As barbearias tradicionais que ainda existem compostas de uma cadeira, uma bacia de água e uma navalha. Esses são os utensílios usados pelo sempre presente para o homem, como o exercício do ofício de barbeiro.
Além de um estabelecimento onde os homens cortam o cabelo e fazem a barba, ainda é o ponto de encontro para conversar de assuntos como política, atualidades e, é claro, mulher.
Assim, é umas dessas tira-cabelo-barba que fica localizada na zona de conflito do mercadinho. O barbeiro de lá, por sinal, faz jus à profissão que exerce.
Em se tratando de um trabalho reconhecido e milenar, tem mais tempo que se imagina.
O operário da tesoura, bem ágil com os dedos das mãos, e portador de uma língua afiada para conversar sobre assuntos momentâneos.
Para cada corte de cabelo tem uma história diferente; como se fosse um paliativo para acalmar o cliente, de acordo com sua conveniência.
Sempre o nome da “MULHER” é o que mais rola; a mesma coisa do salão de beleza que o diabo mais comentado é o “HOMEM”; o barbeiro é conhecido como “pedroca”, demonstra ter vindo de uma escola técnica especializada em pelos e cabelos.
Esbanja muitas versões empíricas, como conquistar, seduzir, enlouquecer e despachar, diante das causas amorosas e confessadas dentro da barbearia.
Vamos contar essa:
Chega um cliente com seus mais de sessenta aninhos de idade, cabelos já bem grisalhos, sem uso de tinturas e shampoos – bem prateados.
O barbeiro, com o seu manuseio, com sua preciosa tesoura, trabalhando suavemente na cabeleira do coroa.
Quando o cliente não puxa assunto, o navalha provoca... aí vem a pergunta: como está a família?
O sessentão responde que estava muito bem, mas um mês atrás a situação começou a tomar outro rumo do convívio de marido e mulher.
No jogo verbal, o cliente confessou para o penteador que sua amada era mais nova do que ele uns vinte anos de idade. Correndo perigo, diz o tramela.
Ficamos morando no mesmo teto mais de vinte anos; vivendo uma vida prazerosa, respeitosa, sempre confirmando que precisava dela por mais uma vida... então, existiu um amor profundo, com certeza. Isso é que anima o homem! Falou o linguão.
A companheira nunca tinha demonstrado algo que contrariasse suas convivências. O barbeiro sempre intermediando com palavra respeitosa com o pensamento no juramento sagrado... sabido mais do que peregrino sobre indagações divinas! O bicho é metido todo.
Por conseguinte, o barbeiro apresentado provoca no quesito de saber mais das coisas. E pergunta com todo o remorso qual foi a causa desse fuzuê?
Nisso o coroa, com o coração quebrado e o espírito contrito, revela logo pra quem!... para o barbeiro.
Que sua mulher pediu para o coroa que pintasse seu cabelo de preto. Por qual motivo você está pedindo isso? Questionou o desconfiado traído.
Não amor meu, é para você ficar mais jovem, alegre, chistoso... que conversa é essa mulher? Tu estás me tirando do sério?
Todavia, passou para concentração do espírito sobre si próprio. E tomou uma decisão que não cede ou se abala diante de súplicas.
À frente dessas enrascadas todas, o coroa chamou-a companheira e anunciou sua decisão irreconciliável casamenteiramente.
“Você foi tudo na vida para mim; com o prenúncio de seu desejo, foi tudo de ribanceira abaixo”.
Arrume suas trochas e procure um homem que já tenha cabelos pretos; já estou vencido e passando pelas três fases da vida e enfrentando firmemente: a de cair os dentes; de escarnar as carnes e morrer. Portanto, vá com Deus!
A ardilosa mão dura para se compactuar com as dores do coroa seu cliente, disse que a medida tomada foi muito acertada, porque se livrou da cabeça e do chifre. Pense numa língua!
Depois de tudo isso, o coroa se despede do barbeiro e cita um adágio popular para o operário da arte da tesoura:
“Coração de mulher é igual circo, sempre cabe mais um palhaço”... E o homem da cadeira... tudo é possível amigo! O roda dura é mais liso do que baba de candiru.
Na barbearia é assim: “Quanto mais sabemos mais sabemos quanto falta saber”.
Um bom domingo! PAPAI assista seu time jogar beliscando a Verão!
Parabéns pelo teu dia!
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