Velhos carnavais da ilha amaldiçoada, com direito a aquecimento para entrar no corredor da folia, degustando antes um caldo feito de cabeça de pescada amarela com bastante pimenta malagueta, ali na rua do Norte, na Praça da Saudade, frente para o Cemitério do Gavião.
Como o fluxo de gente era muito grande nos finais de semana (sábados e domingos), instalaram uma delegacia de polícia para manter a paz, segurança e resolver todas as encrencas provindas de lá.
Os mortos residentes no Cemitério do Gavião, ninguém sabe como ficou a audição deles depois de sepultados. Mas, segundo o espiritismo, as almas campeiam soltas, especialmente aquelas festeiras e que adoravam um fuzuê!
Com certeza, nesse período devem requebrar bem o esqueleto ao som de marchas e frevos. Se o campo santo é apropriado para o sossego perpétuo, neste período os túmulos tremem de tanta folia. Aguentem, almas benditas!
Essa praça é uma continuação da Madre Deus; eixo principal da reunião de blocos carnavalescos e muitas alegorias... o que mais brilha são os “fofões” com macacões de chita coloridas e máscaras apavorantes.
Num desses fins de semana festivos (sábado) a praça tremia de foliões, cada um com sua sacanagem, para o delírio de cada brincante.
Com o uso de máscaras, os fofões ficavam desconhecidos – se era de homem, mulher, casado (a) solteiro (a), ninguém sabia...! Era uma mistura de sexo e estado civil, e por aí vai.
Em dado momento, um dos participantes abre seu fofão, tira um tresoitão e sapeca três tiros pra cima... ah meu amigo! Pense numa desarrumada de gente com medo de bala perdida!
Com esse desarranjo, toda a turma segurou o meliante fofão; nisso a polícia chega e coloca-o no camburão.
O povão seguiu atrás da viatura até a delegacia para saber quem era esse desmancha prazer!
O comissário do dia correu apertado porque o povo queria falar com o delegado de plantão daquele distrito policial. Orra meu!
Botaram o fofão numa sala para desvestir o cara de pau folião; nisso, o comissário pediu silêncio para anunciar o nome do infrator.
Adivinhe quem era o farsante espigaitado! Para espanto de todos, quem deu os tiros a esmo foi o DELEGADO de plantão cheio da manguaça. Pense num rebuliço!
E para fechar as cortinas do espetáculo carnavalesco, o violador mandou dizer para os eufóricos brincantes da Praça da Saudade: “Que delegado é de carne e osso, e tem o direito de brincar, embora desobediente e com abuso à ordem pública”.
Hoje, as coisas não são como antigamente; as tradições estão desmilinguidas no espaço e no tempo.
Houve inversão do cenário de ontem para o atual de que tem muita gente que gosta tanto de carnaval, que vive o ano inteiro de máscara.
No mundo alambiqueiro em que se vive tudo é possível. As coisas nunca são tão boas quanto esperamos, nem tão ruins quanto tememos.
Finalmente: tudo acabou na terça-feira... A mentira, o cansaço, a coragem... E voaram nas asas da fantasia.
Tenha um bom domingo.
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