Pedro Malan, lembram dele? Foi ministro da fazenda de FHC. Está lançando, em formato de livro, uma coletânea de artigos em que reúne textos por si publicados no jornal Estado de São Paulo, entre os anos de 2003 a 2017. Título do livro: Uma certa ideia de Brasil. No caderno Mercado, da Folha de SP, Malan deu, no dia 25 de agosto, uma entrevista onde faz algumas afirmações, como: "O Brasil é uma sociedade de massas urbana, com legítimas diferenças de opinião e conflitos de interesses." Afirma que a reforma da Previdência deve ser feita em curtíssimo prazo. E, ao ser perguntado sobre os quase 40% das intenções de voto ao candidato Lula, para que esclarecesse se se trata de mostra de esquecimento ou de lembrança dos últimos quinze anos, respondeu: "Pode ser as duas coisas. Tem lembranças, sim, e é óbvio que isso precisa ser reconhecido. A decisão de consolidar os programas de transferência de renda foi correta. Só faltou um pouquinho de generosidade de reconhecer e não tratar como se tudo tivesse começado do zero a partir de janeiro de 2003, o que não foi verdade. Mas o fato é que foi positivo. Mas muito pouca gente no Brasil se dá conta de quão excepcional foi o período de 2003 a 2008 para o mundo." Em outro trecho da entrevista: "Eu digo no livro que, para o Brasil, seria muito bom dar continuidade àquilo que estava sendo feito. A política que estava sendo feita no início (dos governos petistas) foi submetida a um crescente fogo amigo, mas foi ela que permitiu que o Brasil aproveitasse o cenário internacional favorável." Esse "fogo amigo" nada mais são do que os ataques feitos pela mídia e por forças econômicas contrárias a uma política de inclusão e fortalecimento do mercado brasileiro. Após, o golpe, capitaneado pelo MDB, PSDB e etc., a vaca foi pro brejo. Iniciou-se um processo brutal de desnacionalização da nossa economia, com a entrega, entre outras riquezas, do nosso pré-sal.
Reinaldo Azevedo, conhecem? Eu, também não. Mas, sei que ele é colunista da Folha, meu jornal de leitura de fim de semana, assim como a revista CartaCapital. Escreve às sextas. Ferrenho antipetista. Li a sua coluna do dia 24 de agosto. Título: Lula já venceu a eleição. Fiquei pasmo, a partir do título, e ainda mais com o texto da matéria. O que diz Reinaldo Azevedo? Transcrevo apenas algumas passagens, nas quais se extrai o inconformismo desse famoso colunista contra Lula e contra todos. Assim inicia a coluna: "Lula, o presidiário (esclareço: virou mania a direita reacionária chamar Lula de presidiário, com intuito de ainda mais vilipendiá-lo), chega ao patamar de 40% dos votos no primeiro turno (39%) e 20% das intenções espontâneas. Venceria seus potenciais adversários no segundo turno com mais de 50% dos votos, marca também inédita depois que o PT foi tragado por sua própria história e pelas escolhas que fez." E diz mais: "A sentença de Sérgio Moro que o condenou entrará para os tais anais, passados o aluvião de estupidez militante e a covardia da OAB, como exemplo do que um juiz não pode fazer. (...) Não será diferente desta vez. Contra o que determina o establishment dos homens de negro, a maioria que se dispõe a votar quer como presidente um preso ainda provisório." Alheia a tudo isso, enquanto Bolsonaro dá palestra no Clube Militar, Cármen Lúcia, muito afinada e dando amostra de grande passista, infelizmente, para nós mortais, sem a Marquês de Sapucaí, canta: "Não deixem o samba morrer / O morro foi feito de samba..." E o Brasil, de quê?
Ah!, vejam bem, ia deixando passar. Outra de Reinaldo Azevedo, publicada na sua coluna do dia 17 de agosto, sob o título Lula inelegível e fogo em Aristóteles! Começa azucrinando o ministro do STF Roberto Barroso, nomeado para essa Corte pela presidenta Dilma. E, com irreverência costumeira, inicia o texto afirmando que "o ministro Roberto Barroso, relator no TSE do pedido de impugnação da candidatura de Lula, é um notório legislador sobre o já legislado. (...) O ainda candidato (Lula) e seu partido (PT) conseguiram meter a política e o Judiciário num transe. Explica-se o pano de fundo: como o petista foi condenado sem provas - e foi! - e como está preso ao arrepio do inciso LVII do Artigo 5° da Constituição - e está -, e como, adicionalmente, se deu de barato que seguir 'a letra da lei' prejudicaria a Lava Jato, teme-se agora que o triunfo de alguma heterodoxia conduza o país ao caos. Barroso, que costuma rasgar a Constituição e as leis, tem de vestir, desta feita, a toga do conservador cuidadoso." Como se deduz da leitura dos dois textos, Reinaldo Azevedo, que não suporta o PT, anda pra lá de enfezado com todas essas estripulias, não poupando nem o grande ícone nacional da direita, o juiz Moro.
E a Folha, aqui sempre citada, tem a mania besta de se meter na vida dos outros. Não é que no dia 19 de agosto, achou por bem, ou por mal, fazer uma matéria sobre as dinastias políticas, que se espraiam por todo esse nosso imenso Brasil. Aproveitando-se desse tema mais velho que as capitanias hereditárias, fala de algumas das principais famílias que comandam a política nos estados brasileiros. Algumas, como os Andradas, em Minas Gerais, já estão há séculos; outras, século, ou com mais de meio século. No rol desse pessoal longevo no poder, além dos Andradas, estão os Sarney, no Maranhão, Calheiros, em Alagoas, Barbalho, no Pará, Arraes, em Pernambuco, Ferreira Gomes, no Ceará, e Maia, no Rio Grande do Norte. Faltou, nessa elação histórica, os Richa, no Paraná.
A última novidade: o dólar disparou (pra cima!). O articulista Renato Terra, que insiste em saber quem matou ou mandou matar Marielle Franco, discorre, com o humor de sempre, que "analistas, no entanto, consideram improvável que a moeda americana consiga transferir popularidade para Geraldo Alkmin, o candidato do Mercado". Pois bem, é isso aí. Não deixem o samba morrer!
* Membro da AML e AIL.
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