Tomei conhecimento do texto, cujo título faço uso dele, apropriando-me, ao ler a coluna Painel do Leitor, da Folha de São Paulo, publicada na página A3, edição do dia 22 de novembro deste ano. Algumas manifestações dos leitores me chamaram a atenção. Roberto A. Schussel (São Paulo, SP): “Nos anos 70 e 80, vivi a mesma experiência que Ricardo Semler. Minha empresa tentava vender brinquedos para as festas de Natal de montadoras de automóveis, mas sem o pagamento de 10% para o setor de compras, nada era aprovado. Gozado como todos esquecem o que eram as corrupções nos governos militares, Sarney, FHC etc. Nada a defender governos petistas que se entregaram à corrupção, mas em gestões anteriores nada se investigava ou acabava em pizza.” Ademar G. Feiteiro, advogado (São Paulo, SP): “Em ‘Estaduais aos pedaços’ (‘Opinião’, 21/11), Eduardo Giannetti diz que o governo logrou a proeza de arrebentar nossas duas principais estatais. Para seu infortúnio, na página ao lado, Ricardo Semler, empresário filiado ao PSDB, pergunta em artigo onde estavam os envergonhados do país nas décadas e 70, 80 e 90 em que houve evasão de R$ 1 trilhão por empresários (‘Nunca se roubou tão pouco’), Tendências/Debates). Parabéns a Ricardo Semler pela coragem.”

Na edição seguinte do Painel, do dia 23/11, p. 23, constam mais outras manifestações que me despertaram, ainda mais, a curiosidade de fazer a leitura do texto de Ricardo Semler. Rodolfo Malta de Alencar (São Paulo, SP): “Loas para Ricardo Semler (‘Nunca se roubou tão pouco’, ‘Opinião’,21/11). Depois de tanta bobagem, eis que aparece um artigo decente, coerente e patriótico para recuperar nosso orgulho de ser brasileiro. Não importa a cor do partido ou do time de futebol de quem quer que seja: basta pensar um pouco antes de falar ou escrever. Obrigado, Semler.” Ludinei Picelli (Londrina, PR): “O artigo de Ricardo Semler chega a ser surpreendente pelos números impactantes sobre a roubalheira em tempos d’antanho no Brasil. Mas, para dar maior credibilidade às suas afirmações, seria importante que ele desse o nome dos antigos ladrões. A grande maioria dos brasileiros tem a certeza de que a roubalheira protagonizada pelo governo petista jamais ocorreu na história da República. Se ele tem as informações, por que não ‘dar nome aos bois’.” João Martins (São Paulo, SP): “O artigo de Ricardo Semler (Tendências/Debates, 21/11) é um dos melhores que tive o prazer de ler nesta Folha nos últimos tempos. Claro, honesto, sincero e esclarecedor.” Com essas intervenções contundentes dos leitores, ora de aceitação, ora, em menor escala, de um quê de repúdio, a minha curiosidade ficou aguçada. E aguçou-se muito mais ainda, quando li a coluna Panorama Político, de Ilmar Franco, de O Globo, republicada em O Estado do Maranhão na edição do dia 23/11, p. 2, onde consta a seguinte nota: “Os governos Dilma e Lula vão pagar a conta da Operação Lava-Jato, que investiga a máfia que atua na Petrobrás. Mas à medida que avança o processo fica claro que o assalto vem de longe. O lobista Fernando Baiano confessou na PF que faz negócios ilegais desde 2001. O gerente da estatal, Pedro Barusco, contou que recebe propina por negócios escusos desde 1996. Ambos faturam por lá desde os governos Fernando Henrique. Por isso, analistas avaliam que, com a evolução da investigação, deve aumentar a lista de políticos envolvidos.” O que isso quer dizer? As falcatruas na Petrobrás não são apenas petistas, mas têm outros participantes partidários. Apenas agora, estão sendo, a fundo, investigadas.
Fui ao texto (“Nunca se roubou tão pouco”). Inicia Semler em linguagem forte e contundente: “Nossa empresa deixou de vender equipamentos para a Petrobrás nos anos de 1970. Era impossível vender diretamente sem propina. Tentamos de novo nos anos de 1980, 1990 e até recentemente. Em 40 anos de persistentes tentativas, nada feito.” Esta é a fala do empresário, referindo-se a sua empresa. E nos anos 70, 80 e 90, não era o PT governo. Eram outros partidos, como o PSDB, de FHC. Semler faz afirmações duras que exigem apurações. Quanto às propinas, diz que “os percentuais caíram, foi só isso que mudou. Até em Paris sabia-se dos ‘cochons des dix pour cent’, os porquinhos que cobravam 10% por fora sobre a totalidade de importação de barris de petróleo em décadas passadas”. Refuta: “Agora tem gente fazendo passeata pela volta dos militares ao poder e uma elite escandalizada com os desvios na Petrobrás. Santa hipocrisia. Onde estavam os envergonhados do país nas décadas em que houve evasão de R$ 1 trilhão – cem vezes mais do que o caso Petrobrás – pelos empresários?” E mais: “A turma global que monitora a corrupção estima que 0,8% do PIB brasileiro é roubado. Esse número já foi de 3,1% de todas as riquezas produzidas e estimam ter sido na casa de 5% há poucas décadas. (...) Boa parte sempre foi gasta com os partidos que se alugam por dinheiro vivo, e votos que são comprados no Congresso há décadas. (...) Deixemos de cinismo.” O recado de Semler foi para endereço certo, alcançando aqueles que fazem a encenação dos puros, quando também rastejam no lodo do corrupção. A investigação está pegando os graúdos. Nunca ocorrera antes. Ficava sempre pelo caminho. É só lembrar a compra de votos para aprovação da emenda constitucional da reeleição presidencial. Houve deputado, à época, que renunciou ao mandato para não ser cassado. E ficou apenas nisso. Cada voto era comprado à base de duzentos mil reais. Ou mais. Não adianta a demagogia de se dizer envergonhado.