Causo XXV – Chumbo Trocado

Quando projetei escrever esta obra, fiz uma previsão que 25 “causos” seriam contados e agora, com a meta já atingida, vou encerrar este trabalho contando o acontecido no final da década de oitenta para início da década de noventa, não lembro bem se em 1989 ou em 1990, ou até mesmo em 1001, tendo como cenário a agência do Banco do Brasil, localizada na Praça das Nações, e como personagem principal uma brilhante jornalista, de nome Darila Pereira (é isto mesmo, Darila, e não Dalira, como é mais comum), que na época dirigia o jornal O Progresso do Tocantins, ao qual eu colaborava como articulista e repórter. Darila Pereira, por volta de 1993, foi embora de Araguaína, e a última notícia que tive dela foi há uns oito anos, quando soube que ela estava trabalhando na cidade de Sinop, no Estado do Mato Grosso.
Darila Pereira era uma pessoa sensacional. De estatura baixa, mas de uma grandeza interior sem igual, usava uns óculos tipo “fundo de garrafa”, escrevia maravilhosamente bem, mas a principal característica da sua personalidade era a coragem. Nada lhe fazia medo, enfrentava a tudo de peito aberto, e diante da sua máquina de escrever (na época ainda não existia o tal computador) denunciava as irregularidades, os atos de corrupção, as malandragens e malefícios dos políticos, fosse ele quem fosse.
Para se ter uma ideia da coragem da Darila, no ano de 1990, quando da campanha eleitoral para o governo do estado do Tocantins, disputado pelos dois Moisés – o Avelino, do PMDB, que foi eleito, e o Abrão, apoiado pelo então governador Siqueira Campos – chegou à redação de “O Progresso do Tocantins”, na época funcionando na Avenida Cônego João Lima, no primeiro andar do prédio onde hoje funciona o Hotel Serra Negra, uma denúncia que havia um complô para assassinar um desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Tocantins. De posse da denúncia, Darila Pereira iniciou uma minuciosa investigação, e ao comprovar a sua veracidade, não pensou duas vezes e me disse: “Jauro, nós vamos publicar esta matéria no jornal do próximo domingo”.
Lembro-me que na tarde da sexta-feira eu e ela viajamos em um Fusquinha amarelo com destino à cidade de Imperatriz, para tentar convencermos  o diretor-presidente do jornal, Sergio Godinho, a autorizar a publicação da polêmica matéria. Foi muita conversação, muitos argumentos e contra-argumentos, e após a autorização ser concedida, a matéria foi publicada e na madrugada de domingo, com um total de 5.000 exemplares do jornal no porta-malas do carro, retornamos a Araguaína. Na tarde daquele domingo, os exemplares foram distribuídos gratuitamente, causando uma repercussão muito grande. Como tal fato aconteceu poucos dias antes das eleições, alguns “experts” da política local diziam que tal publicação teve um papel decisivo na eleição de Moisés Avelino para o governo do estado, mandato 1991 a 1994.
Aquela denúncia nos deixou deveras temerosos, pois a todos os momentos a redação do jornal recebia a visita de pessoas mal-encaradas, além de telefonemas ameaçadores. Graças a Deus nada nos aconteceu, nem a mim, nem a Darila, nem a nossa equipe de trabalho, da qual faziam parte a colunista social Cida Leão, a nossa secretária geral Vera Lúcia (hoje casado com Edilson, chefe dos Correios em Babaçulândia), e o não menos brilhante e competente jornalista Helder Peixoto, hoje prestando serviços na capital do estado, Palmas.
Quanto ao “causo” de agora, repito, não recordo se foi em 1989, 1990 ou 1991. A agência do Banco do Brasil, em Araguaína, foi assaltada por 5 bandidos fortemente armados, promovendo um verdadeiro show de violência e selvageria, mas graças a Deus não houve vítima fatal, apenas com ferimentos leves, além das humilhações sofridas. Vale registrar que passado o susto causado pelo clima de terror, surgiram várias piadas sobre o acontecido. Segundo uma dessas piadas, na hora em que os bandidos iam se retirando do banco, um dos funcionários chamou o chefe e disse: “Ei, seu bandido! Ainda tem umas moedinhas aqui no meu caixa!”. Algumas vezes tenho conversado sobre esta piada com o meu grande amigo/irmão Abelardo Américo, funcionário há mais de 30 anos do Banco do Brasil e que lá estava na hora do assalto, e ele me garante, jura até de mãos postas, que isto nunca aconteceu. “Quando eles iam saindo, a gente ficou foi rezando para que não voltassem”, afirma sempre o Abelardo Américo.
Na hora do assalto, a jornalista Darila Pereira estava comigo e a Vera Lúcia na redação do jornal, e quando alguém telefonou avisando que o Banco do Brasil estava sendo assaltado, ela imediatamente pegou a sua máquina fotográfica, desceu correndo as escadas e continuou correndo até a agência, que ficava a uma distância de pouco mais de 200 metros. Uma grande concentração humana se postava em frente à agência, com a Darila empurrando um aqui, outro ali, e quando menos se esperava, já estava dentro da agência, frente a frente com um dos bandidos, que devia ser o chefe da quadrilha. Darila Pereira mirou a máquina fotográfica bem no rosto do bandido, que de imediato lhe apontou um revólver afirmando: “Dispara aí que eu disparo daqui!”.
Infelizmente, a fotografia não foi tirada, mas felizmente a corajosa jornalista só voltou a si depois de colocarem no seu nariz muito álcool para cheirar, e os bandidos já estarem longe, levando o dinheiro do Banco do Brasil.