Nelson Bandeira
Quando escolhi a expressão “O Ferrolhão de Igreja” foi para hipoteticamente contextualizar a força do compromisso do passado com o presente. Vejamos:
Casamento e Democracia:
Observe como no passado se honrava os compromissos de qualquer estirpe que a vida proporcionava. É bem que se diga assim – a expectativa de apropriar-se daquilo que seria honrado.
A começar pelo casamento. Quanto ao ato, é com efeito civil e religioso. É o que mais acontecia nestas cerimônias. O padre ou pastor dirigia-se aos nubentes e prolatava e eles com ressonância para os convidados e familiares ouvirem pelas suas próprias “boquinhas” daquela futura família a se constituir.
“Prometo amá-lo, honrá-lo, respeitá-lo, ajudá-lo (tenha muita calma sobre isso), na enfermidade (funerárias com belíssimas promoções), ou na saúde (Socorrão anda lotado), ou na adversidade (bancos estão oferecendo crédito bom para todos), e manter-se fiel a Ela (fel puro) enquanto os dois viverem?”. (Loteca à disposição).
Na época do homem ferrolhão, tudo era o contrário de hoje. Roupas, cuecas, sapato, calcinhas com l2x2 botões nas laterais, além da anágua, mais seguro do que dinheiro de pobre.
Os recém-casados na noite de núpcias, para chegar ao momento “H”, até se despirem correspondia a um dia de trabalho na roça, era uma suadeira dos diabos (desabotoar 24 botões de osso puro), arriar aquele cuecão samba-canção, por força da obrigação do compromisso assumido.
Antigamente, os relógios de paredes, e naquela hora certa de qualquer atividade obrigatória, a pombinha botava a cabecinha para fora e começava a cantar... O homem daqueles tempos não era diferente, quando se excitava botava sua cabecinha do fogo na fenda da cueca samba-canção para anunciar sua disposição.
Hoje tudo é afrodisíaco. Camisinhas com sabor de tudo que é fruta, desde o pequi ao bacuri.
A maioria das mulheres não usa mais calcinha - o uso é antidemocrático; dá muito trabalho para o exercício da empreitada nos encontros amorosos ou da própria satisfação orgânica.
Na época do ferrolhão, quando a mulher estava prestes a parir, o inditoso esposo tinha que comprar 40 frangos capados, um saco de farinha seca, para a distinta comer durante os quarenta dias, ingerindo como prevenção litros e litros de água inglesa.
Hoje, com os direitos individuais muito defendidos, a parturiente com 20 dias de bruguelo novo já está prenha novamente, sem qualquer resguardo (nem frango nem água inglesa).
O noivo da época do ferrolhão vendia tudo o que tinha para ir ao garimpo de “Jacareacanga” comprar o ouro para fazer as alianças.
Se esse costume tivesse permanecido, hoje teríamos muitas mulheres e homens sem o dedo anelar da mão esquerda. Decepadas pelos ladrões que campeiam soltos sem medo de agir.
Peço para retirar-me dessa retórica do passado, na esperança de que “A vida une as pessoas certas no momento certo”. Até pela internet. Que este seja o destino: amar, viver e começar cada dia juntos (pelo menos).
Tenha um domingo de paz!
Edição Nº 14989
O ferrolhão da igreja
Nelson Bandeira
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