Causo IV - “Ainda bem que descobriram o DNA”

Este “causo” de agora aconteceu aqui, na cidade de Araguaína, logo no início da década de 90, não recordando bem se em 1990 ou 1991, quando o nosso querido e tão sonhado Estado do Tocantins começava a engatinhar e ninguém imaginava que ele chegaria a ser a potencialidade econômica e social que hoje é, nem tampouco fosse tão admirado e respeitado pelos demais estados da federação brasileira. Atualmente, quer queiram ou não queiram os descrentes, o Estado do Tocantins é um exemplo para tantos outros estados. Mas, voltando ao assunto de agora: o cenário da história, ou seja, o local onde o fato aconteceu, foi o C.A.I.C., localizado no Setor Coimbra, à época quase um deserto e hoje um dos setores mais populosos de toda Araguaína. Quanto às pessoas envolvidas, muitas delas “já subiram para o andar superior”, enquanto outras continuam “vivinhas da silva”, residindo na nossa Araguaína, como verdadeiros e pacatos cidadãos araguainenses.

Logo no início do Estado do Tocantins, o Tribunal de Justiça, que tinha, como aliás ainda tem, dois grandes juristas araguainenses, no caso os desembargadores Antônio Felix Gonçalves e José Maria das Neves, resolveu dar mostras do seu trabalho e decidiu instituir, em todo o estado, um programa denominado Mutirão da Justiça, que consistia em audiências rápidas e objetivas para todas as pessoas que tivessem qualquer caso pendente, por mais simples que fosse, com a chamada “Dona Justa”. E em Araguaína as audiências aconteceram no interior do C.A.I.C, durante três ou quatro dias, com tanta gente se deslocando para o local, que mais parecia um formigueiro humano.

Como profissional de imprensa e graças a Deus bastante acreditado pelos leitores do jornal O PROGRESSO, para o qual eu prestava, como aliás ainda presto, os meus serviços profissionais, fui solicitado por um dos juízes locais a fazer a cobertura jornalística do evento, com o magistrado que me convidou garantindo tratar-se de um fato inédito em todo o Brasil e, como tal, precisava de uma boa e grande divulgação para os quatro cantos do país. “Nenhum processo vai ficar sem uma decisão!”, afirmou o juiz, no momento em que solicitava a minha presença e, por que não dizer, a de toda a imprensa local. Não tive como não atender à solicitação do magistrado e fiquei de “plantão” durante os três ou quatro dias daquele mutirão.

Os casos a serem decididos eram os mais diversificados possíveis, desde uma briga de vizinhos devido a uma galinha que entrou na caso do outro, fazendo sujeiras na sala de visitas, até crimes de morte, como homicídio, latrocínio etc. etc. etc. Realmente, estava acontecendo o que o magistrado me havia dito na hora do convite: “Nenhum processo vai ficar sem uma decisão!”. Lembro-me bem que em certa ocasião me encontrei com o querido padre Enemezio Lazzaris, então pároco da Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus, que fora resolver um problema referente a uma batida de veículo pertencente à paróquia e cujo motorista era um ex-sacristão, com este fato acontecendo há mais de 15 anos, conforme me confidenciou o próprio padre Enemezio Lazzaris, ao lhe entrevistar sobre o porquê de ele estar em dívida com a Justiça. Jamais esquecerei o sorriso “amarelo” daquele vigário, a quem considero muito e tenho o maior respeito e admiração.

Em uma destas audiências, ao entrar em uma das salas do C.A.I.C., com a autorização do juiz, é claro, me deparo com o magistrado sentado em sua mesa, tendo à frente o “Senhor S” e um outro cidadão, de aproximadamente 20 a 25 anos, que reclamava do magistrado, ou melhor, da Justiça, o reconhecimento da paternidade por parte do “Senhor S”. Ao lado, sentado em um dos cantos, folheando uma revista e com um olhar meio desconfiado, estava o “Senhor S.B”, que era intimado a comparecer à audiência para servir de testemunha do caso.

Vale a pena ressaltar que naquela época ainda tinha sido descoberto o tal exame de DNA, nem tampouco existia o “Programa do Ratinho” para financiar o referido exame. Portanto, esta dúvida sobre “quem é o pai” tinha que ser analisada apenas pela palavra de um contra a palavra do outro.

Conversa vai, conversa vem, com o magistrado ouvindo atentamente o que o jovem dizia, repito, reclamando o reconhecimento da paternidade. O juiz passou a ouvir o “Senhor S”, que ao lhe ser dada a palavra para se defender da acusação, fez este maravilhoso comentário: “Rapaz, eu tou cansado de te dizer que, quando a gente era jovem, eu, o Z.F., o Z.C., o Z.B., o S.B. (e apontou para a testemunha que estava sentada), nós tudim comia a tua mãe! Mas eu acho que o teu pai mesmo é o Z.F., pois era ele quem comia mais!”.

P.S. - Na tarde da quarta-feira (dia 18), estava eu na agência central do Banco do Brasil, conversando com o meu confrade da ACALANTO Edson Gallo, quando se aproximou o “S.B.”, um dos pioneiros de Araguaína e de uma tradicional família maranhense. Ao conversarmos, lhe contei do livro que estava escrevendo, inclusive sobre este “causo”, pedindo para que ele me autorizasse a divulgação do seu nome. Ele riu e me pediu para que eu o procurasse, pois tem muitos outros casos, mas que não revelasse o seu nome, “para evitar constrangimentos”, justificou.