Nelson Bandeira

Vamos nos ater à variação temporal sobre o cemitério, buscando assim no latim “tardio coemeterium”, derivado do grego “pôr a jazer” ou “fazer deitar” aos terrenos destinados à sepultura de seus mortos.
Desta origem procurei abordar algo sobre pessoas que ali estão, ou acolá, repousando eternamente, nascidas do ventre de uma mulher como fruto precioso e voltando desagradavelmente para a morada definitiva dos mortos.
Afastando-nos da ignorância e como ser individual que faz parte do meio onde está inserido, fiquei analisando, quantas inteligências, intelectualidades, capacidades, habilidades, eficiências, maestrias, trabalhadores, enterradas e insubstituíveis para sempre.
Acompanhando as viagens do tempo, há de se convir com duas separações de épocas: o passado e o presente – passado como processo de aprendizado e buscado como competência, habilidade e conhecimento, valores reconhecidos socialmente e esquecidos sepulturamente.
O presente: indica a ação de avançar com menos ou porque não dizer, muito, a falta de querer aprender e ter essas meritoriedades gravadas. Talvez, os mundos tecnológicos os incentivaram para tanto.
Se pensar com a forma de garimpar, poucos se mostrarão como futuras lembranças perpétuas.
Na modernidade dos campos santos de hoje, os depósitos dos restos mortais não se fazem mais com prédios e residências de lembranças, para colocar seus entes queridos, somente uma placa indicativa ensina a sua última morada.
Os cemitérios, em sua maioria, são particulares, bem gramados e com muitos perfumes exalados pelas flores de jasmins plantadas aos seus arredores.
Postei-me debaixo de um pé de figueira na despedida de um amigo em São Luís (MA), fiquei a meditar sobre tantos cérebros capazes servindo de alimento para a terra, ou melhor, sem mais utilidade.
Mas, diante de toda essa contemplação, tem a parte hilariante da coisa: chega um cidadão, pela amostragem ser de pouca leitura, observando aquelas ruas com suas denominações, as quadras do cemitério, e comenta assim com sua companheira: “Essa família de ‘Jazigo’ é muito grande, não é minha preta?!”.
Ou seja, são os apartamentos ainda não ocupados. Que na realidade serão usados por futuros inquilinos, sem sombra de dúvidas, desde que estejam vivos.
Simbolicamente, tudo isso é acompanhado de uma formalidade grande para sepultar alguém e muitos reconhecidos como verdadeiros eruditos e a própria importância que tem o ser humano despido de tudo, são muitas circunstâncias no apagar da vida.
Restando somente uma coisa de pura certeza: uns com prédios, com arquiteturas religiosas chamadas “gavetão”, e outros endereçados para o buracão de terra pura.
No velório do mais aquinhoado, a viúva prostra-se diante do caixão de seu falecido, toda de preto, véu preto cobrindo o rosto, óculos escuros, chorando baixo e lágrimas recolhidas por guardanapos.
Dos menos favorecidos, as viúvas espalham catarro pra tudo que é lado e pedindo para seu falecido levá-la junto com ele. É um paradoxo lastimável!
A morte não é um débito que se esteja ansioso por pagar. Mas, que é certeza, não tenha dúvida.