Após o golpe do impeachment, patrocinado pelas forças reacionárias da direita, aliadas ao braço forte das famílias que detêm o poder da mídia e subvencionadas pelos grupos econômicos (leia-se Fiesp e etc.), os quais, desde o descobrimento desta terra brasilis, exploram as suas riquezas e enriquecem cada vez mais, o país do carnaval - este Brasil de tantos golpes - foi entregue aos empresários nacionais e internacionais, sob a falácia de criar, com supostas reformas, melhoria de condições de vida ao povo brasileiro. Todas essas justificativas espúrias não passam de elucubrações estelionatárias, propagadas por políticos e pelas mídias, que dão sustentação a Temer, em troca de benesses, extraídas criminosamente do erário público, sob o olhar vesgo de instituições que deveriam estar atentas para combater esses desmandos. Mas qual nada!, lavam as mãos, como o fez Pilatos, para covardemente atender a ânsia sanguinária dos fariseus, que pediam a crucificação de Cristo. Depois, irão dizer ainda que estão cumprindo o seu dever patriótico de dar governabilidade a um "presidente" (entre aspas mesmo), guindado a essa condição, sem ter a legitimidade do voto. Assim já o fez Adolf Eichmann, antigo tenente-coronel das SS, um dos criminosos nazistas mais cruéis, que justificou as suas atrocidades nos campos de concentração, negando a sua responsabilidade sob o evasivo argumento de que cumpria ordens. A filósofa judia Hannah Arendt, entendendo que o mal poderia ser exercido sob a forma da banalidade, rotulou esse fundamento de isenção de Eichmann como banalidade do mal. À época, não foi entendida. Mas agora todos a entendem, e a sua conclusão está tão viva e atual, como vivos e atuais são os protagonistas de nossa história.
Por esse caminho tortuoso, cheio de justificativas abomináveis, é que estão a trilhar Temer e seus asseclas, sob os aplausos de muitos, embora alguns batam palmas sem entender, ou fingindo não entender, o mal que estão fazendo a grande parte do povo brasileiro. Ou, ainda, como Pilatos, mandam crucificar, mas antes lavam as mãos, para se purificar de um pecado capital de levar inúmeros pais de família à miséria, a viver a subescravidão do trabalho intermitente ou de autônomo-empregado, ou, mais ainda, a submeter-se a fraudulentas homologações de rescisão de contrato de trabalho sem a assistência jurídica do sindicato. Desse modo, entre o forte e o fraco prevalecerá a liberdade que sempre escraviza, olvidando-se a lei que liberta. É bom lembrar que foi com base nesses fundamentos, de negação da dignidade do ser humano, que a escravidão foi justificada durante os seus longos anos de existência e crueldade, e, depois, também a discriminação racial, aqui no Brasil e em outras plagas.
Também seguindo essa trilha tortuosa e de grandes injustiças, esse espúrio governo fechou 400 farmácias populares, que atendiam aos nossos concidadãos mais necessitados e, não satisfeito, está reduzindo os gastos com esse empreendimento que beneficia as pessoas pobres. Enfim, tenho quase uma certeza absoluta: vamos começar a investir em cemitérios, sobretudo os particulares. Ao invés de remédios, para dar uma boa qualidade de vida aos carentes, investe-se em cemitérios, crematórios e caixões, criando-se consórcio para os futuros defuntos, ou praticando um preço de ocasião, na base de dois por um.
E nessa caminhada insana da turma do Temer, não se salvam nem idosos. Aliás, com o desgoverno que aí está, quanto mais se tira dos pobres, melhor para ricos, e os idosos não poderiam ser esquecidos nessa sanha avassaladora de desrespeito aos direitos humanos. Tramita na famigerada Câmara dos Deputados, onde se encontra um famigerado deputado dançarino, bajulador e escarnecedor dos infortúnios do povo brasileiro, um projeto que prevê o reajuste dos planos de saúde após o beneficiário completar 60 anos de idade. O Estatuto do Idoso estabelece limitações a esse tipo de reajuste, tendo como causa a simples mudança de faixa etária. Esse projeto que tem o aval da turma do Temer objetiva alterar o Estatuto do Idoso, para permitir o reajuste para beneficiários de plano com 60 anos ou mais. A médica Maria Socorro Medeiros de Morais, que exerce a função de secretária nacional de promoção e defesa dos direitos da pessoa idosa, afirma que a proposta rasga o Estatuto. E acrescenta: "No dia em que assumi a secretaria, jurei fidelidade ao Estatuto do Idoso. Me parece que, com essa reforma, começamos a rasgar esse estatuto, e isso é sério, porque ele é a maior outorga de direitos da pessoa idosa no Brasil." Bem. Não sei se essa secretária, Maria Socorro, foi socorrida por alguém, ou se já foi demitida. Não serei irresponsável para, como resposta, optar por uma ou outra alternativa. O certo é que os idosos devem tomar precauções, pois a situação, salvo melhor juízo, como dizem os juristas, quando querem livrar a cara, tá ficando feia pro lado deles. Como tudo se decide em favor do mercado, e aos idosos só interessa o mercado farmacêutico, os nossos queridos velhinhos estão no mato sem cachorro. Só resta aguardar mais essa famigerada reforma em detrimento dos interesses do mais vulnerável.
E, quanto a Manuella D"Ávila, trata-se de uma pessoa extremamente inteligente, de 36 anos, já tendo exercido vários mandatos parlamentares, e que desponta, em face das suas ideias democráticas, como forte candidata à presidência da República. Sabatinada pela FS, na edição de 20.11.2017, respondeu com vigor, coragem e profundidade todas as perguntas que lhe foram feitas. Por um momento, esqueçamos qualquer solução salvacionista. A história tem demonstrado que tem sido desastrosa. Mantenho o título acima, pelas razões óbvias aqui expostas.

*Membro da AML e AIL.