Logo que abro o jornal, a trágica notícia: o PIB já não é mais PIB, encolheu, virou pibinho. Ao lado do pibinho – se bem que a economista Maria da Conceição Tavares, até um tempo atrás ícone do pensamento progressista, afirme que o povo não come PIB –, vem a galope outra cáustica informação: a economia do país encolhe 0,6% no segundo trimestre e indica recessão. Preocupado e crente que a nossa pátria amada estava, em que pese a sua propalada solidez, se desmanchando no ar, tomei conhecimento de que o nosso patropi só gerou, no mês de agosto deste bendito ano de Nosso Senhor Jesus Cristo, apenas, vejam bem, apenas 101,4 mil vagas de trabalho com carteira assinada, e que 71,3 dos novos postos foram em serviços, com 40,6 mil vagas creditadas ao comércio. Na terra dos irmãos (nem tanto tão irmãos, vide 64) americanos do norte, esta última notícia seria uma festa de arromba, uma vez que na pátria do ianques a situação está mais urubu do que para colibri, lembrando aqui o nosso saudoso Stanislaw Ponte Preto, criador do Febeapá.

Sou uma mistura de pessimista e otimista – espécie de centauro dessas antagônicas emoções. Ainda preocupado com o destino midiático e escatológico de nosso país, li em seguida uma notícia que me alertou e me fez acreditar que a economista Conceição Tavares, de todo, não está errada, quando adverte que o povo não come PIB. Essa nota foi dada numa coluna de um dos nossos diários locais. Transcrevo-a: “A competente (e linda) jornalista Patrícia Poeta está fechando a compra de um apartamento na Avenida Vieira Souto, com vista para o mar de Ipanema, no Rio de Janeiro, por nada mais, nada menos, do que 23 milhões de reais.” Pensei: a coisa não está tão preta assim. Segundo soube, essa Poeta, que ainda por cima é linda, só é poeta no nome. Nada tem a ver com poemas e poesias. Aliás, me informaram que é ela quem lê essas notícias a respeito da destruição econômica de nossa querida pátria amada. Mas, pelo conteúdo do informe e o valor da compra do apartamento, a nossa Poeta, com certeza, não come PIB. De outro modo, estaria no rol dos milhares de brasileiros, que precisam de carteira assinada. Enquanto isso, os magistrados brasileiros, por proposta constitucional do Supremo Tribunal Federal, tiveram um alinhamento em seus ganhos (chamados, não sei por que razão, de subsídios), num percentual vergonhoso, e, por conta disso, sofreram críticas brutais, com graves denúncias de que o Brasil, com esse alinhamento, iria definitivamente para bancarrota. Pois é, enquanto a nossa Poeta, que poesia não tem nada, compra um apartamento na Vieira Souto por 23 milhões de reais, os juízes da nossa pátria amada, com os ganhos atuais, só poderão se dar a esse luxo, daqui a mil anos. E olhe lá!

Prossigo. Soube, ainda, que mais de 3,5 milhões de empresas – não sendo esclarecido de qual porte –, estavam em julho com algum tipo de dívida em atraso, como resultado da queda das vendas e do aumento de custos com os fornecedores, empregados e bancos. Apareceu um sujeito, rotulado de economista da Serasa e lascou o seu sacrossanto diagnóstico: o número de empresas inadimplentes mostra o microcosmo da recessão técnica do país, após dois trimestres de contração do PIB. Ora bolas, outra vez o PIB paga o pato. Pelo que se deduz, a inadimplência dessas empresas, que não vendem como vendiam, não se origem na má gestão. Não. É diabo do PIB. Têm que procurar a Patrícia Poeta para ensinar a esses ignaros empresários como que se consegue com o PIB encolhido, sendo apenas apresentadora de programa de televisão, comprar, em plena recessão técnica, apartamento no valor de 23 milhões de reais. Esclareço essa recomendação pedagógica. No mesmo jornal e no mesmo caderno econômico, consta que dois terços das famílias brasileiras não pensam em poupar. Trocando em miúdo: essas famílias gastam tudo o que ganham. Ainda assim, as empresas (3,5 milhões) têm alguma dívida. A equação não bate. Há demanda, portanto deve haver oferta. De todo, uma certeza incontroversa: o Brasil continua no mar proceloso da economia mundial, mas gerando empregos e reduzindo a desigualdade. A crise midiática ainda não conseguiu destruí-lo. Tanto isso é verdade, que o ganho anual do sistema financeiro do nosso patropi bateu todos os recordes, com a liderança do Itaú, o banco da queridíssima Neca Setúbal, investidora e guru da presidenciável Marina Silva. Imaginem quando tivermos a independência do Banco Central. Aí é que essa turma da grana vai deitar e rolar. Vamos entregar o galinheiro para a raposa. Não sobrará pedra sobre pedra. Aguardemos a catástrofe. Meu sábio avô me dizia que um dia vem depois do outro. Já estão a dizer por aí: o suicídio de Getúlio Vargas, que nos legou legislação trabalhista, foi em vão. Sob os auspícios dos grupos econômicos, estão nos impondo a terceirização total. No STF, há voto favorável do Ministro Luiz Fux; no legislativo, projeto de lei para implantação. Se Marx fosse vivo, bradaria mais uma vez: – Trabalhadores, uni-vos.

Mas o povo que nada tem de besta, e não come PIB, nem liga para terceirização, está bebendo, e muito, de preferência destilados. As vendas de uísque cresceram 30%; vodca, 12%. Quanto mais elevado o preço, maior o consumo. E o PIB que se dane, que ninguém é de ferro.