Frase esta emblemática que atravessou a história e foi absorvida pela história, mas não foi absolvida. Continua sendo lembrada como um frasesco equívoco, proferido no período dos mais de vinte anos da ditadura militar. Lembram do autor da frase e por que foi dita e retumbantemente propagada pela nossa mídia? Não se lembram? Não acredito! Até porque, dadas as excentricidades dos nossos homens públicos, e em boa parte mais privados do que públicos, insistimos em perguntar: - Que país é este?, sem sermos apaziguados em nossa angústia por uma resposta que nos conforte. Anda não direi quem foi o frasista que fez essa indagação e, historicamente, a resposta que lhe foi dada.
Bem. O certo é que continuamos na dúvida sobre o nosso país. Quem sabe, numa dimensão mais repleta de ambigüidade do que na época em que a frase, sapecada para todos nós interrogativamente, foi dita. 
Vejam as nossas perplexidades. O capitão presidente sancionou um pacote anticrime. Daí pra frente, tudo levaria à lógica ou ilógica conclusão de que, com essas reformas penais e processuais, na pior das hipóteses, teríamos uma redução avassaladora de práticas delituosas. Pelo menos, é o que os ufanistas deixam transparecer. No meio de todas essas mudanças, foi instituída a figura do juiz das garantias e, na outra ponta, o juiz que julgaria, após a instrução. Alerto: trata-se de um pacote bem pacote, que necessitaria falar-se dele durante uma semana ou mais. No momento, confesso, não estou disposto a cumprir essa maratona. Vou esperar, aqui no meu cantinho, o desfecho das decisões dadas monocraticamente pelos ministros do Supremo Tribunal Federal. Para isso, acumulei um arsenal de estudos a respeito dessa reforma anticrime. Uns muitos se posicionando a favor; e uns poucos, contra. Ainda bem, porque, como disse Nelson Rodrigues, a unanimidade é burra. De logo, digo: concordo com ele com o nosso famoso teatrólogo, que era um frasista do primeiro time.
As últimas notícias do pacote estão sendo divulgadas pela nossa mídia. De início, o Ministro Dias Toffoli, em decisão liminar, determinou que fosse suspensa a implementação do juiz das garantias, por um prazo de cento e oitenta dias. O STF entrou em recesso e, ao substituí-lo, o Ministro Luiz Fux revogou a decisão que suspendia por prazo determinado e deu outra, suspendendo, mas não fixando prazo para implantação do juiz das garantias. 
Aí, nessas dubiedades, o verdadeiro samba do crioulo doido, celebrizado pelo genial escritor, jornalista e humorista Stanislaw Ponte e Preta.
Mas, esse é o nosso país, repleto de contradições, que a própria razão, na sua infinita vontade de explicar, silencia. Chacrinha, o Velho Guerreiro, estava certo quando afirmava, cercado pela anatomia das suas provocantes chacretes, que tinha vindo para confundir e não para explicar.
O nosso frasista, que, em 1976, perguntou “que país é este?”, foi um mineiro que deu sustentação ao regime militar de 1964. Ele, o deputado Francelino Pereira, presidia o partido oficial Arena, formado por políticos que davam integral apoio ao governo de exceção. O presidente era o general Ernesto Geisel, o quarto da ditadura militar, que “eleito” (entre aspas mesmo) em 1973, assumiu em 1974 até 1979. Ocorre que, de forma inusitada e excepcional, o MDB, partido que fazia oposição “consentida”, mas lutando bravamente, nas eleições de 1974, para deputados, senadores, vereadores e parte dos prefeitos, derrotou pelo voto popular as oligarquias que davam sustentação ao regime ditatorial. Daí em diante, pairou no ar a dúvida sobre o cumprimento do calendário eleitoral. Francelino, então, não deixou por menos e sapecou, para o Brasil inteiro, essa crucial indagação. E só ele não entendeu que a reposta era de uma simplicidade mais que franciscana: é um pais que estava a viver uma ditadura militar. E só.
Mas a resposta, de forma direta, veio posteriormente. Com dificuldade no legislativo, pois perdera a folgada maioria das oligarquias oportunistas, em 1.° de abril de 1977, Geisel fecha o Congresso Nacional e, pela famigerada Lei Falcão, limita a propaganda eleitoral, estabelece a eleição indireta para um terço do Senado, criando a espúria figura do senador biônico. É, como ocorreu com o AI-5, lembrado recentemente pelo Sr. Guedes e um dos filhos diletos do capitão, o golpe dentro do golpe.
Passados tantos anos e vencida a nefasta experiência do regime ditatorial militar, ainda hoje, bem hoje, a pergunta de Francelino está a nos cobrar uma resposta. Qual seria essa resposta? Não sei. Com esse governo de Sísifo, que ora vai, ora vem, é quase impossível encontrar-se uma resposta adequadamente séria. Sísifo foi um espertalhão da mitologia grega. De tantas trapalhadas e esperteza, ele foi condenado por Zeus para arrastar uma pedra montanha acima. Chegando ao cume, a pedra rodava de volta, e Sísifo, cumprindo a sua pena, reiniciava arrastando a pedra para cima. Esse foi o seu castigo, e esse está sendo o nosso, por ter confiado num Sísifo.

* Membro da AML e AIL.