Aureliano Neto*
Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, criador do Festival de Besteiras que Assola o País, FEBEABÁ, e também "As Certinhas do Lalau", cunhou a frase de que televisão é a máquina de fazer doido. Os tempos passaram. Sérgio Porto há muito nos deixou, e com ele se foi toda a alegria de acompanhar as peripécias de seus personagens, como tia Zulmira e primo Altamirando, mas, sem nenhuma dúvida, a televisão continua sendo, quem sabe em grau mais elevado, essa mesma máquina de criar malucos. Bem, o fato é que, se não fabrica doidos em produção de massa, na pior das hipóteses, está a criar uma récua de imbecis, que fica se alimentando diariamente por suas telinhas ou telonas, disseminadas por toda parte desse nosso esplendoroso Brasil. Vejam bem. Não estou a falar de BBB, e muito menos dos seus antipáticos paredões, porquanto tal tema seria de uma insanidade doentia, ultrapassando os limites da indigência mental. Na verdade, não quero, e mesmo me abstenho, de falar mal da TV. É isso mesmo: não quero falar mal, nem bem. Quero apenas falar aleatoriamente, até porque sou a pessoa menos indicada para discorrer sobre esse tema, já que a TV faz parte da vida de muita gente, só escapando as crianças recém-nascidas, que ainda não têm a sua curiosidade despertada por tão importante e cruel meio de comunicação de massa.
Sei que muita gente fala mal da TV, embora mantenha na residência um aparelho em cada cômodo: na sala, no quarto, na cozinha e, em algumas situações, até mesmo no banheiro. Todo o conhecimento dessas pessoas emana exclusivamente do que é dito e ensinado na televisão. Constrói esse telespectador assíduo, contumaz e fanático uma cultura essencialmente de televisão. Não é por acaso que tenho uma conhecida, que toda a sua conversa gira em torno dos programas de televisão. Esse meu personagem, dotado de certo exotismo, acompanha, pelo que me consta, tendo em vista as suas atualizadas informações televisivas, todos os acontecimentos que são divulgados pelas nossas luminosas telinhas. Ela sabe tudo. Sobre os capítulos de novela, os programas de variedades, os noticiosos e ponha etecetera nos seus prolixos conhecimentos. Eu, às vezes, fica pensando como que ela tem tanto tempo para absorver horas e horas dessa cultura efêmera, que engloba, entre outros conhecimentos, como se deve tratar a saúde, para prolongar a vida e não abreviar a morte. E outros babados. Aqui e acolá, ela sapeca: - Ontem, na televisão, fulano de tal disse que o melhor remédio para o coração é esse e aquele, passando a dizer, tim-tim por tim-tim, a nova receita de cura de uma determinada doença, que nem sequer os cientistas conseguiram encontrar uma solução profilática. Mas, é verdade, a televisão consegue substituir os médicos, os advogados, os juízes, os promotores de justiça e até os cientistas, os quais vivem isolados no seu mundo de pesquisas para encontrar o remédio ideal para os nossos males. Essa minha conhecida aprendeu a processar e julgar as pessoas. Um dia desses, disse-lhe, lembrando-lhe, que há um sábio ditado popular, que faz parte de uma canção famosa, que diz, na sua santa ignorância televisiva, que primeira é preciso julgar para depois condenar. Ela, de pronto, respondeu: - Nada disso; já está provado, e a televisão mostrou que ele é ladrão. Isso mesmo ladrão. Fiquei quieto no meu canto. No silêncio dos ignorantes.
Bem. Não sei se quem está doido sou eu, ou é a minha conhecida. De uma coisa tenho certeza: ela se alimenta de tudo que é dito e transmitido pelos vídeos de TV. De Ratinho a Bonner, ou de Bonner a Ana Maria Braga, não escapa ninguém. Ela está atenta a tudo. Já eu sou uma pobre besta. Preciso repensar essa minha patológica aversão a algumas sandices que são propagadas pelas nossas TVs. Por exemplo, não tenha paciência - talvez nem se viesse ao mundo travestido de Jó - de sentar para ver sucessivos capítulos de novela. Qual é minha tática defensiva: simples, vejo o primeiro e último capítulo e faço algumas conclusões, porque a história é sempre a mesma e o desfecho é igualmente repetido. Pronto, está resolvida essa parte do problema. E o noticiário? Também nada muda. Quando não é corrupção, é assalto a agências bancárias, ou assassinatos de policiais. Então, basta não perder o primeiro bloco, porquanto é suficiente para que se tenham todas as informações. Na TV, o Brasil é o pior país do mundo. Não tem vez nem a beleza de Copacabana, muito menos os lençóis maranhenses, ou mesmo o reduzido índice de desemprego. Tudo sucumbe ante as mesmices dos jornais televisivos. Cansei. Mas não faço parte daquele pessoal reacionário que se cansou e tentou fazer um movimento dos cansados. Tou apenas fora.
Mas o assunto mesmo é o que está no título desta croniquinha. Televisão em sala de espera. Existe crueldade maior? Hem? É duríssimo você aguentar numa sala de espera, por exemplo, o atendimento do médico, ou de qualquer outro profissional, tendo à sua frente, alto e bom som, uma televisão ligada que lhe impossibilita de manter-se em silêncio ou voltar-se para dentro si mesmo, ou ainda de ler um livro, jogar conversa fora, ou mesmo folhear aquelas surradas e amassadas revistas antigas, que ali estão esperando para serem encaminhadas para outros fins menos nobres. Ah!, tenha dó. Televisão em sala de espera é um suplício. Retifico: talvez não para aquela minha conhecida. Ela adora desinformar-se. Mas, paradoxalmente, sabe de tudo. De BBB a todas as espécies de cirurgia plástica. Um talento de futilidades a minha conhecida.
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