Alguns dados biográficos desse maranhense, cujo nome veio a lume num sarau na casa do amigo e confrade Lourival Serejo, com a auspiciosa lembrança de Saldanha, músico, compositor, poeta e cantor, que sempre abrilhanta o encontro com a sua voz e violão, assessorado pela participação ativa de alguns acadêmicos, que sabem não só escrever bem, mas fazer uso da operística voz, a exemplo do nosso romancista Waldemiro Viana, ou, ainda, de Joaquim Itapary, que não deixa por menos, lembrando de letras das músicas e de acontecimentos pitorescos nos mínimos detalhes.

Voltemos ao maranhense Luiz Reis. Muita gente boa que anda por aí e canta ou gosta de ouvir as músicas que ele fez, desconhece quem seja Luiz Reis, que ele é maranhense e que a canção é de sua autoria.
Nasceu aqui em São Luís, em 31 de março de 1926. Foi batizado com nome de Luiz Abdenago Reis. Morreu no Rio de Janeiro, em 9 de fevereiro de 1980. Iniciou a sua carreira artística musical como pandeirista, para depois firmasse como exímio pianista. Mas também tocava bateria e violão. No começo, integrou alguns conjuntos musicais, apresentando-se em cabarés e escolas de dança. Iniciou a carreira profissional em 1943, em Belo Horizonte, Minas Gerais, para aonde foi com a família após ter passado pelo Rio de Janeiro, onde esteve quando, aos seis anos de idade, saiu de São Luís para a Capital Federal. Em 1944, acabado o período mineiro, fez o seu retorno para o Rio, participando como pianista de programas de rádio, como a Hora do Guri, da Rádio Mauá.
Luiz Reis, esse talentoso maranhense, é um dos personagens principais do livro de Tárik de Sousa, Sambalanço, a bossa que dança - um mosaico, que faz um estudo de um estilo de samba surgido no Rio de Janeiro, a partir do ambiente de bailes e boates, tendo à frente grandes músicos e compositores como Orlandivo, Djalma Ferreira, Ed Lincoln, Luiz Bandeira, João Roberto Kelly, Luiz Reis e outros. Consta no livro que a ida de Luiz Reis para o Rio de Janeiro foi em razão de o seu pai cumprir mandato de deputado federal. Não há dados a respeito do pai de Luiz Reis, que, como parlamentar, levara a família e o filho para a Capital da República. Sabe-se que, como autodidata, teve início a sua carreira musical em Minas Gerais, quando já dominava o piano, o violão, a bateria e o pandeiro. Seu grande parceiro musical foi Haroldo Barbosa, com o qual criou inesquecíveis sucessos, que são até hoje regravados. O samba Devagar com a louça, da autoria dos dois, teve famosos intérpretes, como Elsa Soares, Miltinho e Elis Regina. Apenas para lembrar: Devagar com a louça é um samba de balanço, ou sambalanço, típico, com esta primeira parte: Devagar com a louça / Que eu conheço a moça / Vai devagar, devagar / Eu conheço a moça / Vai devagar / Pra não errar.
Notícia de jornal é outra das canções dos dois parceiros, que foi interpretada por grandes ícones da música brasileira. Elizeth Cardoso gravou em 1960, possibilitando a trajetória de sucesso da dupla. Essa música, Notícia de jornal, tem esses consagrados versos: Tentou contra a existência num humilde barracão / João de tal, por causa de um tal João / Depois de medicada retirou-se pro seu lar / Aí, a notícia carece de exatidão / O lar não mais existe, ninguém volta ao que acabou / Joana é mais uma mulata triste que errou / Joana errou de João / Ninguém notou, ninguém morou / Na dor que era o seu mal / A dor da gente não sai no jornal. Chico Buarque cantou essa música e muita gente pensou que era dele, porque retrata um drama do cotidiano, que Chico sempre soube captar, desde Pedro pedreiro. Lembram? O último verso é bem buarqueano, embora não o seja: a dor da gente não sai no jornal.
O acervo musical de Luiz Reis é de imensa qualidade. Alguns resgates lhe estão sendo feitos, a partir do livro de Tárik de Sousa. Ainda assim, as informações são modestas. Esse maranhense merece ser mais estudado. Recebeu de Nássara, compositor e caricaturista, o apelido de Cabeleira, dadas as suas exuberantes madeixas. Considerado um dos maiores boêmios do Rio nos anos 60 e 70, presente nos bares de piano da Zona Sul carioca, deixou uma obra eterna.  Vejamos algumas: Faço um lé, lé, lé (Ninguém, ninguém carrega nega / Eu trouxe a nega pra sambar), Palhaçada, conhecida por Cara de Palhaço (Cara de palhaço / Pinta de palhaço / Roupa de palhaço / Foi este o meu amargo fim), Só vou de mulher (Eu acredito que pescaria / Seja o esporte ideal / Descansa o espírito / E sossega um homem temperamental / Mas se quiserem estragar minha alegria / É só me carregar pra pescaria), Canção da manhã feliz (Luminosa manhã / Pra que tanta luz / Dá-me um pouco de céu / Mas não tanto azul), Meu nome é ninguém (Foi assim / A lâmpada apagou / A vista escureceu / Um beijo então se deu / E veio a ânsia louca), Nossos momentos, que, na divina interpretação de Elizeth, ficou para a eternidade. Trata-se de uma das mais belas canções românticas da música brasileira. Confira os dois primeiros versos: Momentos são iguais àqueles em que eu te amei / Palavras são iguais àquelas que eu te dediquei / Eu escrevi na fria areia, um nome para amar / O mar chegou, tudo apagou / Palavras levam o mar). Este é um pedacinho de Luiz Reis, um maranhense bom de samba. Como em sua música, Tudo é magnífico!