Uma fofura! E que fofura! Olhei, abismado, a foto publicada na página interna da Folha de São Paulo. Para ser preciso, a página A4, intitulada Poder. Consta a seguinte legenda: “Entrada do aeroporto de Cláudio (MG), trancada; no detalhe, quadro da prefeitura, mostra vista aérea da pista.” A expressão “trancada” se refere a acesso fechado por cadeado. Quem detém a chave é uma espécie administrador ou proprietário desse bem público, privatizado por Aécio. Alguns dados interessantes da reportagem: R$ 13,9 milhões, foi quanto custou a obra aprovada pelo governo de Minas Gerais (governo de Aécio Neves, PSDB) em dezembro de 2008; aeroporto construído pela Vilasa Construtora Ltda., vencedora da licitação, que já fez outros: Diamantina e Patos de Minas Gerais; e a pista tem capacidade para receber aviões de pequeno e médio porte, e só opera durante o dia.
Essa questão (dúvida para uns, certeza para outros) do aeroporto aeciano, numa primeira vista dolhos, parece boba. Como dito acima, uma fofura mesmo. Mas não é bem assim, uma vez que foram gastos quase 14 milhões na sua construção, e, segundo a reportagem da FS, ficou pronto em outubro de 2010 e é administrado por familiares do candidato do PSDB à presidência da República. Sobre isso a reportagem traz os seguintes esclarecimentos: “A família de Múcio Guimarães Tolentino, 88, tio-avô do senador e ex-prefeito de Cláudio, guarda as chaves do portão do aeroporto. Para pousar ali, é preciso pedir autorização aos filhos de Múcio. Segundo um deles, Fernando Tolentino, a pista recebe pelo menos um voo por semana, e seu primo Aécio Neves usa o aeroporto sempre que visita a cidade.” Uma vez que Aécio é usuário do aeroporto, trancado a chave e administrado por familiares, não carece de autorização quando precisa nele pousar, nas semanas em que visita a parentada.
Poucos colunistas políticos se preocuparam com o assunto, desprezado por muitos. Também pudera, o candidato é do PSDB. Por muito menos de 14 milhões, tem nego do PT cumprindo pena na Papuda. Que diga Eduardo Azeredo, que anda por aí serelepe e fagueiro, tendo sido, dizem as más línguas, o criador do “mensalão”, a partir justamente de Minas Gerais. Ricardo Melo, da Folha, escreveu: “A pista é de uso praticamente privado da família Neves e seus apaniguados: perguntado pelo repórter se alguém poderia usar o aeroporto, o chefe do gabinete da prefeitura local foi direto. ‘O aeroporto é do Estado, mas fica no terreno dele. É Múcio quem tem a chave.’ O dele e o Múcio citados referem-se a Múcio Tolentino, tio-avô de Aécio e ex-prefeito do município.” Dizem que o Ministério Público Estadual de Minas Gerais abriu inquérito para investigar. Pode ser, pode ser. Pode ser ainda que se tenha a figura da Conceição do Cauby: se subiu ninguém sabe, ninguém viu. Pode ainda ser um delírio investigativo. Aguardemos o desfecho após as eleições.
Sei que essa turma do PSDB é catedrática em privatização. Na época deles, tudo foi privatizado. Ou melhor, quase tudo. Faltaram Petrobras, Banco do Brasil e etc. Andaram perto de alcançar essas instituições seculares, para atender às regras sacrossantas do neoliberalismo de Margaret Thatcher. As universidades federais viveram o terror. Os aumentos decorrentes de greves, não divulgadas pelos meios de comunicação, eram dados a conta-gotas: 10 a 20 reais. Professores se aposentaram precocemente. Muitos foram cantar em outra freguesia. No Banco Brasil, os seus empregados concursados que não conseguiam se aposentar, optaram forçadamente pelo PDV. Boa parte não se deu bem. Com precárias alternativas de vida, alguns morreram, outros adoeceram. Contra essas maldades, nada se pôde fazer. A vida continuou. Mas, convenhamos, misturar o público com o privado, como se deu com o aeroporto do tio de Aécio Neves, não é bem republicano. Ouso pensar que nem a notória Margaret Thatcher aprovaria essa insanidade.
Pensei: o autor da façanha se explicará na entrevista que concederá ao Jornal Nacional. Qual nada! Tartamudeou, apenas. A explicação dada foi uma verdadeira confissão do delito.
Ufa! Finalizo. Não sou parente nem aderente de Aécio Neves. Uma pena! Não tenho fazenda em Minas. Nem um mísero pedaço de terra. Se tivesse, iria, por isonomia, requerer a construção de um pequenino aeroporto, ou, na pior das hipóteses, um reles estacionamento. Contentar-me-ia com isso. Afinal, 14 milhões não representam nada, sobretudo se o autor da privataria é do PSDB. Nas redes sociais, estão divulgando um texto do notório Arnaldo Jabor, em que diz que, votando em Dilma, o eleitor pode ganhar um Sarney ou um José Genoíno. Creio que o famigerado cineasta esqueceu dizer: votando em Aécio Neves, ganhe um aeroporto de 14 milhões, construído com verba pública para uso privado, com porteira e cadeado. Nessa compulsão de associar o público e o privado, quem sabe, estejam as reformas necessárias que tanto fez questão de lembrar o candidato na sua entrevista no JN.
Edição Nº 15088
O Aeroporto do Tio do Aécio
Aureliano Neto
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