Causo VIII - “Macaco velho não mete a mão em cumbuca”
Lembro-me perfeitamente que ainda quando era pequeno, portanto lá se vão mais de sessenta anos, no meu querido Acaraú, município cearense que, para a minha honra e o meu orgulho, me serviu de berço natal, eu escutava dos mais idosos, inclusive do meu velho e saudoso pai, um sábio conselheiro que me serviu de título para este “causo” de agora: “Macaco velho não mete a mão em cumbuca!”, o que significa dizer que todos nós, seres humanos, precisamos ter todo o cuidado e cautela no nosso dia-a-dia, procurando não se meter na vida de quem quer que seja.
Embora deste sábio conselho e de tantos e tantos outros similares, confesso ter feito justamente o contrário, reconhecendo ter como um dos meus divertimentos prediletos “falar mal da vida alheia”. Não foi uma, nem duas, nem dez ou cem vezes em que eu “quebrei a cara” devido à minha falta de prudência, a minha insensatez, e as minhas inconsequências diante dos fatos que surgem no cotidiano. Mas devido à minha experiência de vida, que já me causou os cabelos brancos, se antes eu era um incendiário, tocando fogo em tudo e em todos, hoje me considero um bombeiro, apagando o fogo e não deixando uma só labareda, por menor que seja.
O “causo” agora a ser narrado está muito relacionado com o adágio título desta narrativa. Só que não fui eu quem meteu a mão em cumbuca, mas sim o então nobre e atuante vereador araguainense Antônio Leite Ramos, por sinal ocupante no plenário da Câmara Municipal de Araguaína por três mandatos, mais precisamente de 1983 a 1988, de 1989 a 1992 e de 1993 a 1996. Vale ressaltar que nas eleições municipais de 1988, o nobre edil não conseguiu se eleger, ficando na primeira suplência, mas no dia 12 de outubro de 1991, faleceu vítima de um acidente automobilístico o vereador Divino Paulo de Araújo, o popular “Divino Pé do Morro”, sendo então a vaga preenchida pelo suplente Antônio Leite Ramos.
No ano de 1986, ano em que aconteceu o sucedido agora narrado, na cidade de Fortaleza, capital do estado do Ceará, estava sendo administrada pela socióloga Maria Luiza Fontenele, do Partido dos Trabalhadores, e por sinal uma grande amiga nossa e do saudoso promotor de Justiça César Belmino Evangelista, que constantemente conversava com ela por telefone. Aliás, testemunhei inúmeras vezes os telefonemas do “Doutor César” para a ainda candidata petista Maria Luiza, bem como para amigos e familiares residentes em Fortaleza, pedindo para votarem em Maria Luiza Fontenele.
À época, repito, 1986, a Câmara Municipal de Araguaína era formada por 15 vereadores, sendo presidente o saudoso líder político Antônio Raimundo Costa, enquanto os demais 14 vereadores, por ordem alfabética, eram: Antônio Leite, Benedito Pimenta, Boanice Kalil, Divino Pé do Morro, Divino Betânia, Edmundo Galdino, Eisler Robson, Enésio de Sousa Lima, João Alves Batista, João Ribeiro, Lourival Borba, Manuel de Oliveira Plínio (“Paraná”), Raimundo Lira e Walter Bitencourt. Com exceção daqueles que já partiram deste para um mundo melhor, como é o caso de Antônio Raimundo, Boanice Kalil, Divino Pé do Morro, João Batista e Raimundo Lira, todos os demais podem confirmar a veracidade desta história, que por sinal se tornou pública através da coluna “Preto no Branco”, subtítulo “Política com Humor”, sob a minha responsabilidade, no Jornal O PROGRESSO, Ano XVII, Nº 6.461, do sábado, dia 21 de novembro de 1987.
Um certo dia do mês de junho daquele ano, 1986, quando se realizava a primeira sessão ordinária da Câmara Municipal de Araguaína, referente àquele mês, o vereador Antônio Leite Ramos chegou ao plenário daquela Casa de Leis trazendo um exemplar de um jornal de circulação nacional, que continha uma matéria segundo a qual a prefeita de Fortaleza, Maria Luiza Fontenele, devido à situação caótica enfrentada por aquela prefeitura, pedia uma ajuda financeira ao Coronel Kadafi, presidente da Líbia. Provando e comprovando ser um patriota extremado, o brilhante edil, naquela sessão, pediu aos seus colegas de plenário para aprovarem uma “Moção de Repúdio” à prefeita Maria Luiza, e com a sua brilhante eloquência, justificou o motivo afirmando: “Pela medida impopular e antipatriota tomada, visando financiamento junto ao governo da Líbia!”, exclamou na tribuna.
A eloquência do vereador foi tanta que conseguiu convencer – só não lembro se a unanimidade ou a grande maioria – os vereadores e, desta forma, no dia 11 de junho daquele ano (1986), segue para a sede da Prefeitura Municipal de Fortaleza o ofício de nº 613/86, pelo qual é comunicado à prefeita Maria Luiza Fontenele o voto de protesto da Câmara Municipal de Araguaína.
Ao ser iniciado o segundo período legislativo, em agosto de 1986, logo na primeira sessão ordinária, o vereador-presidente Antônio Raimundo Costa determina ao secretário particular da mesa diretora, o nosso querido e saudoso Wagner Rodrigues Reis, ler a correspondência recebida, e entre as quais estava um ofício a prefeita Maria Luiza Fontenele, com data de 10 de julho, pelo qual ela dava as devidas explicações sobre o porquê da sua decisão, e ao final enfatizava em letras garrafais: “Aceitamos auxílios, quaisquer auxílios, venham de onde vier. Da Líbia e até da Câmara Municipal de Araguaína”.
É aquela velha história: “Quem diz o quer, ouve o que não quer!”.
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