-Gato, evitando, assim, um vexame como receptador do galo roubado.