Costumo sempre alardear aos quatro cantos, por aonde ando ou passo, que Imperatriz, esta belíssima cidade banhada pelo rio Tocantins, foi a minha Fênix. - uma ave mitológica grega, símbolo da morte e do renascimento, que morria e renascia das cinzas. Nesta terra tocantina, por várias razões e circunstâncias, de muitos conhecidas e de outros, não, consegui renascer para uma outra vida. Esses fatos têm muita importância a mim e a todos aqueles com os quais convivi. Foram muitas lutas no campo jurídico como advogado e no exercício da função, à época bem difícil, de presidente da Subseção da OAB, onde os advogados, ainda em número restrito, travaram combates árduos contra as mazelas das incertezas que nos contaminavam sistemicamente. Esse combate, o bom combate travado, se estendeu contra a pistolagem oficializada, que ceifava vidas de desafetos à luz do dia, valendo a redundância, quase que diariamente. Mas todos nós enfrentamos, em que pesem algumas omissões que não fizeram falta a essa caminhada cívica que muito ajudou esta cidade a cada vez mais se humanizar. Hoje, uma grande metrópole, uma catedral da educação, com excelentes escolas e um centro de ensino superior avidamente procurado pelos jovens que pretendem acomodar-se, com mais conforto e segurança, no alto da pirâmide social.
Foram bons combates. E bons tempos. Poderia aqui dissertar um número imenso desses desbravadores da socialização desta nossa terra do Frei. São muitos. Alguns, como a Fênix da mitologia, ainda se encontram renascidos para contar a história de Imperatriz. O advogado Agostinho Noleto é um deles. Sempre voltado pára as lutas sociais. Poderia ter sido um grande constituinte. Mas o povo, na sua independência, às vezes cega, preferiu optar por um outro candidato. No jornalismo, deve ser sempre lembrado Jurivê de Macedo, que editou este jornal O Progresso durante anos, comentando, com o sabor do humor cáustico, mas necessário, os fatos, e dando ênfase à notícia. Esta Crônica da Cidade teve seu aval e começou a ser editada desde do ano de 1975, ou 1976. Não lembro. Veira, José Matos Vieira, sempre ao seu lado de Juredo, dando sustentação e vida a este jornal.
Fiquene, assim o chamava nos nossos contatos pessoais. Um homem que deveria ser reverenciado por esta sagrada terra, pois o mestre, como também costumávamos chamá-lo, introduziu o vírus benéfico e propagador da educação. A Faculdade de Ensino Superior de Imperatriz, bancada com os parcos recursos da municipalidade, foi o embrião de tudo. Lá naquele espaço se edificou as concepções iniciais de uma educação voltada para o estudo, para o pensar e para a reflexão. Deu-se, sob a batuta do mestre Fiquene, o grande passo de libertação de Imperatriz para realização de todos os seus sonhos, ora sendo construídos com outras perspectivas. Naquela Faculdade, convivi com eminentes e dedicados professores, como Eline, Liratelma, Arlene, Osvaldo, Maria José, Aparecida, Tavares, Oscar, Terezinha, Medeiros e a eterna secretária Lia. Era um mundo de sonhos. Vejam bem: eu dava literatura brasileira numa sala, e o mestre Fiquene, língua portuguesa numa outra, contígua. 
O curso de Direito, como extensão da Universidade Federal do Maranhão, chegou a Imperatriz pelas mãos benfazejas do meu querido professor José Maria Ramos Martins, com o aval e a força idealista de Fiquene. Começou o curso com aulas aqui e acolá. Não tinha um cantinho seu. Só eu. Era ainda um sonho estando em processo hercúleo de realização. Os professores, Agostinho Marques e outros, vinham de São Luís, para ministrar as disciplinas do curso. A UFMA resolveu fazer concurso para contratação de professores. Participei do certame com outros companheiros, entre os quais Júlio Aires, então juiz de direito de Imperatriz. Fomos aprovados. E iniciamos a árdua missão de dar aulas. Era a primeira turma do curso de Direito, constituída de brilhantes alunos, como Lamarck, Sirlene, Luís Carlos, Osvaldo Graça, Clêudes de Jesus, Salu, Guimarães Filho, Graça Carvalho. Pelo que sei, muitos seguiram a carreira jurídica; outros não. Mas assim é a vida.
Essas são algumas lembranças, com fortes pigmentos de saudades. Osvaldo Graça, além de ter sido meu aluno, trabalhou comigo no meu escritório. Estudioso, dedicado e responsável. Graça Carvalho exerceu a magistratura e se aposentou. Tomei conhecimento do falecimento de Clêudes, grande amigo. Expresso aqui a minha saudade de ter convivido com ele em sala de aula e posteriormente quando precisei dos seus serviços de advocacia, prestados por ele com extrema competência. Devo muito do que sou a todos esses alunos. O professor nada mais é do que um eterno estudante privilegiado. 
Lamento que o ensino jurídico venha sendo contaminada pelo estrelismo e autoritarismo, com traços de imbecilidade. O notório procurador Deltan Dellagnal propagou esta asneira: - A questão jurídica é filigrana dentro do contexto maior que é político. Essa é a noção desvairada da politização do Direito e da Justiça. Aos meus alunos nunca disse tal besteira. E me recuso a aceitá-la. Minhas doces lembranças nesses pedaços de saudades.

* Membro da AML e AIL.