Lembra o meu avô.
Jeitão de austeridade, sábio.
Cheiinho de amor.

Assim era.

Ora por ele se passa. Ora ele teima passar por nós.
Anos... e anos a fio. Uma eternidade passageira!
(Passageiros da eternidade... Todos nós somos.)
Nele, a verdade interior está oculta. O que diz?

Espia-nos. Nos observa, à distância e tão perto.
O sol aquece, ao amanhecer. Amarelecido, em ouro puro.
Parece o altar ecológico de uma igreja medieval.
No cair das sombras, resplandece numa claridade de um luar
imensamente cheio.

De contorno achapelado... Aqueles chapéus antigos... Dizem!...
Na verdade, um modo sertanejo de ser.
E de ver.

Lá. No horizonte. Esparramado.
A espiar-nos, como um fantasma amigo que, de repente, surge do nada.
Reverencia-nos na chegada e na partida.
Como se a dizer-nos: - volte sempre, a casa é sua!

Quantos sonhos nascidos, aconchegou e viu passar?
É isso mesmo: vive-se, como se sonha.
E sonhamos todos os sonhos, mesmo na solidão dos desencontros.

Ele que odeia a solidão dos sonhos. 
Sonha também, acompanhando o trajeto de todas as fantasias.
(Alegorias atemporais, de uma vida inteira.)
Que Bandeira diz que podia ter sido, e que não foi.
Aos visitantes, cumprimenta, com a cortesia 
sertaneja, trajado de lorde, a receber seus 
convidados, em dia de festa.

Obstinado. Estático (e estético). Percebe-se um diálogo mudo de boas-vindas e de saudade.
O morro morre e vive dentro de todos nós.
Mas cobre imperialmente a princesa Carolina.
Em traço divino que emoldura a carranca da chapada rústica.
A princesa exibe para os céus a nobreza do chapéu que a faz bela e feliz.

Oh!... que não morras antes de tudo, nem apesar de todos.
Sobreviva na imortalidade da tua divina arte.
Como Picasso, resista. Ah!, o tempo... pouco importa.

Sim. Lembra o meu avô. Sábio. Austero. Uma imensidão de carinho! Chieiinho de amor!
Morre-se, se morres antes. Vive-se, se vives sempre.
Em ti, a eternidade do amor eterno.
P.S.: Este texto, como corruptela de poema, fiz em 1º.08.2005. Já se passaram alguns anos. Publiquei no jornal do nosso confrade Valdir Braga, um grande lutador pela arte de escrever. 

         * Membro da AML e AIL.