Um aviso muito importante!
Todos os “causos” aqui narrados são verdadeiros, embora eu tenha, seguindo o dito popular que “o povo aumenta, mas não inventa”, aumentado um pouquinho, colocado uma certa “pitada” de humor no fato. Em muitos destes “causos”, por uma questão de ética e respeito à pessoa humana, os nomes das pessoas envolvidas não serão revelados, chamadas apenas por letras, que se o leitor fizer um pequenino esforço intelectual, poderá perfeitamente identificar os seus nomes. Em outros “causos”, como os que envolvem o ex-deputado estadual João Leite, os nomes não serão omitidos, haja vista que me foi autorizada a sua identificação.
Vamos agora começar “O Vendedor de Ovo de Égua”, com um “causo” que intitulei de “Um mal entendido pessimamente mal entendido”.
Causo I - Um mal entendido pessimamente mal entendido
Não poucas foram as em vezes que, neste mundo de meu Deus, uma simples palavra, dita na maior ingenuidade, é interpretada de uma forma totalmente errônea, ao ponto de ser causadora de verdadeiras tragédias. É igualzinho a tal “vírgula”, que embora possa parecer um sinal inexpressivo, é de uma importância vital em uma frase. A sua colocação, ou não, pode mudar totalmente o sentido da expressão, e como exemplo desta minha afirmação cito o que aprendi quando jovem, na Escola de Aprendizes Marinheiros do Ceará, com o meu professor de Português.
Dizia ele, para exemplificar a importância da “vírgula”, que certa vez um navio estava em alto mar, em missão de treinamento, quando o comandante recebeu uma mensagem, através do código “Morse” (para quem não sabe, Morse é o aparelho utilizado na emissão de telegramas. Nele, não existem ponto, vírgula, etc., sendo estes representados pelas letras “pt”, “vg”), comunicando que havia outro navio navegando em sua direção, e perguntava se podia bombardear o navio que se aproximava. O comandante, bastante cauteloso e sensato, respondeu: “Não vg espere”, mas de uma forma lamentável o operador se esqueceu de acrescentar o “vg”, ficando apenas “não espere”. Resultado: o outro navio, embora fosse uma nau amiga, foi bombardeado. Uma simples vírgula, ou melhor, a falta dela, causou uma catástrofe mundial.
As pessoas, ao escrever, ao falar, precisam medir as palavras, para não dizer besteiras e mais besteiras. Lembro-me bem do ano de 1988, quando das eleições municipais para escolher os 15 vereadores araguainenses e o nosso futuro prefeito municipal, em um comício do então candidato a prefeito Joaquim de Lima Quinta, realizado no chamado “Chafariz”, onde hoje é a Praça do Pequi, no bairro São João, uma jovem candidata à Câmara Municipal, em cima do palanque, declarou de forma veemente: “Os meus adversários estão metendo o pau em mim, mas são covardes e só metem por trás, porque se meterem na frente eu gozo na cara deles!”. Graças a Deus, a sua votação foi inexpressiva e ela não foi eleita.
E assim vai a vida, com mal entendido aqui, outro ali, e muito cuidado para que tais mal entendidos não sejam motivos para crimes de morte, como aconteceu certa vez em uma cidadezinha do interior. Naquela cidade, residia um cidadão bastante violento, que tinha desconfiança de estar sendo traído pela sua mulher. Em certa tarde, avistou um homem muito bem vestido, inclusive de terno preto, que caminhava pela rua da sua casa. “De onde você está vindo?”, perguntou, e o outro respondeu, sorrindo: “Da casa do senhor”. Foi o suficiente para que aquele sacasse um revólver e atirasse, com o pastor morrendo sem saber o porquê de ter morrido.
Depois de todo este “lero-lero” e o próprio título do “causo”, vou agora narrar o acontecido com um grande amigo meu, que vou identificá-lo apenas pelas iniciais W.R., pois poderia se chamar Walberto Reis, William Rocha, Walter Ricardo, Washington Reagan, ou outros. Gente boa, este meu amigo, uma figura inigualável, um cidadão acima de qualquer suspeita, um ser humano na verdade acepção da palavra. Querido e admirado por todos aqueles que o conhecem, pois apesar de ter uma cara de mau, tem um coração de manteiga.
Certo dia, este meu amigo me convidou para lhe acompanhar a uma cidade próxima a Araguaína, onde seria comemorado o aniversário de uma ilustre personalidade local, de iniciais V.N., ao qual eu não conhecia, mas que a partir daquele evento veio a se constituir em um grande amigo meu. Aceitei o convite, e a “bordo” de um veículo tipo “Saveiro”, nos deslocamos para a referida cidade, e em lá chegando, por volta das 16 horas, tivemos uma recepção digna de um “xeque das arábias”. Ficamos hospedados no melhor hotel da cidade, com tudo à nossa disposição, oferecido pelo anfitrião, que embora possa parecer uma tremenda indiscrição da minha parte, naquele dia comemorava os seus cinquenta aninhos de vida.
À noite, nos retiramos do hotel e fomos para o local da recepção, a AABB, com muitas mulheres bonitas, muita bebida, muita comida e shows artísticos com vários artistas da terra, o que prova e comprova o quanto o aniversariante era querido no meio artístico cultural e, por que não dizer, em toda a sociedade local. O meu amigo W.R. cochichou no ouvido de V.N. e lhe pediu que uma das “gatas” que estavam sozinhas se sentasse em nossa mesa. Com num passe de mágica, imediatamente chegou uma jovem com aproximadamente 16 anos, um rostinho angelical em um corpo de mulher, que eu poderia classificar como uma verdadeira tentação humana, capaz de fazer um homem pecar por pensamento, palavras, obras e omissões.
A jovem, que se apresentou com o nome de “Gizelle”, trocou beijinhos na face com W.R., que ficou parecendo um verdadeiro pavão, pois embora ele tivesse um corpo um tanto quanto “robusto”, ficou tão orgulhoso e vaidoso por ter aquela autêntica deusa grega ao seu lado, que parecia estar “inchado”. Suando por todos os poros, W.R. quase desmaiou quando o anfitrião revelou à jovem que ele era uma destacada personalidade tocantinense, ocupando um cargo bastante importante no governo estadual. Aliás, neste ponto V.N. não mentiu, pois na verdade o meu amigo W.R. realmente está no alto. Ele trabalha no segundo andar de um órgão público estadual.
Ao ouvir aquela revelação, “Gizelle” fez uma confidência: “Que bom! O meu sonho é morar em Palmas!”.
W.R. ficou felicíssimo ao ouvir aquela afirmação, bateu na mesa com toda a força, e demonstrando toda a sua alegria, disse para a jovem: “Pois você vai comigo amanhã para Palmas!”.
Enquanto eu me preocupava com a forma como voltaria para Araguaína, já que na boleia do “Saveiro” cabem apenas duas pessoas, e certamente Gizelle iria ao seu lado e eu na carroceria, a jovem respondeu: “O senhor não entendeu, titio! Eu quero é um emprego”. Coitadinho do W.R. Com a autoestima lá embaixo, se retirou devagarzinho, retornando ao hotel.
Felizmente, eu voltei para Araguaína na confortável boleia do “Saveiro”, ouvindo as músicas do Rei Roberto Carlos.
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