Causo VI - “E de outra cor, será que pode?”
Quando a nossa querida Araguaína ainda pertencia ao chamado norte goiano, ou seja, antes de primeiro de janeiro de 1989, quando foi oficialmente instalada esta pujança chamada Estado do Tocantins, muitas coisas engraçadas, absurdas e até mesmo tragicômicas aconteceram, principalmente no recinto da Câmara Municipal, as quais serviram de matéria-prima para a “escrevinhação” do meu livro anterior - IMGUINORÁPULIS - e, como não poderia deixar de ser, até mesmo para o livro mais recente, O VENDEDOR DE OVO DE ÉGUA. E o “causo” agora narrado é, mais ou menos, desta época e só passo adiante porque eu testemunhei com os meus olhos, que um dia a terra vai comer.
Ao apresentar o livro “Araguaína - 40 anos”, por mim escrito e publicado no ano de 1998, quando Araguaína completou os seus 40 anos de emancipação política, eu afirmei com muita tristeza que Araguaína era uma cidade marcada por administrações problemáticas e o maior exemplo é que naqueles 40 anos, exatamente 24 administradores já tinham sentado na principal cadeira da Prefeitura Municipal, o que correspondia a um prefeito a cada 20 propagandas negativas por parte dos órgãos da imprensa, e citei, no referido livro, 10 vezes em que a cidade foi notícia para todo o Brasil através da “telinha”.
Para aqueles que não tiveram a oportunidade de ler o “Araguaína - 40 anos”, reescrevo o que foi publicado: 01 - invasão dos índios ao prédio da Funai; 02 - revolta dos garimpeiros contra o fechamento da Serra Pelada, tomando a Rodovia Belém-Brasília; 03 - assassinato do prefeito João de Sousa Lima; 04 - invasão da Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus, quando um desequilibrado mental quebrou todas as imagens dos santos; 05 - quando foi baleado o conhecido líder político, ex-vereador, ex-deputado estadual e federal Edmundo Galdino; 06 - processo de intervenção na Prefeitura Municipal, quando o prefeito era o advogado e empresário Corneliano Eduardo de Barros; 07 - tentativa de dinamitar a ponte sobre o rio Lontra, na rodovia Belém-Brasília, em protesto contra a escolha de Miracema para ser a capital provisória do Estado do Tocantins; 08 - assassinato do juiz classista Otacílio Moreira Lima; 09 - reportagens sobre as fraudes no antigo INAMPS e 10 - prisão de quatro araguainenses pela Polícia Federal, acusados de estarem comercializando produtos que continham uma grande dose de anfetamina, considerado tóxico.
Depois da publicação do livro, em 1998, continuaram as propagandas negativas contra Araguaína, divulgadas pela “telinha” para todo o Brasil. Vou citar só um exemplo: o programa “Linha Direta”, da TV Globo, com a chacina contra uma família, na qual morreram a mãe e 8 filhos menores. Mas eu pergunto: por que não é divulgado para todo o Brasil a beleza da Cavalgada de Araguaína, que acontece há mais de 12 anos, todos os primeiros domingos do mês de junho? Araguaína, na verdade, é uma cidade hospitaleira, tranquila, e sem nenhum bairrismo da minha parte, excelente para se viver. Mas não há como negar que acontecem certas coisas absurdas, como a que passo a narrar a partir de agora.
Em um determinado mandato legislativo, para ser mais preciso de 1983 a 1988, estava exercendo o cargo de vereador araguainense uma ilustre personalidade local, homem culto, bastante letrado, com 3 formaturas de “doutor”, professor de um dos mais conceituados e respeitados colégios da região, além de ser funcionário concursado de uma das maiores instituições do governo federal. Quando ele assumiu o cargo de vereador, a expectativa em geral era de que ele seria um edil brilhante e que, certamente, dentro de pouco tempo estaria na Assembleia Legislativa, no Congresso Nacional, no Governo do Estado, ou até mesmo no Palácio do Planalto. Lembro-me que era comum ouvirmos nos quatro cantos de Araguaína, comentário tipo: “Com o N.P.R. na Câmara Municipal, o povo vai estar bem representado!”, ou então: “Coitados dos vereadores. Vão sofrer com a inteligência e a competência do N.P.R.”.
Mas a decepção do povo com a atuação do vereador foi bem maior que a esperança. A cada sessão legislativa, era apresentado um requerimento ou um projeto, dignos de figurarem no famoso FEBEAPA - Festival de Besteiras que Assola o País, do inigualável e insuperável Stanislau Ponte Preta.
Mas o ponto culminante desta montanha de besteirol aconteceu quando o referido vereador apresentou no plenário da Câmara Municipal, para ser discutido e votado pelos seus nobres pares, um projeto de lei determinando que em todos os quintais das casas do perímetro central ou dos bairros periféricos de Araguaína, que não fossem murados ou tivessem cercas de arame, estava proibida a colocação de sutiãs e calcinhas pretas e vermelhas, penduradas nos varais.
Na hora de usar o microfone para defender o seu projeto, o vereador em questão foi aparteado por um colega, que lhe fez uma pergunta que, por pouco, muito pouco, não resultou na chamada “vias de fato”. A pergunta do curioso edil foi simplesmente esta: “E de outra cor, será que pode?”. Graças a Deus, este projeto foi rejeitado por maioria, se não me falha a memória, com apenas um voto favorável.
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