Saí caminhando pela Bernardo Sayão, no sentido das Quatro Bocas, até alcançar a rua Piauí e chegar ao cruzamento com a Santa Teresa. Não andava às tontas. Pelo contrário, queria chegar à loja do meu amigo Osvaldo, para conseguir dele algumas informações a respeito do conserto da antena parabólica da minha casa, que fica localizada na rua Fortuna Bandeira. É! Não se espantem. Ainda sou daqueles que faço uso de antena parabólica. Acho gostoso e até econômico. Mas não é esse bem assunto de que quero tratar. É sobre o nosso conturbado tráfego de veículo de aluguel: táxi. Por favor, não confundir com tráfico, embora já esteja nesse campo semântico, em face da afronta às leis. Pois bem. A nossa urbe, a bem da verdade, sofreu uma transfiguração no trânsito de veículo. Diga-se: uma reforma providencial e para melhor, abrangendo alguns trechos de grande movimento. Três vias principais ficaram com mão única - Bernardo Sayão, Fortunato Bandeira e Santa Teresa -, o que tornou mais solto e menos tumultuado o curso dos veículos por esses logradouros.
Nessa minha rápida caminhada, cheguei ao meu destino. Peguei as informações com Osvaldo, como sempre prestimoso e educado, e cuidei de ir tratar de outros afazeres. Sem condução própria, recorri a um táxi. Esperei alguns cansativos minutos, sob um calor escaldante, pois o sol estava de rachar. Mas até aí tudo bem. A natureza é natureza. Nada a reclamar dela. Se faz sol, ótimo. Se chove, do mesmo modo. Tudo está muito bom. O que Deus manda não há que se maldizer. Agradece-se. Pelo menos, esse é o meu temperamento. Tenho por hábito não reclamar do sol nem da chuva. Cada tempo tem seu tempo. Como está na Bíblia, há tempo para tudo. Para rir, para chorar; para nascer e para morrer; para plantar e para colher. E etc., etc., etc.
Nessa espera demorada, surge um táxi. Dei o sinal para que parasse. O condutor atendeu ao chamamento e brecou logo à frente, tendo o cuidado de fazer um diminuto retorno. Como costumo fazer, entrei na parte dianteira e sentei-me no banco ao lado do motorista. Um rapaz com aspecto comum - e não poderia ser de outra forma -, porém com um ar não muito recomendável para quem exerce essa função de prestador de serviços para toda uma comunidade, que contempla os moradores de Imperatriz e aquelas pessoas que vêm de fora. Essa foi a impressão inicial, que se acentuou desagradavelmente logo em seguida. Isso porque, tendo me acomodado no veículo, o motorista deu imediata partida. Vi que não acionou o taxímetro, instrumento necessário para que pudesse efetuar o pagamento do serviço prestado, ao chegar ao lugar para onde pedi que me fosse conduzido. Sem maiores embaraços, perguntei-lhe por que não ligou o taxímetro, respondeu, sem esboçar qualquer constrangimento, que acertaríamos o preço quando chegasse ao meu destino. Pedi-lhe que parasse o veículo e lhe disse que não andaria em táxi com o aferidor da corrida desligado, ou sem funcionar. Essa minha atitude causou um leve desentendimento, como se eu fosse obrigado a pagar uma tarifa não estabelecida pelo poder público, que obrigatoriamente normatiza e fiscaliza esse serviço, mas o valor aleatoriamente cobrado pelo condutor do táxi. Essa prática não deixa de ser afrontosa para o cidadão imperatrizense e para o visitante.
Desci do veículo e caminhei mais alguns longos metros para tentar nova prestação de serviço de táxi. Não foi fácil. Passados uns quinze ou vinte minutos, surge um. Acenei, na certeza de que o que ocorrera com o primeiro fora um pequeno e insignificante contratempo, patrocinado por quem tem por hábito descumprir as normas fixadas pelo poder público. Ledo e grave engano. Nem bem o táxi acabara de parar e seu condutor me informava que estava com outros passageiros, colocando-se à disposição para me levar ao local a que, às duras penas e a horas, estava pretendendo chegar. Agradeci a sua generosa oferta, pois se tratava de um táxi-lotação, um desses absurdos que não se amoldam à grandeza dessa metrópole chamada de Imperatriz, que pretende, um dia, quem sabe, vir a ser capital de uma nova entidade federativa.
Essa tortura, desencadeada por um serviço público, já que normatizado e fiscalizado pelo poder público, não pode fazer parte do nosso cotidiano imperatrizense. Governar, em qualquer estamento, dá ao governante ônus e bônus, dependendo da sua postura erradicadora. As regras da prestação do bom serviço devem ser cumpridas. E religiosamente cumpridas. Pouco importa se agrada ou desagrada. De outra forma, tráfego vira pejorativamente tráfico. Não se pode admitir, nesta grande e economicamente poderosa metrópole, como é nossa cidade, a prestação de um serviço de táxi em que uns poucos cumprem as normas fixadas, trafegando com os taxímetros ligados, para auferimento do preço honestamente cobrado, e conduzindo corretamente os passageiros, enquanto outros, a latere, em absoluto desrespeito, fazem da prestação desse serviço uma frontal transgressão à lei. O serviço de táxi não pode ser um tormento para quem dele faz uso. Ao contrário, deve representar conforto para aquele que não quer fazer uso do transporte coletivo, que é de massa, com tarifa a menor. De outro modo, o poder público está sendo conivente com a prática desse grave ilícito e co-participante dessa cruel fraude.